quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Viridiana (1961)

Inspirado por uma pintura de uma santa pouco conhecida e por uma fantasia erótica sobre como fazer amor com a rainha de Espanha enquanto ela estivesse drogada, Buñuel constrói o seu segundo filme da década de 60 – o primeiro foi “La Joven” – baseado, mais uma vez, em ideais espirituais que são eventualmente destronados pela estupidez humana.

Antes de tomar os votos piedosos, Viridiana (Silvia Pinal) é convocada para a casa do seu velho tio Don Jaime (Fernando Rey). Embora não o conheça bem, Viridiana implora à Madre Superior que a deixe ficar no convento, mas é-lhe lembrado que Don Jaime foi o seu benfeitor e que esta seria a última oportunidade para o visitar. Ironicamente, a Madre Superior sugere que Viridiana lhe mostre a sua afeição.

Ao que parece Viridiana teria uma intuição correcta ao não querer sair do convento, uma vez que o seu tio tem planos para ela e pede-lhe que fique na sua propriedade. Depois de explicar como a sua mulher faleceu na noite de casamento, consegue que Viridiana vista o vestido de casamento e, depois de a drogar com o auxílio da prestável empregada Ramona (Margarita Lozano), na manhã seguinte convence-a que tiveram relações sexuais, impedindo-a de voltar ao convento, pela vergonha. Mesmo assim, Viridiana parte mas é impedida de apanhar o autocarro pela notícia do suicídio do seu tio.

O velho aristocrata espanhol deixa em testamento a sua propriedade a Viridiana e ao seu filho Jorge (Francisco Rabal) – um verdadeiro contraste de caracteres. Enquanto Jorge é muito prático e com jeito para negócios, Viridiana pretende usar a mansão de família como abrigo para desalojados e vagabundos. Estes acabam por tirar vantagem da sua generosidade, que conduz o filme à sua sequência mais memorável – uma imitação hilariante da Última Ceia de Da Vinci acompanhada pelo Messias de Händel na orgia dos mendigos.

Embora o banquete de mendigos seja a cena mais notória do filme, há um número de outras cenas que também se destacam: o sonambulismo de Viridiana, a sua sexualidade reprimida ilustrada pela cena com a vaca leiteira e o fetiche de pés de Don Jaime. Mas a cena que mais se destaca é quando Jorge compra o cão a um camponês, de maneira a salvá-lo de maus tratos. Esta cena é retratada como uma anedota mas reforça a visão de Buñuel de como é impossível fazer uma diferença significativa neste mundo.

A cena mais marcante que escapou aos olhos mesquinhos da censura espanhola – por esta altura vive-se o franquismo em pleno e ao longo de todo o filme já foram abordadas explicitamente as questões do incesto e da violação – foi a cena final, onde é dada a ilusão de uma menage a trois.

Por esta altura Buñuel tinha 60 anos e nos últimos 10 anos tinha realizado cerca de 18 filmes. Fora quatro vezes a Cannes e já tinha sido entrevistado pelas melhores revistas de cinema. Com Viridiana teria uma entrada em grande nos sixties, com o pé direito

7/10

Pedro Xavier

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