“O Escafandro e a Borboleta” é um daqueles filmes que, tendo estreado no final de Outubro do ano passado, passou completamente despercebido à maioria do público, exceptuando aos amantes do cinema francês. Confesso que fui um dos muitos a quem este filme passou ao lado mas, passados alguns meses, como voltou às luzes da ribalta através da cerimónia dos Oscar - ainda por cima numa categoria importante como a de Melhor Realização – não pude deixar de perder um domingo à tarde para me dedicar à sua visualização.
Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) era o editor parisiense da revista Elle até ter sofrido um acidente cerebral que o deixou totalmente paralisado, com a excepção de um olho. Para além de ter sido um playboy, também fora um pai excepcional, um marido irresponsável e um grande escritor. Nos primeiros minutos o realizador Julian Schnabel mostra-nos imagens difusas e desfocadas, acompanhadas pelas vozes dos médicos e enfermeiras que ajudam o espectador a colocar-se na posição de Jean-Do (só o ouvimos em voz off), após ter despertado de um coma de três semanas. Jean-Do recebe a terrível notícia de que sofre de um locked in syndrome, provocado pelo acidente cerebral. Comunicando exclusivamente pelo olho sobrevivente, Jean Do consegue “ditar” frases seguidas que revelam a sua experiência no cárcere que se tornou o seu corpo, comparando-o a um corpo fechado num escafandro, impossibilitado de comunicar. As frases que ditou constituem a autobiografia na qual se baseia este filme e que foi publicada dois dias antes do seu coração ter sucumbido às consequências de uma pneumonia.
A partir do momento que ultrapassa a confusão inicial do estado de Bauby, o filme avança alternando entre as cenas que vive no seu estado estático e as lembranças da sua antiga vida, por vezes conjugando-as em fantasias onde participam as belas enfermeiras que o acompanham. Estas são imagens representativas da personalidade de mulherengo que outrora foi. Na maioria das memórias que invoca intervêm antigas amantes ou o pai (uma interpretação comovente de Max Von Sydow), fantasias coloridas – as borboletas – do que Bauby realmente viveu.
Julian Schanel juntou-se ao argumentista Ronald Harwood e numa palete misturou as cores das borboletas, revelando uma realização audaciosa, alternada entre momentos confusos vanguardistas e outros de uma beleza comovente, de maneira a trazer a história de Bauby ao grande ecrã. Surpreendente é a forma como Schnabel filma os momentos mais melodramáticos, em especial os da visita da sua mulher (Emmanuelle Seigner) e dos filhos, um telefonema do pai e outro da mulher pela qual deixou a sua família. Mathieu Amalric tem, talvez, a melhor interpretação que temos visto em filmes do ano passado, representando uma personagem que a todo o custo se tenta agarrar às pequenas coisas que o ainda tornam humano.
“O Escafandro e a Borboleta” é um filme que nos faz pensar na efemeridade da vida e um grande momento de cinema, especialmente pelos gritos de Bauby, que não são ouvidos por ninguém, excepto nós.
8/10
Pedro Xavier
Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) era o editor parisiense da revista Elle até ter sofrido um acidente cerebral que o deixou totalmente paralisado, com a excepção de um olho. Para além de ter sido um playboy, também fora um pai excepcional, um marido irresponsável e um grande escritor. Nos primeiros minutos o realizador Julian Schnabel mostra-nos imagens difusas e desfocadas, acompanhadas pelas vozes dos médicos e enfermeiras que ajudam o espectador a colocar-se na posição de Jean-Do (só o ouvimos em voz off), após ter despertado de um coma de três semanas. Jean-Do recebe a terrível notícia de que sofre de um locked in syndrome, provocado pelo acidente cerebral. Comunicando exclusivamente pelo olho sobrevivente, Jean Do consegue “ditar” frases seguidas que revelam a sua experiência no cárcere que se tornou o seu corpo, comparando-o a um corpo fechado num escafandro, impossibilitado de comunicar. As frases que ditou constituem a autobiografia na qual se baseia este filme e que foi publicada dois dias antes do seu coração ter sucumbido às consequências de uma pneumonia.
A partir do momento que ultrapassa a confusão inicial do estado de Bauby, o filme avança alternando entre as cenas que vive no seu estado estático e as lembranças da sua antiga vida, por vezes conjugando-as em fantasias onde participam as belas enfermeiras que o acompanham. Estas são imagens representativas da personalidade de mulherengo que outrora foi. Na maioria das memórias que invoca intervêm antigas amantes ou o pai (uma interpretação comovente de Max Von Sydow), fantasias coloridas – as borboletas – do que Bauby realmente viveu.
Julian Schanel juntou-se ao argumentista Ronald Harwood e numa palete misturou as cores das borboletas, revelando uma realização audaciosa, alternada entre momentos confusos vanguardistas e outros de uma beleza comovente, de maneira a trazer a história de Bauby ao grande ecrã. Surpreendente é a forma como Schnabel filma os momentos mais melodramáticos, em especial os da visita da sua mulher (Emmanuelle Seigner) e dos filhos, um telefonema do pai e outro da mulher pela qual deixou a sua família. Mathieu Amalric tem, talvez, a melhor interpretação que temos visto em filmes do ano passado, representando uma personagem que a todo o custo se tenta agarrar às pequenas coisas que o ainda tornam humano.
“O Escafandro e a Borboleta” é um filme que nos faz pensar na efemeridade da vida e um grande momento de cinema, especialmente pelos gritos de Bauby, que não são ouvidos por ninguém, excepto nós.
8/10
Pedro Xavier
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