terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

80ª Edição dos Óscares - Análise e Vencedores

O texto seguinte foi publicado no blog Deuxieme a 25 de Fevereiro de 2008, com o título: «A Pluralidade dos Óscares».

A 80ª edição dos Óscares – que tratou de premiar os melhores filmes de 2007 – ocorreu ontem no Kodak Theatre, uma vez mais, com grande pompa e circunstância. Jon Stewart foi o anfitrião da cerimónia, que foi uma das mais curtas (cerca de 3 horas e 15 minutos), mas soube agarrar o seu papel e proporcionou-nos vários momentos bons de televisão (a cena do iPhone com o Lawrence da Árabia e o “Óscar Bebé” e as suas nomeadas e vencedora foram delirantes). Perante um constante elogio e referência às edições anteriores, este, contudo, é (mais) um ano de viragem e de novas realidades.

O ponto mais importante centra-se na questão pluralista da arte que é celebrada e homenageada. Cada vez mais as grandes distribuidoras em Hollywood repensam a indústria, e todo o seu conceito do “That’s Entertainment!”, que adquire hoje novas formas criativas, como a noite passada nos demonstrou. Se é certo que o cinema americano ocupa o mais importante papel na sétima arte a nível de espectáculo e “showbizz”, é então certo que todas as escolas e formatos cinematográficos do resto do mundo fazem falta para marcar presença neste grande conceito. Nessa medida, é notório o crescimento plural nas várias áreas do cinema, ou seja é cada vez maior (e mais importante) a influência exterior artística – a nível do visual, da escrita, da representação e outras categorias – dentro do próprio cinema dito “americano clássico”, que se reinventa a cada ano sobre diversas formas (Haverá Sangue, Este País Não É Para Velhos e No Vale de Elah são os mais recentes exemplos a ter em conta).

Como tal, é com alegria que vemos Javier Bardem dirigir o seu (justíssimo) prémio para Espanha, país de grande cinema e autores; por isso também nos comovemos com a alegria inesperada de Marion Cotillard a receber o mais alto prémio feminino, num registo fílmico “poeticamente europeu”. Preferências de parte, contava com a consagração de Paul Thomas Anderson no prémio para melhor obra, sobretudo porque acho que Haverá Sangue "seria" o "justo" vencedor. No entanto, é-me impossível empregar a palavra "justo" desta forma, pois Este País Não É Para Velhos é uma obra-prima (possivelmente o melhor filme dos Coen, seguido de Sangue por Sangue e Fargo), e o prémio assenta-lhe que nem uma luva. Na verdade, não existia nenhum nomeado que não merecesse a estatueta dourada na categoria de Melhor Filme.

Em suma, Hollywood já não se faz valer exclusivamente da “prata da casa”, e reconhece, sem limites nem precedentes, a vida cinematográfica da actualidade, sem constrangimentos nacionais, ideológicos, religiosos ou políticos. E tudo isso nos encaminha para um futuro cada vez mais promissor, onde se alargam fronteiras e horizontes sobre o mundo do cinema. Por tudo isto, ontem foi-nos relembrado que os Óscares, se dúvidas houvesse, não são americanos, são do mundo inteiro.

Aqui vos deixo os Vencedores da 80ª Cerimónia:

Melhor Filme: Este País Não É Para Velhos
Melhor Actor Principal: Daniel Day-Lewis
Melhor Actriz Principal: Marion Cotillard
Melhor Actor Secundário: Javier Bardem
Melhor Actriz Secundária: Tilda Swinton
Melhor Realização: Joel e Ethan Coen
Melhor Argumento Original: Juno
Melhor Argumento Adaptado: Este País Não É Para Velhos
Melhor Fotografia: Haverá Sangue
Melhor Montagem: Ultimato
Melhor Direcção Artística: Sweeney Todd
Melhor Guarda-Roupa: Elizabeth - A Idade do Ouro
Melhor Caracterização: La Vie en Rose
Melhor Banda Sonora Original: Expiação
Melhor Canção Original: Once
Melhor Sonoplastia: Ultimato
Melhor Edição de Som: Ultimato
Melhores Efeitos Especiais: A Bússola Dourada
Melhor Filme de Animação: Ratatui
Melhor Filme Estrangeiro: Os Falsificadores
Melhor Documentário: Taxi to the Dark Side
Melhor Curta Documental: Freeheld
Melhor Curta Acção: Le Mozart des Pickpockets
Melhor Curta Animação: Peter & the Wolf
Óscar Honorário: Robert Boyle


Francisco Toscano Silva

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