sexta-feira, 11 de abril de 2008

A Casa Quieta

O nome de Rodrigo Guedes de Carvalho é bem conhecido de todos nós certamente como o de um pivô e não como o de um romancista. O apresentador de informação da estação televisiva SIC, recentemente convertido a ficcionista, tem já vários romances editados. A estreia foi dada com “Daqui a Nada” (1992) vencedor de um prémio de Jovens Talentos, o primeiro de quatro romances que lhe seguiriam. Surgiram, já no século XXI, “A Casa Quieta” (2005), “Mulher em Branco” (2006) e “Canário” (2007). Foi também em 2005 que ficou associado ao filme de terror “Coisa Ruim” por ter assinado o argumento do filme co-realizado pelo irmão Tiago Guedes.


Aqui em análise está a casa que quieta é agitada pelo turbilhão de sentimentos do casal Salvador e Mariana, lisboetas de classe média alta, não querendo filhos aproveitam para viajar frequentemente e, por vezes, visitar família instalada no Canadá. A casa está vazia. A maior parte do romance decorre em Lisboa, onde a cidade iluminada pelo Tejo se torna totalmente cinzenta para apimentar mais um imaginativo e depressivo drama suburbano.


A obra é organizada por construções e desconstruções de capítulos, analepses e prolepses que, parecendo inicialmente confusas, trazem uma estranha sensação estarmos perante um objecto sedutor (e é!), intrigante e coeso no seu enredo que premeia o leitor, tornando-o cúmplice pela simplicidade do entrecruzar inteligente de histórias. O modo de cuidar das palavras e estruturar a sua prosa está muito longe de desapontar, mas não é de todo a mais original. Sente-se, portanto, a influência de vários autores, mais particularmente a do ex-médico escritor António Lobo Antunes, que Rodrigo Guedes de Carvalho reconhece como um dos melhores e uma influência literária permanente. E isso nota-se ao serem revisitados os temas da Guerra Colonial (a loucura pós-guerra do irmão), o relacionamento rígido com o pai, os desencontros de amor, a solidão individual, a morte, as idas às putas, etc.


No entanto, a ideia de ser uma colagem de uma maneira de escrever é totalmente desmentida a partir do momento em que a cada personagem é atribuído um estilo distinto – por vezes, capítulos seguidos tornam-se desafiantes à capacidade de concentração do leitor para acompanhar quem é quem.


O segundo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho é assombroso na sua eloquência, inovador na estética e repleto de verdadeiras emoções cáusticas, reveladoras da maneira de sentir de cada um de nós.


"Pudéssemos viajar, não para lugares longínquos de paisagens tremendas, não ao encontro de outros povos, culturas e cheiros, outras gentes e sabores, mas ao interior uns dos outros." - Rodrigo Guedes de Carvalho

Pedro Xavier

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