O nome de Rodrigo Guedes de Carvalho é bem conhecido de todos nós certamente como o de um pivô e não como o de um romancista. O apresentador de informação da estação televisiva SIC, recentemente convertido a ficcionista, tem já vários romances editados. A estreia foi dada com “Daqui a Nada” (1992) vencedor de um prémio de Jovens Talentos, o primeiro de quatro romances que lhe seguiriam. Surgiram, já no século XXI, “A Casa Quieta” (2005), “Mulher em Branco” (2006) e “Canário” (2007). Foi também em 2005 que ficou associado ao filme de terror “Coisa Ruim” por ter assinado o argumento do filme co-realizado pelo irmão Tiago Guedes.
Aqui em análise está a casa que quieta é agitada pelo turbilhão de sentimentos do casal Salvador e Mariana, lisboetas de classe média alta, não querendo filhos aproveitam para viajar frequentemente e, por vezes, visitar família instalada no Canadá. A casa está vazia. A maior parte do romance decorre em Lisboa, onde a cidade iluminada pelo Tejo se torna totalmente cinzenta para apimentar mais um imaginativo e depressivo drama suburbano.
A obra é organizada por construções e desconstruções de capítulos, analepses e prolepses que, parecendo inicialmente confusas, trazem uma estranha sensação estarmos perante um objecto sedutor (e é!), intrigante e coeso no seu enredo que premeia o leitor, tornando-o cúmplice pela simplicidade do entrecruzar inteligente de histórias. O modo de cuidar das palavras e estruturar a sua prosa está muito longe de desapontar, mas não é de todo a mais original. Sente-se, portanto, a influência de vários autores, mais particularmente a do ex-médico escritor António Lobo Antunes, que Rodrigo Guedes de Carvalho reconhece como um dos melhores e uma influência literária permanente. E isso nota-se ao serem revisitados os temas da Guerra Colonial (a loucura pós-guerra do irmão), o relacionamento rígido com o pai, os desencontros de amor, a solidão individual, a morte, as idas às putas, etc.
No entanto, a ideia de ser uma colagem de uma maneira de escrever é totalmente desmentida a partir do momento em que a cada personagem é atribuído um estilo distinto – por vezes, capítulos seguidos tornam-se desafiantes à capacidade de concentração do leitor para acompanhar quem é quem.
O segundo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho é assombroso na sua eloquência, inovador na estética e repleto de verdadeiras emoções cáusticas, reveladoras da maneira de sentir de cada um de nós.
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