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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Belle de Jour

Belle de Jour é uma obra francesa, do aclamado realizador Luis Buñuel, datada de 1967, com a bestial Catherine Deneuve no papel principal.

Com um título algo irónico (uma subtil referência ao termo 'belle-de-nuit', que significa prostituta em francês), este filme conta-nos a história de uma mulher que decide passar as suas tardes num bordel, como prostituta, enquanto o marido trabalha.

Todo o teor erótico reside apenas e somente na imaginação de Séverine Serizy (a personagem principal) que, embora não consiga ter contacto físico com o marido, tem fantasias masoquistas muito regulares que, de alguma forma, a intimidam. Decide, no entanto, dar aso a esses desejos contidos, e procura o bordel de Madame Anais (Geneviève Page), onde trabalha algumas tardes, apenas durante o horário de trabalho do seu marido Pierre Serizy (Jean Sorel).

O arco da personagem principal é extremamente interessante, passando de uma pessoa apagada e reprimida a alguém confiante e radiante. E ainda que o destino, no clímax do filme, não lhe sorria, Séverine mantém a compostura e nunca deixa de ser uma daydreamer.

Buñuel é um mestre no que toca a fazer filmes que nos falem sobre os segredos da natureza humana. Neste caso, é de realçar as passagens feitas entre os sorrisos de Deneuve e as divagações selvagens e sexuais da sua fértil imaginação.

Há, igualmente, uma profunda crítica à sociedade burguesa, implicita nas entrelinhas, em diversas cenas.

O filme foi premiado no Festival de Veneza, em 1967.




Sara Toscano

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Poster - Blowup (1966)


Blow Up – A História de um Fotógrafo foi o único sucesso comercial de Antonioni. Ganhou o primeiro prémio em Cannes, a Palma de Ouro, o prémio de melhor filme da National Society of Film Critics e nomeações para o Oscar de Melhor Realizador e Argumento.

Através da máquina fotográfica (ou, caso se queira, através da câmara de Antonioni), há a descoberta do motivo, há a falsa sugestão de se resolver um crime e o impacto da dedução errada. O fotógrafo Thomas (David Hemmings) é um fotógrafo profissional de grande sucesso. No seu estúdio fotografa a modelo Verushka. Tal como se vê na imagem, imitam os rituais de namoro e acasalamento de homens e mulheres, mas a relação a transitória e falsa, tal como tudo o que lhe acontece. Thomas demonstra uma falta de interesse por tudo o que lhe rodeia: um álbum de fotografias inacabado; sessões de fotografia a modelos de ressaca; adolescentes que querem ser modelos; sexo oferecido em troca de um misterioso rolo de fotografias.

É partir disto que Thomas ganha algum alento para a sua vida (bebe, droga-se permanentemente e é supostamente divorciado?). Por não saber o que contém o rolo que fotografou, revela as fotografias e amplia-as (blow up). Um factor de destaque é o da tecnologia e a sua incerteza. A dita permite ao protagonista invadir a privacidade alheia, moralmente condenável. No entanto, o artista ou a personagem é forçada a ver ou a questionar-se se o que realmente viu aconteceu. Daí que o seu quarto escuro se torne numa lente de ampliação da realidade.

Aquando o desfecho do filme, o cadáver que Thomas vê nas fotografias já não existe e, como já não nada vê (existe), alinha num jogo de mimos atirando uma bola fictícia a dois jogadores de ténis, desaparecendo da imagem ao fundo do parque.

Pedro Xavier

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Poster - 2001: A Space Odyssey (1968)

Poderá não existir outro poster tão enigmático como o filme que representa. O que representa um olho? E o feto humano? 2001: Uma Odisseia no Espaço foi, é e continuará a ser um filme absolutamente intemporal na sua vertente filosófica, metafísica ou mesmo transcendente. Um dos maiores desafios com que Stanley Kubrick se deparou na pré-produção foi como encontrar maneira de representar coisas que nunca antes tinham sido vistas. Foi depois de ver o documentário apresentado pela NASA, To the Moon and Beyond, que Kubrick reuniu a equipa de produção para avançarem para a realização dos efeitos especiais do filme (Oscar de 1968).

Apesar de Kubrick e Arthur C. Clarke trabalharem em separado, respectivamente, na elaboração do argumento e do livro de título homónimo, ambos se reuniam permanentemente para criarem um todo coeso. Em resumo, a história reunida teve como missão criar um poema visual sobre a evolução do Homem. Muitas das cenas com diálogos e cenas que representavam a vida dos astronautas foram cortadas ao longo da produção e, por isso, 2001: A Space Odyssey é um filme não-verbal, um filme intelectualmente verbalizado de forma poética e filosófica.

Uma das questões que o filme levanta, é acerca da natureza humana. O filme termina com o olhar enigmático e ambíguo do Feto Astral - um olhar sobre a Terra. Tal como acaba, o filme inicia com o início da Terra, perdoe-se o pleonasmo, o amanhecer do Homem: o macaco assassino que mata na luta por um poço de água e pela sobrevivência do seu grupo. E a questão põe-se: irá o Homem mudar ou continuar igual?


Pedro Xavier

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Poster - Une Femme est une Femme (1961)

''I don't know if it's a comedy or a tragedy, but in any case it's a masterpiece.''

Quem disse esta frase acerca do filme Une Femme est Une Femme foi, nem mais, nem menos, do que Anna Karina, a protagonista, mulher e musa do realizador francês Jean-Luc Godard. Anna Karina tem nesta longa-metragem um papel improvável: interpreta uma stripper que, com enorme vontade de ter um bebé, dorme com o melhor amigo (Jean-Paul Belmondo) do seu namorado (Jean-Claude Brialy). Pouco convencional na história e na estrutura que a organiza, Karina é o objecto de fixação da câmara de Godard. Aqui não fica em causa a qualidade artística e técnica de Une Femme est Une Femme, mas sim o desempenho da actriz como Mulher, como musa, fonte de inspiração para a arte. Anna Karina está para Godard assim como Monica Vitti está para Antonioni, Liv Ullmann para Bergman ou Diane Keaton para Woody Allen. Não terá sido por acaso que, no poster italiano do filme, o único foco de interesse terá sido, naturalmente, Anna Karina. É o suficiente para dizer: uma mulher, é uma mulher.


Pedro Xavier

terça-feira, 10 de junho de 2008

Poster - Le Mépris (1963)

Considerado um dos pais mais influentes e audaciosos da Nouvelle Vague, Jean Luc Godard apresentou, em 1961, o “Desprezo”. Godard procurava, tal como os todos os realizadores que marcaram este emergente período da história do cinema (Louis Malle, Alain Resnais, François Truffaut, Eric Rohmer), maior liberdade de produção e encenação e, também, uma autenticidade mais acentuada das personagens, afirmando a especificidade da linguagem cinematográfica, a qual se achava então muito agarrada às convenções teatrais.

Devido ao facto de ter sido crítico na mítica revista de cinema Cahiers du Cinéma, podem ser encontradas em “Desprezo” inúmeras referências fílmicas a Chaplin, Griffith, Hawks e Minelli, entre outros. Não é por mero acidente que o já veterano realizador alemão Fritz Lang (“M”, “Metropolis”), faz dele próprio no filme de Godard. Embora seja a partir da personagem de Michel Piccoli que a intriga desperta, é em torno de Camille (Brigitte Bardot) que ela se desenvolve. E o desprezo? É o que Camille sente pelo marido… Este filme é um dos mais inteligentes, sofisticados e visualmente mais apetecíveis do realizador francês.




Pedro Xavier

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Poster - Lolita (1962)

«Como é que fizeram um filme de Lolita?» Esta era a pergunta do poster e do trailer de 1962. Nesse ano Stanley Kubrick («2001 Uma Odisseia No Espaço», «A Laranja Mecânica», «Eyes Wide Shut») apresentou a adaptação do romance proibido de Vladimir Nabokov e entregou os principais papéis a James Mason e a Sue Lyon, a heroína do romance. A origem do nome para a mulher-criança «Lolita» é «lolipop» (chupa-chupa), como o vermelho que Sue Lyon chupa enquanto usa óculos de sol em forma de coração.

Após um minucioso trabalho, Stanley Kubrick conseguiu iludir os olhos cegos da censura e apresentar um guião, mesmo assim, absolutamente erótico (era isso que estava em causa) da obra do escritor russo.

Pedro Xavier

quinta-feira, 29 de maio de 2008

The Thomas Crown Affair (1968)

O guião de Alan Trustman pode ser resumido em poucas palavras. Thomas Crown (Steve McQueen), milionário enfadado pela sua vida sistémica e rotineira, não só arquitecta um plano (infalível) de assalto a um banco, como ainda controla à distância um bando de rufias (que nunca o viram) para executar o trabalho. Vicky Anderson (Faye Dunaway), investigadora de seguros, suspeita de Crown, apesar de não conseguir encontrar qualquer prova que o implique ao crime cometido. A caça abre, a caçadora avança para a sua presa e eis que algo vai contra os planos de ambos: acabam inevitavelmente apaixonados! Até ao final do filme ficamos na dúvida qual dos dois vai prevalecer: o amor ou o sentido do dever.

Depois do sucesso de In Heat of the Night (1967), vencedor de cinco Oscar, foi dada a Norman Jewison total liberdade artística para realizar o seu próximo filme. Tendo como pano de fundo este cenário, deu asas à imaginação e apresentou nos finais dos anos 60 uma estética inovadora representativa de uma narrativa muito própria que viria a tornar-se comum nas décadas que lhe seguiriam: a divisão do ecrã em múltiplas partes (ainda hoje se pode ver isso na série 24). De facto, Jewison deu primazia à estética em detrimento do conteúdo narrativo. O realizador passa a imagem da superficialidade da vida de Crown, que deambula entre o campo e mundo elegante da cidade, entre os desportos e leilões de arte, sempre rodeado de belas mulheres nos seus mundanos chapéus e automóveis topo de gama e, duma maneira secundária, põe de lado os pormenores do crime organizado e todos os meandros que o regem.


Se esta é uma face da moeda, a outra é o jogo amoroso de gato e rato pelos protagonistas e, está nas suas interpretações, o grande trunfo de Jewison. Vicky serve na perfeição, como uma luva, ao estilo elegante e charmoso de Faye Dunaway. Se Faye poderia ser substituída, o mesmo não se pode dizer de Steve McQueen. Thomas Crown é McQueen e McQueen foi considerado o king of cool. Está tudo dito. As personagens revelam-se (ainda que indirectamente) num jogo de sedução sofisticado, cínico e romântico, como nunca antes visto, através de um tabuleiro de xadrez. Nesta caça, a maioria das vitórias e das derrotas não são contabilizadas. Nunca sabemos, ao certo, quem é o rato e quem é o gato. Thomas joga contra todos – a polícia, Vicky e ele próprio. O jogo de Vicky, por outro lado, apesar de ter um único objectivo, oferece um risco pessoal elevado, porque não há maneira de vencer este jogo. Se derrotar Thomas, perde-o.



Tudo em Thomas Crown Affair é um jogo, desde a maneira em como as personagens interagem entre si, até à forma em como o realizador engana o espectador. Ao tom simpático e ligeiro que acompanha todo o filme sucede um gosto amargo da reviravolta final. Jewison admitiu, numa entrevista, a influência do cinema europeu, mais concretamente da Nouvelle Vague, algo que se torna óbvio pela cena final.

A título de resumo, e ignorando todos os lugares-comuns e erros cometidos, o que realmente se vê é a interacção entre as duas personagens, a química sexual presente durante todo o filme, num ambiente repleto de estilo e ostentação.



Pedro Xavier

quinta-feira, 6 de março de 2008

Repulsion (1965)

Caroline (Catherine Deneuve) é uma jovem rapariga loira que trabalha como manicura num salão de beleza de Londres e vive num mundo aparentemente dominado por mulheres. Partilha o apartamento com a irmã Hélène (Yvonne Furneaux) e, para além desta, tem apenas contacto humano com as colegas do salão e as clientes idosas, cujas faces parecem mumificadas pelos cremes de beleza. No entanto, os homens estão por todo o lado: no trabalho (nos relatos das colegas que se queixam do seu interesse em apenas uma coisa) e em casa.

Caroline está deprimida e repugnada com tudo à sua volta. Olha com repulsa para as faces lamacentas das clientes; repele um almoço de fish and chips; quando chega a casa, fica repugnada com Michel (Ian Hendry), o amante casado da irmã. Quando têm relações sexuais, Caroline não consegue dormir, ficando acordada, enojada com os gemidos provenientes do quarto adjacente.

Os homens, para Caroline, são uma ameaça permanente. Impossibilitada de revelar os seus sonhos a quem quer que seja, começa a confundir a realidade com esses sonhos a partir do momento em que Helène e Michel partem para Itália, deixando-a sozinha em casa. Começa então a alucinar e a ter pesadelos que nos mostram a sua solidão e repressão sexual.

Gradualmente, o mundo à volta de Caroline começa a mudar. Reflectida numa chaleira, a sua cara é monstruosamente defeituosa; um coelho esfolado numa travessa parece-se com um feto humano; as rachas e fendas nas paredes começam a abrir-se, saindo delas braços que a agarram, o que a leva a imaginar uma violação. O mundo exterior à sua mente reflecte os horrores que a assombram.

"Repulsion" é o primeiro filme em inglês de Polanski e é uma obra assustadora e perturbante, não só pelas evocações do pânico sexual – um ano antes Hitchcock também apresentou Marnie (1964) – mas também pelo uso do som, num ambiente expressionista a preto e branco, que leva à criação do apartamento onde decorre a acção como sendo a representação de uma consciência perturbada e atormentada. Este é um trabalho austero, assustador e intemporal, com poucos diálogos mas que impõem um medo inteligentemente desconcertante e onde se mostra a quebra psicológica que Deneuve apresenta numa excelente interpretação.

9/10

Pedro Xavier

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Viridiana (1961)

Inspirado por uma pintura de uma santa pouco conhecida e por uma fantasia erótica sobre como fazer amor com a rainha de Espanha enquanto ela estivesse drogada, Buñuel constrói o seu segundo filme da década de 60 – o primeiro foi “La Joven” – baseado, mais uma vez, em ideais espirituais que são eventualmente destronados pela estupidez humana.

Antes de tomar os votos piedosos, Viridiana (Silvia Pinal) é convocada para a casa do seu velho tio Don Jaime (Fernando Rey). Embora não o conheça bem, Viridiana implora à Madre Superior que a deixe ficar no convento, mas é-lhe lembrado que Don Jaime foi o seu benfeitor e que esta seria a última oportunidade para o visitar. Ironicamente, a Madre Superior sugere que Viridiana lhe mostre a sua afeição.

Ao que parece Viridiana teria uma intuição correcta ao não querer sair do convento, uma vez que o seu tio tem planos para ela e pede-lhe que fique na sua propriedade. Depois de explicar como a sua mulher faleceu na noite de casamento, consegue que Viridiana vista o vestido de casamento e, depois de a drogar com o auxílio da prestável empregada Ramona (Margarita Lozano), na manhã seguinte convence-a que tiveram relações sexuais, impedindo-a de voltar ao convento, pela vergonha. Mesmo assim, Viridiana parte mas é impedida de apanhar o autocarro pela notícia do suicídio do seu tio.

O velho aristocrata espanhol deixa em testamento a sua propriedade a Viridiana e ao seu filho Jorge (Francisco Rabal) – um verdadeiro contraste de caracteres. Enquanto Jorge é muito prático e com jeito para negócios, Viridiana pretende usar a mansão de família como abrigo para desalojados e vagabundos. Estes acabam por tirar vantagem da sua generosidade, que conduz o filme à sua sequência mais memorável – uma imitação hilariante da Última Ceia de Da Vinci acompanhada pelo Messias de Händel na orgia dos mendigos.

Embora o banquete de mendigos seja a cena mais notória do filme, há um número de outras cenas que também se destacam: o sonambulismo de Viridiana, a sua sexualidade reprimida ilustrada pela cena com a vaca leiteira e o fetiche de pés de Don Jaime. Mas a cena que mais se destaca é quando Jorge compra o cão a um camponês, de maneira a salvá-lo de maus tratos. Esta cena é retratada como uma anedota mas reforça a visão de Buñuel de como é impossível fazer uma diferença significativa neste mundo.

A cena mais marcante que escapou aos olhos mesquinhos da censura espanhola – por esta altura vive-se o franquismo em pleno e ao longo de todo o filme já foram abordadas explicitamente as questões do incesto e da violação – foi a cena final, onde é dada a ilusão de uma menage a trois.

Por esta altura Buñuel tinha 60 anos e nos últimos 10 anos tinha realizado cerca de 18 filmes. Fora quatro vezes a Cannes e já tinha sido entrevistado pelas melhores revistas de cinema. Com Viridiana teria uma entrada em grande nos sixties, com o pé direito

7/10

Pedro Xavier