Esta semana traz consigo o regresso de dois pesos pesados – um deles é o de M. Night Shyamalan. Após as eternas discussões sobre a sua última obra (A Senhora da Água, que gerou ódios e amores na comunidade cinematográficas e dividiu o público), Shyamalan volta a roçar o tema do fantástico, mas com uma base de drama bem real no coração das paisagens emocionais dos EUA.
Perante uma série de acontecimentos sem explicação, que se sucedem pelos parques naturais de algumas cidades dos EUA, os humanos mergulham no estado de transe e cometem a sua própria morte, numa espécie de suicídio dormente. Entre os sobreviventes destes ataques, que se colocam em fuga à laia de um êxodo, encontram-se um professor de ciências e a sua complexa namorada (Mark Wahlberg e Zooey Deschanel), responsáveis pela filha de um amigo e completamente frágeis perante os acontecimentos naturais (ou não) que se vão sucedendo, enquanto fogem pela sua sobrevivência e tentam interpretar os sinais da crise para obterem uma resposta.
É um sentimento triste e desolado que Shyamalan faz descobrir neste filme, que apesar de não mostrar a sua cara (nem contar com a sua participação), reflecte bem o seu estado de alma. Shyamalan está - literalmente - chateado com os críticos e a “correcta” ou “suposta” maneira de fazer cinema. Um recente artigo publicado no LA Times revela claramente a visão do realizador face à sua obra, ao mundo dos públicos e dos filmes. No entanto, a questão relevante não se prende, enquanto espectador, com o sentimento que o criador alimenta, mas sim o facto de como ele elabora uma nova obra, um novo filme, e nessa perspectiva estamos perante um terrível fracasso.
Ainda que munido de uma boa ideia e algumas cenas bem pensadas e elaboradas (como a questão da tragédia dos miúdos que os acompanham ou até o suspense das mortes), Shyamalan não faz um filme, somente junta inúmeras cenas numa só fita e esquece os plots. O argumento perde credibilidade e força ao fim de meia hora (após um início bem conseguido) e chega mesmo a ser absolutamente ridículo e inverosímil na meia hora final, onde, de um momento para o outro, uma solução “deus ex machina” irrompe descaradamente no ecrã, à falta total de ideia e inspiração do realizador. O elenco é terrível, seja um Mark Wahlberg pateta, uma Zooey Deschanel insuportável e sem carisma, até um John Leguizamo apático e sem vida. Ou seja, Shyamalan fez um filme “para si mesmo”, onde juntou os elementos do paranormal e um suspense à Hitchcock e deu-lhe o início, meio e fim que quis sem se preocupar com mais nada, para demonstrar o que sente e o poder que tem. Pena ter-se esquecido do mais importante: o seu público, que esperava de si algo de qualidade superior, ainda que simpatizantes ou não d’ A Senhora da Água (uma discussão absurda e sobrevalorizada a meu ver), uma vez que considero Shyamalan um fabuloso contador de histórias e um óptimo retratista de emoções tão primitivas como actuais no mundo em que vivemos, para além de ser um autor de enorme visão artística.
Por tudo isso e em suma, é uma desilusão ver uma boa ideia ser transformada num protesto pueril e sem estrutura, muito longe de qualquer obra por si anteriormente concebida. Esperamos melhores dias para os desaires artísticos de Shyamalan, que percorrem neste momento dias de amargura.
O outro regresso é o de Hulk, um dos triunfos maiores da Marvel, que renasce novamente no grande ecrã, desta vez por outras mãos e com um novo olhar. Louis Leterrier (Correio de Risco 2) toma a rédeas da realização e oferece entretenimento como ninguém, durante o tempo em que Bruce Banner (Edward Norton) se lança na procura de uma cura para as elevadas radiações que sofreu e o transformam irremediavelmente no irracional anti-herói verde. Ainda que com a ajuda de Betty Ross (Liv Tyler), Banner/Hulk tem contra si está o exército americano, comandado pelo General Thaddeus Ross (William Hurt) e uma famosa "abominação" (Tim Roth), que elevam o espectáculo de violência para novos caminhos, ao quererem prendê-lo para usar o teu gene na indústria bélica.
Em 2003, aquando da primeira incursão desta personagem no cinema, Ang Lee trouxe para o ecrã um filme fabuloso que detinha uma enorme riqueza, patente quer na questão do argumento (que roçava uma temática quase freudiana com bases de uma tragédia grega) como na sua componente visual (uma realização artisticamente intocável, recheada de inúmeros valores e linguagem da banda desenhada), mas apesar de tudo isso, o filme foi incompreendido e muito mal tratado. (recomendo a quem não apreciou uma nova hipótese de revisão urgente). Como tal, Hulk tornou-se um objecto a redesenhar no mapa cinematográfico, desta vez fora das mãos do cinema de autor, directamente para uma visão mais comercial.
Posto isto, a meu ver, os receios eram grandes. Mas é certo afirmar que, apesar do irrepreensível filme que Lee nos trouxe, esta continuação (que recupera de certa forma, num bom fair-play, a história passada) é uma simpática surpresa, onde a acção ganha mais pontos face a um argumento mais fraco, mas bem doseado de ritmo e força. Norton veste bem a pele do atormentado Banner (ainda que Bana assentasse melhor) e Tim Roth e William Hurt cumprem competentemente a sua missão. Menos se pode apreciar Liv Tyler, que não tem culpa da sua débil representação, na medida que a sua personagem também não o exige, (ao contrário de Jennifer Connelly, a Betty no episódio anterior da estória, uma peça chave com rosto e vida própria). De resto, a adaptação está bem conseguida (mais cingida à BD que o capítulo anterior, é certo) e o final reserva surpresas, seja pelo facto de Hulk alterar a sua postura face ao "mundo", um espaço que surpreendentemente lhe vai fazer um convite "de ferro", o que permite começar a conspirar um pouco sobre futuros filmes de super-heróis.
Francisco Toscano Silva
1 comentário:
Mas a Senhora da Água tem algum problema? É que eu quero ver esse filme há muito tempo!
Fui ver o acontecimento na sexta,e como fã incondicional que sou do senhor Shyamalan achei o filme espetacular! Não quero cá ouvir cenas!
Keep on Xavi!
Enviar um comentário