





Pedro Xavier
arte revisitada
O primeiro instinto de Léon é ver-se livre da rapariga, mas não como está acostumado a fazer. Os dois acabam por ficar juntos, a aprender um com o outro. Léon ensina Mathilda a limpar a arma e ela ensina-o a ler e a escrever; ele ensina-a sobre a morte, ela ensina-o sobre a vida. Ele é um rapaz dentro de um corpo adulto, ela uma mulher no corpo de rapariga. Foi devido a este bailado, a esta interacção quase sexual entre as duas personagens que Léon não foi tão bem recebido pela crítica americana, no entanto, o romance proibido já antes tinha sido abordado em Lolita e a exploração de carácter sexual em Taxi Driver.
N’ Os Savages, apesar da grande performance física de Philip Bosco, é no seu núcleo uma história sobre os dois irmãos que falham permanentemente, quer na vida pessoal, quer nos cuidados ao pai. Laura Linney porta-se lindamente como mulher à beira de um ataque de nervos sendo, no entanto, uma mulher criança incapaz de assumir qualquer tipo de compromisso a nível pessoal. Jenkins não é sentimentalista nem condescendente com as suas personagens (importando uma expressão típica americana, são uns losers). Philip Seymour Hoffman afirma-se, mais uma vez, como um dos maiores actores contemporâneos dando forma e vida a um professor de filosofia que, à semelhança da irmã, é incapaz de terminar um livro sobre Brecht e impotente quanto à resolução da sua vida amorosa. A peça semi-autobiográfica de Wendy Savage “Wake Me When It’s Over” é finalmente completa quando o pai morre.
Pode-se caracterizar a comédia de Jerry Seinfeld como sendo um género de humor a nível microscópico, sobre as pequenas coisas que notamos no dia-a-dia, num estado de semi-consciência mas que, só eventualmente, lhes damos importância. O grande talento do comediante é saber captar a nossa atenção para essas “pequenas” coisas. Por esta lógica, é apropriado que o seu primeiro grande projecto desde o final da série televisiva “Seinfeld” (já lá vão 10 anos!) seja sobre uma pequena criatura voadora que alegremente desafia as convenções físicas escritas pelos humanos e as leis que regem a colmeia onde vive (Seinfeld sempre se sentiu fascinado pela existência quase impossível das abelhas).
Para complementar um guião com assinatura do próprio Seinfeld (e ainda Spike Feresten, Barry Marder e Andy Robin), a animação da equipa da Dreamworks deu ao filme um visual solarengo e de ritmo «abelhesco» (que se assemelha muito ao Taylorismo). A voz agradavelmente idiossincrática do comediante ajusta-se na perfeição ao tom casual e ligeiro que caracteriza a história. A estrela da comédia transfere a sua persona para Barry B. Benson, uma abelha que critica e questiona o mundo dentro da colmeia. Insatisfeito por ter de ficar perpetuamente amarrado ao duro e ininterrupto trabalho da colmeia, faz uma viagem espontânea com o batalhão do pólen ao mundo exterior, encontra uma rapariga (sim, uma rapariga humana, interpretada por Renée Zellweger) e, em conjunto, processam a humanidade por roubarem, injustamente, o mel que é por direito das abelhas.
“Bee Movie – A História de uma Abelha” é um filme visualmente brilhante, activo, estimulante, colorido e por vezes com algum humor negro (nunca veríamos um pacto de suicídio num filme da Disney). Lá bem no fundo, a história pode ser comparada a “The Graduate”, em que o recém-licenciado Barry, é pressionado pelos pais aparentemente judeus (Kathy Bates e Barry Levinson) a encontrar um trabalho e assentar na existência pacata da vida na colmeia; até há uma cena na piscina (de mel) como no clássico de Mike Nichols.
A juntar à dupla principal estão as vozes de Matthew Broderick, Patrick Warburton, John Goodman, Chris Rock, Oprah Winfrey, Larry King (a fazer de Bee Larry King), Ray Liotta e Sting (ferrão).
Apesar de o humor não ser hilariante (é possível que a expectativa de ver um novo episódio de “Seinfeld” tenha sido demasiado elevada), é o suficiente para deixar miúdos e graúdos de sorriso posto, pela fantasia de vermos humanos a falarem com insectos e pela mensagem de tolerância para com aqueles que são diferentes de nós mas equilibram o delicado funcionamento da natureza. O toque de Jerry Seinfeld é notório (“Why do girls put rings on their toes?... It’s like putting a hat on your knee”). Ele pode não estar a actuar ao vivo, mas a qualquer momento pode agarrar o microfone. É aproveitar e rir destas suas últimas pérolas.
“Enchanted / Uma História de Encantar” é, verdadeiramente, a mais recente e deliciosa produção da Disney que nos faz recordar de tempos idos, de uma era já quase esquecida, em que Walt e a sua equipa não conseguiam fazer nenhuma animação que não merecesse nota máxima. Em 1964, o filme “Mary Poppins” – cuja personagem homónima foi interpretada por Julie Andrews – fez a ligação, a ponte entre a animação e a realidade através de um musical verdadeiro e mágico. Era um dos filmes favoritos de Walt Disney e, penso eu, que certamente hoje estaria enamorado pela história da princesa perdida de “Enchanted”. Não é por acaso que Julie Andrews é a narradora do já tão típico (refira-se, esquecido) «Era Uma Vez» introdutório das histórias de encantar.
Ao realizador Kevin Lima e ao argumentista Bill Kelly pediam-se garras para lidarem com este híbrido - “Enchanted” combina animação 2D, efeitos especiais e representação tradicional. Esta mistura, caso não fosse bem conduzida, poderia ser equiparada à queda de um elefante numa loja de porcelanas. Kevin Lima já tinha trabalhado em “A Bela e o Monstro”, “A Pequena Sereia” e “Aladino”, três das melhores animações da Disney.
A “História de Encantar” pode ser lida (o filme começa com um abrir de livro – que saudades!) tal e qual como outros clássicos, vejamos “Branca de Neve e os Sete Anões”. No prólogo, a solitária princesa Giselle (Amy Adams) de Andalusia, entoa para os seus amigos animais da floresta a canção que a fará ser encontrada pelo seu príncipe encantado, o portador do «true love’s kiss». O príncipe Edward (James Marsden) é corajoso e o par perfeito, mas os planos do casamento são arruinados pela madrasta má, a rainha Narissa (Susan Surandon num papel ainda mais maléfico que Cruella de Vil). Com receio de vir a perder o trono, Narissa empurra Giselle para um poço, que liga o mundo de fantasia ao mundo real (Nova Iorque), onde não há «happily ever afters». Já no mundo dos humanos, Giselle conhece Robert (Patrick Dempsey, Dr. McDreamy da série Anatomia de Grey) e a sua filha de seis anos Morgan (Rachel Covery). Depois a trama adensa-se quando Pip (o esquilo), Nathaniel (o ajudante da rainha), Edward e Narissa decidem seguir o mesmo caminho que Giselle, entrando no buraco do coelho.
Ah, como é refrescante ver que “Enchanted” tanto parodia as mais belas tradições da Disney como, ao mesmo tempo, as respeita e segue o seu rumo. São inúmeras as invocações às mais mágicas cenas dos clássicos da Disney que marcaram a infância de todos [galeria de fotos aqui]. Não há piadas nem sentimentalismos fáceis. Foi (re)encontrada a alquimia para a magia. Algures, onde quer que esteja, Walt Disney deve sorrir…
9/10
Pedro Xavier
Entre outras coisas, Anatomia tem uma das mais longas cenas (mais de uma hora) de sempre dentro de um tribunal, no qual Paul Biegler (James Stewart), advogado e habitante de uma pequena e pacata vila, é o defensor de Frederick Manion (Ben Gazzara), um irritadiço tenente do exército acusado de, irresistivelmente, ter morto Barney Quill, o dono do bar local, sob suspeita por ter, alegadamente, violado e espancado a sua mulher (de Manion). Laura (Lee Remick) – a mulher – confirma o testemunho do marido pela acção de um detector de mentiras. No entanto, o exame médico efectuado não revela qualquer prova de ter havido violação.
Estranhamente, o filme não é um murder mistery (embora pareça). Não há dúvidas sobre o que aconteceu. É, pois, no tribunal que se dá todo o suspense e a dissecação desta “Anatomia de um Crime”. Há uma série de questões morais que se levantam (a nós, ao júri, a Biegler) em vez da eterna questão deste género fílmico “quem foi o assassino?”. O final não podia ser mais ambíguo sobre o resultado do julgamento.
Excelente foi a escolha dos actores. Quer Stewart, quer George C. Scott - o advogado de acusação de elegância sofisticada vindo da cidade que contrasta com o tão terra a terra Biegler – foram ambos nomeados pela Academia. Lee Remick é sexy, quente e terrífica. Tem uma cena fantástica no tribunal, onde tira os óculos escuros e o chapéu, mostrando o seu lustroso cabelo, para o deleite do júri, juiz, advogados, audiência (e espectadores). James Stewart trás ao filme uma simpática (mas negra) astúcia, tal como se viu em “Vertigo” (Alfred Hitchcock, 1958), combinada com o ambiente caseiro da vila de “It’s a Wonderful Life” (Frank Capra, 1946).
Depois de “12 Angry Men/12 Homens em Fúria” (Sydney Lumet, 1957) e “Witness for the Prosecution/Testemunha de Acusação” (Billy Wilder, 1957), “Anatomia de um Crime” não é o melhor filme que decorre no ambiente da justiça, mas certamente ocupa um justo terceiro lugar.
8/10
Pedro Xavier
Tal como os contos dos irmãos Grimm, uma boa história é sempre atractiva para os realizadores e não é de surpreender que o conto já tenha sido adaptado por diversas vezes, incluindo a versão clássica de 1946 apresentada pela Disney (imagem abaixo). Talvez por não querer seguir o mesmo destino que deu à progenitora de Bambi, a versão da Disney permite que o pato viva no final não esquecendo referir, mesmo assim, a crua realidade dos animais terem de comer outros animais para sobreviver.
Esta nova versão em stop-motion apresentada pela galardoada Suzie Templeton – vencedora de um Oscar e um BAFTA na categoria de Melhor Curta de Animação – é inovadora, com algumas alterações, mas sem afectar a beleza e o horror do conto musical de Prokofiev. O essencial está lá: enquanto o avô dorme, Pedro esgueira-se para além da cerca limitadora da casa para brincar com os amigos pato e pássaro num pequeno lago congelado na floresta, até que aparece o lobo. Após consumado o destino do pato, Pedro consegue apanhar o lobo com uma rede e impedindo-o de fazer mais mal.
A equipa de animação de Templeton criou uma espécie de aldeia rural Russa como cenário, caracterizada por imensos detalhes e habitantes sombriamente distintos. As personagens humanas não falam – assim como não há qualquer narração ao longo do filme – mas os pensamentos e sentimentos são claros e expressos pelas caras – no caso de Pedro, é a intensidade dos seus grandes olhos o factor essencial que nos mostra os sentimentos de fúria, vingança ou alegria; já no caso do avô, será a sua pele enrugada e gasta através de décadas de vivências. A verdadeira alegria do filme é demonstrada pelas acções antropomórficas dos animais – o pato, gato, o pássaro - os seus sentimentos de afecto para com Pedro e as suas reacções quando gozam, perante o embaraço do outro.
A música de Prokofiev só entra em cena quando Pedro consegue escapar a cerca da sua existência. É frequentemente dividida em pausas dramáticas, que acentuam o desempenho emotivo das personagens. Embora o conto seja originalmente dedicado às crianças, o tom negro de “Pedro e o Lobo” de Suzie Templeton e a morte do pato serão como um choque para aqueles que esperam uma versão desinfectada da história, tornando-se uma mais-valia para Templeton quando, após vários visionamentos, apercebermos-nos da comovente relação de amizade que liga o rapaz ao animal.
Pedro Xavier
6/10
Pedro Xavier
“Lions for Lambs” conta histórias entrecruzadas, todas com base nos desenvolvimentos actuais no Iraque e no Afeganistão. Assim que o filme começa, a prestigiada repórter Janine Roth (Meryl Streep) chega ao gabinete do senador Jasper Irving (Tom Cruise), em Washington, para uma entrevista exclusiva. Anos antes, Roth tinha declarado num artigo à Time que Irving seria o futuro, uma nova visão para a renovação do Partido Republicano. Na entrevista, o senador revela a nova estratégia do exército dos Estados Unidos que irá acabar com a guerra ao terrorismo e devolver à América a fé nos seus governantes.
Ao mesmo tempo, do outro lado do país, o professor Stephen Malley (Robert Redford) inicia uma reunião com um dos seus alunos Todd Hyes (Andrew Garfield), em quem vê um potencial enorme mas que, no entanto, se encontra contido devido a alguma ignorância. O professor começa, então, a contar a história de dois ex-alunos seus Ernest Rodriguez (Michael Peña) e Arian Finch (Derek Luke), que se sentiram motivados a se alistarem no exército e apoiar, dessa maneira, a guerra. A história de Rodriguez e de Finch é contada simultaneamente enquanto estes se encontram barricados e encurralados nas montanhas geladas do Afeganistão, devido a um ataque ao helicóptero onde se encontravam.
A vantagem de “Lions for Lambs” é o argumento de Matthew Michael Carnahan, pois são explorados inúmeros pontos de vista em relação à problemática situação vivida no Médio Oriente o que é, simultaneamente, uma desvantagem, como que um freio a uma forte posição política que possa o filme vir a ter. Mesmo assim, consegue ir mais longe, de uma maneira corajosa - e refrescante à vista – ao apontar o dedo aos media por terem lidado com o início e desenrolar da guerra como se fosse um evento desportivo. A mensagem do tipo “drop what you’re doing and get involved!” não é de todo original, mas pode-se aproveitar para serem analisados diversos pontos de vista.
Em relação aos actores… Tom Cruise tem uma prestação notável como um político engenhoso, calculista e charmoso. Nos casos de Meryl Streep e Robert Redford, parece que todo o seu enorme talento fica subaproveitado devido à pouca densidade dramática das suas personagens.
“Lions for Lambs” é mais um a entrar no conjunto de filmes que surgem das consequências da política contemporânea, que levantam inúmeras questões mas sem devolverem respostas satisfatórias. A atitude de Irving ao dizer “whatever it takes” é certamente um reflexo da política seguida pela administração corrente para lidar com os problemas actuais. E em relação aos de longo-prazo? Ainda estaremos em guerra por daqui a 10 anos? É tempo de medir o potencial das acções e começar a ver o prisma completo.
7/10
Pedro Xavier
O fim-de-semana da Páscoa não podia deixar de ser celebrado pelas televisões nacionais através da reposição de filmes de cariz histórico / bíblico. No entanto, tal como se viu, apenas a emissora pública nacional foi a única que seguiu a tradição e nos presenteou não com “A Maior História de Todos os Tempos” mas com, seguramente, o maior épico bíblico do cinema clássico americano. O filme é particionado pelos eventos da vida de Cristo, a começar pelo seu nascimento no estábulo onde os três reis magos fazem as suas oferendas, e a terminar com a crucificação e a cura milagrosa que se segue à Ira de Deus.
O tema central de “Ben-Hur” (1959) é, pois, o perdão. O padre Holandês Henri J. M. Nouwen escreveu “The only people we can really change are ourselves. Forgiving others is first and foremost to healing our hearts”.
O filme do realizador William Wyler é um remake do filme homónimo de 1925, com o subtítulo “The Tale of the Christ”, realizado por Fred Niblo. Este espectacular filme mudo contou com a participação das estrelas de cinema Ramon Navarro, como Ben-Hur, e Francis X Bushman no papel de Messala e ainda outras 125,000 pessoas como figurantes. Adaptado do romance de Lew Wallace, custou cerca de 4 milhões de dólares (na altura era considerável), tornando-se o filme mudo mais caro da história.
Mas voltando à versão de 1959, este remake foi inspirado pelo facto de, três anos antes, Cecil B. DeMille e o grande estúdio Paramount terem posto, em todo o esplendor dos 70mm, o épico bíblico “The Ten Commandments” (1956). A figura heróica de Charlon Heston – um justo Moisés icónico – seria outra vez convocada para interpretar o papel de Príncipe da Judeia, Judah Ben-Hur, depois da personagem ter sido recusada pelos peso pesados Burt Lencaster, Rock Hudson e Paul Newman.
No enredo, Ben-Hur (Charlton Heston) é injustamente escravizado e enviado para as galeras pelo seu amigo de infância Messala (Stephen Boyd), um romano ambicioso recém-chegado a Jerusalém, mas regressa em busca de vingança, exemplificada pela emblemática corrida de quadrigas que imortalizou o filme. Finalmente, encontra redenção e perdão nas esclarecedoras e inspiradoras cenas finais do filme.
Assim como a versão a preto e branco que a precedeu, a versão colorida de 1959 foi a mais dispendiosa da década de 50, que quase levou os estúdios da MGM à falência. A sua preparação demorou mais de 6 anos, os locais de filmagem foram os mais variados (maioritariamente em Itália) e foram necessários milhares de figurantes – só na corrida das quadrigas foram necessários 15,000 participantes.
“Ben-Hur” revelou ser um filme inteligente, excitante e dramático, ao contrário de tantos outros filmes bíblicos, repletos de estrelas de Hollywood. A reprodução da figura de Jesus Cristo foi realizada de maneira extremamente subtil e a Sua aparição foi-nos dada exclusivamente como um cameo – nunca se vê a Sua cara, apenas as reacções de outras personagens para com Ele. Emblemática é a cena da chegada de Ben-Hur e outros escravos a Nazaré, depois da travessia do deserto. Um homem bondoso e com compaixão dá ao desidratado príncipe judeu água que revitaliza o seu corpo e dá novo alento à sua alma, desafiando as ordens do soldado romano. A cena é tão bem conseguida e é-nos dada enquanto vemos por cima do ombro de Jesus a expressão perturbada da cara do soldado romano.
“Ben-Hur” foi dos filmes mais galardoados de sempre pela Academia de Hollywood, com 12 nomeações, tendo arrecadado 11 estatuetas douradas. Apenas “Titanic” (James Cameron, 1997) e “The Lord of the Rings: The Return of the King” (Peter Jackson, 2003) conseguiram levar para casa o mesmo número de estatuetas (o primeiro obteve 14 nomeações e o segundo 11) apesar de, ao contrário do filme de 1959, nenhum destes ter ganho nas categorias principais de representação. Charlton Heston levou consigo o primeiro Oscar da sua carreira (ainda chegou a ganhar um honorário), embora a sua interpretação tenha sido considerada inferior à dos outros nomeados: Jack Lemmon em “Some Like It Hot” (Billy Wilder, 1959), James Stewart em “Anatomy of a Murder” (Otto Preminger, 1959) ou Laurence Harvey em “Room at the Top” (Jack Clayton, 1959).
Regressando à corrida de quadrigas no circo romano (uma réplica espantosa), seria injusto não ter em conta uma das mais famosas sequências que ficaram imortalizadas na história do cinema. Veja-se, então, a homenagem que George Lucas lhe faz no filme “Star Wars: Episode I – The Phantom Menace” (1999), com a pod race em que cavalos são substituídos por máquinas avançadas, no entanto é mantido o duelo maniqueísta e intemporal Mal versus Bem entre as personagens. O sítio das corridas foi construído nos arredores de Roma, nos estúdios da Cinecittá, e as filmagens decorreram durante mais de três semanas.
Goste-se ou não, “Ben-Hur” é, sem qualquer dúvida, um dos maiores filmes de todos os tempos.
9/10
Embora o banquete de mendigos seja a cena mais notória do filme, há um número de outras cenas que também se destacam: o sonambulismo de Viridiana, a sua sexualidade reprimida ilustrada pela cena com a vaca leiteira e o fetiche de pés de Don Jaime. Mas a cena que mais se destaca é quando Jorge compra o cão a um camponês, de maneira a salvá-lo de maus tratos. Esta cena é retratada como uma anedota mas reforça a visão de Buñuel de como é impossível fazer uma diferença significativa neste mundo.
A cena mais marcante que escapou aos olhos mesquinhos da censura espanhola – por esta altura vive-se o franquismo em pleno e ao longo de todo o filme já foram abordadas explicitamente as questões do incesto e da violação – foi a cena final, onde é dada a ilusão de uma menage a trois.
Por esta altura Buñuel tinha 60 anos e nos últimos 10 anos tinha realizado cerca de 18 filmes. Fora quatro vezes a Cannes e já tinha sido entrevistado pelas melhores revistas de cinema. Com Viridiana teria uma entrada em grande nos sixties, com o pé direito
7/10
Pedro Xavier
Envolvido num mundo penumbroso, enchendo Lisboa de nuvens cobertas, o filme segue um pai (Nuno Lopes) desesperado em busca da sua filha Alice, percorrendo todos os dias o mesmo percurso detalhado: de manhã distribui panfletos com a fotografia da filha; à tarde inspecciona e recolhe os vídeos de 11 câmaras de vigilância que tem espalhadas pela cidade, quer em casa de amigos, quer no topo de edifícios; pela noite, depois do trabalho (actor de teatro) visiona os vídeos simultaneamente em múltiplos televisores, na esperança de poder ver um lampejo da filha. Tem uma rotina obsessiva de maneira a manter aderente à sua sanidade a memória da filha.
Marco Martins está interessado em mostrar um filme em como as pessoas têm dificuldade em lidar com uma dor bastante profunda, mas a um nível íntimo e claustrofóbico, conseguindo combinar, ao mesmo tempo, um sentimento de esperança com o de exaustão permanente. Nuno Lopes consegue não dar à personagem um sentimento inferior ao da angústia, sempre que passa por todas as fases da sua obsessão, tornando palpável o estruturado e controlado desespero que tão dolorosamente é contrastado com a histeria da mulher Luísa (Beatriz Batarda).
Juntamente com o director de fotografia Carlos Lopes, Marco Martins pauta o seu filme com imagens sem sol que contribuem para um ambiente pós-traumático em que não parece haver separação entre os dias e as noites, sendo cada dia uma repetição do anterior. No meio de tal desolação, a música de Bernardo Sassetti desliza suavemente, aumentando a intensidade dramática de todo o ambiente.
Alice, o filme, é um poderoso estudo de dor intensa, mergulhado num profundo e convincente desespero. Certamente um dos melhores filmes produzido por terras lusas nos últimos anos.