segunda-feira, 24 de março de 2008

Ben-Hur (1959)

O fim-de-semana da Páscoa não podia deixar de ser celebrado pelas televisões nacionais através da reposição de filmes de cariz histórico / bíblico. No entanto, tal como se viu, apenas a emissora pública nacional foi a única que seguiu a tradição e nos presenteou não com “A Maior História de Todos os Tempos” mas com, seguramente, o maior épico bíblico do cinema clássico americano. O filme é particionado pelos eventos da vida de Cristo, a começar pelo seu nascimento no estábulo onde os três reis magos fazem as suas oferendas, e a terminar com a crucificação e a cura milagrosa que se segue à Ira de Deus.


O tema central de “Ben-Hur” (1959) é, pois, o perdão. O padre Holandês Henri J. M. Nouwen escreveu “The only people we can really change are ourselves. Forgiving others is first and foremost to healing our hearts”.


O filme do realizador William Wyler é um remake do filme homónimo de 1925, com o subtítulo “The Tale of the Christ”, realizado por Fred Niblo. Este espectacular filme mudo contou com a participação das estrelas de cinema Ramon Navarro, como Ben-Hur, e Francis X Bushman no papel de Messala e ainda outras 125,000 pessoas como figurantes. Adaptado do romance de Lew Wallace, custou cerca de 4 milhões de dólares (na altura era considerável), tornando-se o filme mudo mais caro da história.


Mas voltando à versão de 1959, este remake foi inspirado pelo facto de, três anos antes, Cecil B. DeMille e o grande estúdio Paramount terem posto, em todo o esplendor dos 70mm, o épico bíblico “The Ten Commandments” (1956). A figura heróica de Charlon Heston – um justo Moisés icónico – seria outra vez convocada para interpretar o papel de Príncipe da Judeia, Judah Ben-Hur, depois da personagem ter sido recusada pelos peso pesados Burt Lencaster, Rock Hudson e Paul Newman.


No enredo, Ben-Hur (Charlton Heston) é injustamente escravizado e enviado para as galeras pelo seu amigo de infância Messala (Stephen Boyd), um romano ambicioso recém-chegado a Jerusalém, mas regressa em busca de vingança, exemplificada pela emblemática corrida de quadrigas que imortalizou o filme. Finalmente, encontra redenção e perdão nas esclarecedoras e inspiradoras cenas finais do filme.


Assim como a versão a preto e branco que a precedeu, a versão colorida de 1959 foi a mais dispendiosa da década de 50, que quase levou os estúdios da MGM à falência. A sua preparação demorou mais de 6 anos, os locais de filmagem foram os mais variados (maioritariamente em Itália) e foram necessários milhares de figurantes – só na corrida das quadrigas foram necessários 15,000 participantes.


Ben-Hur” revelou ser um filme inteligente, excitante e dramático, ao contrário de tantos outros filmes bíblicos, repletos de estrelas de Hollywood. A reprodução da figura de Jesus Cristo foi realizada de maneira extremamente subtil e a Sua aparição foi-nos dada exclusivamente como um cameo – nunca se vê a Sua cara, apenas as reacções de outras personagens para com Ele. Emblemática é a cena da chegada de Ben-Hur e outros escravos a Nazaré, depois da travessia do deserto. Um homem bondoso e com compaixão dá ao desidratado príncipe judeu água que revitaliza o seu corpo e dá novo alento à sua alma, desafiando as ordens do soldado romano. A cena é tão bem conseguida e é-nos dada enquanto vemos por cima do ombro de Jesus a expressão perturbada da cara do soldado romano.


Ben-Hur” foi dos filmes mais galardoados de sempre pela Academia de Hollywood, com 12 nomeações, tendo arrecadado 11 estatuetas douradas. Apenas “Titanic” (James Cameron, 1997) e “The Lord of the Rings: The Return of the King” (Peter Jackson, 2003) conseguiram levar para casa o mesmo número de estatuetas (o primeiro obteve 14 nomeações e o segundo 11) apesar de, ao contrário do filme de 1959, nenhum destes ter ganho nas categorias principais de representação. Charlton Heston levou consigo o primeiro Oscar da sua carreira (ainda chegou a ganhar um honorário), embora a sua interpretação tenha sido considerada inferior à dos outros nomeados: Jack Lemmon em “Some Like It Hot” (Billy Wilder, 1959), James Stewart em “Anatomy of a Murder” (Otto Preminger, 1959) ou Laurence Harvey em “Room at the Top” (Jack Clayton, 1959).



Regressando à corrida de quadrigas no circo romano (uma réplica espantosa), seria injusto não ter em conta uma das mais famosas sequências que ficaram imortalizadas na história do cinema. Veja-se, então, a homenagem que George Lucas lhe faz no filme “Star Wars: Episode I – The Phantom Menace” (1999), com a pod race em que cavalos são substituídos por máquinas avançadas, no entanto é mantido o duelo maniqueísta e intemporal Mal versus Bem entre as personagens. O sítio das corridas foi construído nos arredores de Roma, nos estúdios da Cinecittá, e as filmagens decorreram durante mais de três semanas.


Goste-se ou não, “Ben-Hur” é, sem qualquer dúvida, um dos maiores filmes de todos os tempos.


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10/10

Pedro Xavier

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