terça-feira, 29 de julho de 2008

The Searchers - A Desaparecida (1956)

O filme começa em 1868, no Texas, com um magnífico plano filmado através de uma porta a abrir-se para o deserto vermelho do Arizona (foi onde foi filmado) e para as formações rochosas que o caracterizam. A silhueta de uma mulher sai da escuridão da casa em direcção ao deserto para cumprimentar Ethan Edward (John Wayne), recém-chegado da Guerra Civil. Na casa vivem o seu irmão Aaron (Walter Coy) e a mulher Martha (Dorothy Jordan), o filho Ben (Robert Lyden) e as duas filhas Lucy (Pippa Scott) e Debbie (Lana Wood / Natalie Wood). É por Martha que Ethan está apaixonado, pelos gestos que demonstra, mas sem nunca o dizer.

O primeiro sinal do ódio de Ethan aos índios surge quando filho adoptivo Martin Pawley (Jeffrey Hunter) chega para jantar. Apesar de ser apenas 1/8 Cherokee, Ethan olha-o com desaprovação (rejeita-o como sobrinho) e goza-o por ter ascendência índia. O conflito interno de Ethan é ainda mais acentuado quando se sabe que foi Ethan quem o salvou de um massacre índio. John Wayne interpreta em A Desaparecida uma das suas mais complexas e enigmáticas personagens: o cowboy solitário, dominado pelo ódio aos Comanches, procurado pela justiça e com uma quantidade considerável de ouro.

Por terem saído à procura de gado desaparecido, Ethan e Marty não estão presentes quando o resto da família é massacrado num ataque índio. Sem se mostrar qualquer violência, John Ford cria nesta sequência o suspense necessário e explicativo do que virá a acontecer, num conjunto de cenas inteligentemente sequenciadas: um estranho silêncio ao anoitecer seguido de sons estranhos; um cão a ladrar nervosamente no alpendre; Aaron pega nervosamente na arma e diz à família que vai caçar antes do jantar; Martha diz às filhas para não acender as luzes de casa; esta situação culmina num estridente grito de Lucy quando se apercebe, apenas pelas medidas dos pais, que estão prestes a ser atacados por índios. Apenas Debbie consegue fugir da casa, refugiando-se atrás da lápide da sua avó. É aqui que é explicado ou onde é dada a única pista para o ódio de Ethan. Está inscrita a mensagem: “Here lies Mary Jane Edwards, killed by Comanches, A good wife and mother”.

O racismo de Ethan é óbvio e perturbante, tornando-se essencial para o desenrolar da história. Após anos e anos de perseguição ao chefe comanche Scar, responsável pelo massacre e pelo rapto de Debbie, quando finalmente Ethan a encontra não se sabe se a vai matar ou não. Afirma que mais vale estar morta do que viver como uma Comanche. Para além de arqui-inimigo, em Scar é representado o alter-ego do herói. Scar teve Martha antes de a matar e, por isso, ao mesmo tempo Ethan odeia-o e inveja-o.

Ethan tem ainda outras reacções: abate búfalos com a desculpa de que não poderão servir para alimento dos Comanches naquele Inverno e ainda atira sobre índios mortos. Outros sinais de racismo são demonstrados, por outras personagens, revelando o pior que os westerns dos anos 50 tinham.

No entanto, isto significa que The SearchersA Desaparecida não vale a pena de ser visto? Claro que não! A Desaparecida de John Ford é, sem sombra para dúvidas, um dos maiores westerns de sempre, repleto de belíssimas fotografias do velho Oeste americano, tem uma temática ainda actual e uma personagem profunda: John Wayne é um colosso magnífico numa grande interpretação, num papel contraditório e problemático, em torno do qual o filme gira, mas apaixonante por conseguir captar a nossa atenção.




Pedro Xavier

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