domingo, 30 de março de 2008

Die Fälscher - Os Falsificadores

A “Operação Bernhard” foi o plano Nazi para falsificar milhões de libras esterlinas e dólares americanos, com o objectivo de inundar as economias dos países aliados enquanto financiavam o esforço da guerra. No maior esquema de falsificação de sempre, tipógrafos judeus e outros habilitados na arte de copiar falsificaram, no campo de concentração de Sachsenhausen, mais de mil milhões de libras, em notas de 5, 10, 20 e 50, muitas das quais, depois de entrarem em circulação, o Banco de Inglaterra nunca mais voltou a encontrar. No entanto, o seu trabalho no campo de Sachsenhausen impunha aos prisioneiros judeus um terrível dilema moral: quanto mais dinheiro produziam, mais tempo viviam e mais financiavam e fortificavam a posição alemã na guerra.

Enquanto põe esta questão ética aos prisioneiros, o realizador e argumentista Stefan Ruzowitzky dá-nos um drama tenso, intenso e, deva-se dizer, agradável. Ou será desagradável?


A chave para o sucesso de “Die Fälscher – Os Falsificadores” está na escolha do seu herói – ou anti-herói – o único vigarista de entre os artesãos, o falsificador profissional Salomon Sorowitsch (Karl Markovics). O filme começa em 1936 com Sorowitsch, um Judeu Russo em Berlim, a celebrar e a colher dividendos da sua vida de vigarista. Quando é apanhado, é enviado para o campo de concentração de Mauthausen, onde sobrevive alguns anos a pintar os retratos de oficiais das SS.


O oficial Sturmbannführer Friedrich Herzog (David Striesow), encarregado da “Operação Bernhard” e também responsável pela detenção de Sorowitsch, consegue transferi-lo para Sachsenhausen. Separados do resto do campo, os artesãos falsificadores têm camas confortáveis, comida suficiente e música, enquanto continuassem a produzir dinheiro. Ainda assim, conseguiam ouvir os gritos dos restantes prisioneiros do outro lado da cerca.


Interpretado com uma subtileza extraordinária, a personagem do actor Austríaco Karl Markovics, é uma figura complexa: um artista autêntico que prefere falsificar a pintar; um homem pragmático cuja vontade de sobreviver ao fazer tudo o que for necessário para se manter vivo contradiz a sua piedade genuína; a sua figura fria é apenas uma carapaça de um homem que conheceu o sofrimento às mãos dos Soviéticos, antes de emigrar para a Alemanha. Igual ao chefe dos falsificadores, é o comandante Herzog, um Nazi que não acredita na doutrina – há um momento do filme que confessa a Sorowitsch ser comunista – e que, tal como outros, foi apanhado na rede da guerra e seguiu o lema se não os podes vencer junta-te a eles. Embora do outro lado da rede e tal como Sorowitsch, tenta fazer tudo ao seu alcance para sobreviver – esta necessidade torna-se o elo de ligação entre os dois homens.


Também subtil é a realização de Ruzowitzky. Assim como os falsificadores estão isolados da crueldade que abala o resto do campo, também o está o espectador. Quando há uma intromissão, não deixa de ser da mais horrível, que dá a volta ao estômago, tal como se viu em “A Lista de Schindler” (Steven Spielberg, 1993).


Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano, o filme “Os Falsificadores” é uma interessante perspectiva sobre a adversidade moral, física e emocional encontrada nos campos de concentração, vista pelo anti-herói menos comum que se tem encontrado ultimamente.


Ver trailer de Os Falsificadores


8/10


Pedro Xavier


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