quinta-feira, 10 de abril de 2008

Anatomy of a Murder - Anatomia de um Crime (1959)

O filme de Otto Preminger (1959), baseado no romance (1957) de Robert Traver, recebeu para as cerimónias principais de 1960 sete nomeações para os Oscar - Best Picture e Best Actor incluídas - e três para os BAFTA, não conseguindo arrecadar nenhum dos prémios pretendidos. Também eram candidatos aos principais prémios “Some Like It Hot / Quanto Mais Quente Melhor” (Billy Wilder) e “Room At The Top” (Jack Clayton). No entanto, a Academia não quis dar o grande prémio ao drama no tribunal. O grande vencedor dessa noite foi Charlton Heston [ver artigo], na sua fantástica interpretação como príncipe judeu “Ben Hur” (William Wyler) [ver artigo].

Entre outras coisas, Anatomia tem uma das mais longas cenas (mais de uma hora) de sempre dentro de um tribunal, no qual Paul Biegler (James Stewart), advogado e habitante de uma pequena e pacata vila, é o defensor de Frederick Manion (Ben Gazzara), um irritadiço tenente do exército acusado de, irresistivelmente, ter morto Barney Quill, o dono do bar local, sob suspeita por ter, alegadamente, violado e espancado a sua mulher (de Manion). Laura (Lee Remick) – a mulher – confirma o testemunho do marido pela acção de um detector de mentiras. No entanto, o exame médico efectuado não revela qualquer prova de ter havido violação.


Estranhamente, o filme não é um murder mistery (embora pareça). Não há dúvidas sobre o que aconteceu. É, pois, no tribunal que se dá todo o suspense e a dissecação desta “Anatomia de um Crime”. Há uma série de questões morais que se levantam (a nós, ao júri, a Biegler) em vez da eterna questão deste género fílmico “quem foi o assassino?”. O final não podia ser mais ambíguo sobre o resultado do julgamento.


Excelente foi a escolha dos actores. Quer Stewart, quer George C. Scott - o advogado de acusação de elegância sofisticada vindo da cidade que contrasta com o tão terra a terra Biegler – foram ambos nomeados pela Academia. Lee Remick é sexy, quente e terrífica. Tem uma cena fantástica no tribunal, onde tira os óculos escuros e o chapéu, mostrando o seu lustroso cabelo, para o deleite do júri, juiz, advogados, audiência (e espectadores). James Stewart trás ao filme uma simpática (mas negra) astúcia, tal como se viu em “Vertigo” (Alfred Hitchcock, 1958), combinada com o ambiente caseiro da vila de “It’s a Wonderful Life” (Frank Capra, 1946).


Depois de “12 Angry Men/12 Homens em Fúria” (Sydney Lumet, 1957) e “Witness for the Prosecution/Testemunha de Acusação” (Billy Wilder, 1957), “Anatomia de um Crime” não é o melhor filme que decorre no ambiente da justiça, mas certamente ocupa um justo terceiro lugar.


8/10


Pedro Xavier


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