quinta-feira, 29 de maio de 2008

The Thomas Crown Affair (1968)

O guião de Alan Trustman pode ser resumido em poucas palavras. Thomas Crown (Steve McQueen), milionário enfadado pela sua vida sistémica e rotineira, não só arquitecta um plano (infalível) de assalto a um banco, como ainda controla à distância um bando de rufias (que nunca o viram) para executar o trabalho. Vicky Anderson (Faye Dunaway), investigadora de seguros, suspeita de Crown, apesar de não conseguir encontrar qualquer prova que o implique ao crime cometido. A caça abre, a caçadora avança para a sua presa e eis que algo vai contra os planos de ambos: acabam inevitavelmente apaixonados! Até ao final do filme ficamos na dúvida qual dos dois vai prevalecer: o amor ou o sentido do dever.

Depois do sucesso de In Heat of the Night (1967), vencedor de cinco Oscar, foi dada a Norman Jewison total liberdade artística para realizar o seu próximo filme. Tendo como pano de fundo este cenário, deu asas à imaginação e apresentou nos finais dos anos 60 uma estética inovadora representativa de uma narrativa muito própria que viria a tornar-se comum nas décadas que lhe seguiriam: a divisão do ecrã em múltiplas partes (ainda hoje se pode ver isso na série 24). De facto, Jewison deu primazia à estética em detrimento do conteúdo narrativo. O realizador passa a imagem da superficialidade da vida de Crown, que deambula entre o campo e mundo elegante da cidade, entre os desportos e leilões de arte, sempre rodeado de belas mulheres nos seus mundanos chapéus e automóveis topo de gama e, duma maneira secundária, põe de lado os pormenores do crime organizado e todos os meandros que o regem.


Se esta é uma face da moeda, a outra é o jogo amoroso de gato e rato pelos protagonistas e, está nas suas interpretações, o grande trunfo de Jewison. Vicky serve na perfeição, como uma luva, ao estilo elegante e charmoso de Faye Dunaway. Se Faye poderia ser substituída, o mesmo não se pode dizer de Steve McQueen. Thomas Crown é McQueen e McQueen foi considerado o king of cool. Está tudo dito. As personagens revelam-se (ainda que indirectamente) num jogo de sedução sofisticado, cínico e romântico, como nunca antes visto, através de um tabuleiro de xadrez. Nesta caça, a maioria das vitórias e das derrotas não são contabilizadas. Nunca sabemos, ao certo, quem é o rato e quem é o gato. Thomas joga contra todos – a polícia, Vicky e ele próprio. O jogo de Vicky, por outro lado, apesar de ter um único objectivo, oferece um risco pessoal elevado, porque não há maneira de vencer este jogo. Se derrotar Thomas, perde-o.



Tudo em Thomas Crown Affair é um jogo, desde a maneira em como as personagens interagem entre si, até à forma em como o realizador engana o espectador. Ao tom simpático e ligeiro que acompanha todo o filme sucede um gosto amargo da reviravolta final. Jewison admitiu, numa entrevista, a influência do cinema europeu, mais concretamente da Nouvelle Vague, algo que se torna óbvio pela cena final.

A título de resumo, e ignorando todos os lugares-comuns e erros cometidos, o que realmente se vê é a interacção entre as duas personagens, a química sexual presente durante todo o filme, num ambiente repleto de estilo e ostentação.



Pedro Xavier

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