quinta-feira, 6 de março de 2008

Repulsion (1965)

Caroline (Catherine Deneuve) é uma jovem rapariga loira que trabalha como manicura num salão de beleza de Londres e vive num mundo aparentemente dominado por mulheres. Partilha o apartamento com a irmã Hélène (Yvonne Furneaux) e, para além desta, tem apenas contacto humano com as colegas do salão e as clientes idosas, cujas faces parecem mumificadas pelos cremes de beleza. No entanto, os homens estão por todo o lado: no trabalho (nos relatos das colegas que se queixam do seu interesse em apenas uma coisa) e em casa.

Caroline está deprimida e repugnada com tudo à sua volta. Olha com repulsa para as faces lamacentas das clientes; repele um almoço de fish and chips; quando chega a casa, fica repugnada com Michel (Ian Hendry), o amante casado da irmã. Quando têm relações sexuais, Caroline não consegue dormir, ficando acordada, enojada com os gemidos provenientes do quarto adjacente.

Os homens, para Caroline, são uma ameaça permanente. Impossibilitada de revelar os seus sonhos a quem quer que seja, começa a confundir a realidade com esses sonhos a partir do momento em que Helène e Michel partem para Itália, deixando-a sozinha em casa. Começa então a alucinar e a ter pesadelos que nos mostram a sua solidão e repressão sexual.

Gradualmente, o mundo à volta de Caroline começa a mudar. Reflectida numa chaleira, a sua cara é monstruosamente defeituosa; um coelho esfolado numa travessa parece-se com um feto humano; as rachas e fendas nas paredes começam a abrir-se, saindo delas braços que a agarram, o que a leva a imaginar uma violação. O mundo exterior à sua mente reflecte os horrores que a assombram.

"Repulsion" é o primeiro filme em inglês de Polanski e é uma obra assustadora e perturbante, não só pelas evocações do pânico sexual – um ano antes Hitchcock também apresentou Marnie (1964) – mas também pelo uso do som, num ambiente expressionista a preto e branco, que leva à criação do apartamento onde decorre a acção como sendo a representação de uma consciência perturbada e atormentada. Este é um trabalho austero, assustador e intemporal, com poucos diálogos mas que impõem um medo inteligentemente desconcertante e onde se mostra a quebra psicológica que Deneuve apresenta numa excelente interpretação.

9/10

Pedro Xavier

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