Wesley Gibson (James McAvoy) representa a atípica ideia do ser humano mais chato à face da Terra. Tão chato que nem ele próprio consegue encontrar nada relativo ao seu nome no Google. Tem um trabalho que odeia, uma chefe insuportável e a namorada trai-o com o seu melhor amigo. Quando Fox (Angelina Jolie) o encontra na farmácia local e o salva de um assassino chamado Cross (Thomas Kretschmann), segue-se uma perseguição pelas ruas de Chicago que desafia todas as leis da física. Wesley é apresentado a um grupo de rufias que pertence à Fraternidade – uma secreta sociedade milenar de assassinos cujo intuito é “limpar” o mundo dos bandidos e de todas as coisas más (atenção: eles são todos tão bonzinhos). Após uma breve relutância, Wesley aceita que é filho de um antigo membro e, para ser admitido no clube, leva uma data de sovas, facadas e faz um intensivo treino de armas de maneira a conseguir desviar as balas (ou enviá-las “com efeito”).
O filme é baseado na banda desenhada de Mark Millar. Os fãs, intrigados pelo conceito de assassinos de mau carácter serem os super-heróis do mundo, só podem ter ficado decepcionados com esta versão clonada do Matrix, repleta de lugares-comuns, sem qualquer traço de qualidade filosófica e (não pedindo mais) sem aquela ingenuidade que os irmãos Wachowski deram à trilogia. Como se pode levar a sério um filme onde a divina intervenção dos magnânimos seres criadores do universo é representada por uma máquina de tear, chamada “tear do destino”?
Há duas maneiras, igualmente válidas, de olhar para Wanted: (1) como entretenimento em estado puro - um blockbuster de Verão na sua essência; (2) como um filme, em todas as suas letras. Foi com o estado de espírito da opção (1) que entrei na sala de cinema e, a bem da verdade, passei um bom bocado. Deixei-me levar pela acção bruta na esperança de uma viagem repleta de adrenalina que me fizesse esquecer que estava a ver uma história cujo destino das personagens é decidido por uma máquina de tecidos.
No entanto, vendo o panorama geral a frio, não se pode deixar de dar importância à opção (2). Tal como o tecido do destino, o argumento (Michael Brandt) está repleto de buracos. Falta-lhes dar seguimento, desenvolvimento, profundidade, história, uma relação amorosa. Parece uma novela onde afinal “o meu pai eras tu?” e só falta encontrar uma meia-irmã no final. As personagens, à excepção da de James McAvoy (que bem podia ter sido aproveitada para um filme independente sobre a depressão da moderna american way of life), não têm qualquer carisma: Angelina Jolie está de regresso aos papéis ocos como em Lara Croft ou como em Gone in Sixty Seconds; Morgan Freeman bem se podia ter mantido a fazer de detective (Seven) ou de prisioneiro (Os Condenados de Shawshank) - não se entende como veio aqui parar nem como o seu papel de “chefe” vai intensificar a intriga se não há qualquer duelo; os outros todos são uns canastrões.
Por fim, a intriga dá o twist habitual, previsível em teoria, de fugir na prática. A única coisa a reter deste Procurado, realizado pelo russo Timur Bekmambetov, é o impacto das imagens e os efeitos especiais. De resto, tenham dó.
Pedro Xavier
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