quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Happiness (1998)

Não, não é uma vida maravilhosa e o resto do mundo pode ser um terrível lugar: um buraco cheio de solidão, crueldade e depravação, repleto de monstros perseguidores de criancinhas. O mundo, isto é, visto segundo o realizador Todd Solondz, é reproduzido em Happiness de uma forma satírica, capaz de assustar o mais heróico espectador. Assinala também o perfil de vida americano, na sua maioria, desesperado.

O enredo do filme é o retrato de várias pessoas disfuncionais, todas elas ligadas através da vida de três irmãs de New Jersey. Joy (Jane Adams), solteira, condenada a não ter bons encontros amorosos e a trabalhos pouco satisfatórios, suspeita que toda a hostilidade do mundo está centrada nela, o que não deixa de ser totalmente verdade. Helen (Lara Flynn Boyle) é uma obcecada escritora de best-sellers sobre sexo, está cansada de tanta adoração, enquanto que a complacente Trish (Cynthia Stevenson) pensa ter tudo o que é necessário para ser feliz: três filhos, uma bela casa e um fabuloso marido. No entanto, sob a sua glamorosa fachada, Helen é atormentada pela dúvida “se ao menos tivesse sido violada quando era pequena”, pensa ela, “ao menos conheceria a autenticidade”, enquanto recebe telefonemas obscenos do sádico Allen (Phillip Seymour Hoffman). A vida de sonho de Trish está prestes a ser-lhe desmascarada quando souber que o seu marido Bill (Dylan Baker) é um pedófilo e faz dos amigos do filho vítimas.

O que há de extraordinário no filme reside na (quase) empatia que estas personagens provocam no espectador. Embora possuam um vasto leque de perversões (voyeurismo, pedofilia, assassínio, telefonemas obscenos), às vezes sente-se que o único motivo de Solondz é chocar. Happiness é divertido – repleto de humor negro – mas a maneira como constrói as suas personagens, figuras de ridicularização, vai tornando o filme cansativo até ao momento em que termina. Para além de algumas cenas boas, impõe-se a questão: o objectivo de chocar vai mais além do que algum humor negro refinado?

5/10

Pedro Xavier

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