O texto seguinte foi publicado no blog Deuxieme a 16 de Fevereiro de 2008, com o título: «Estreia da Semana (uma Obra-Prima a ver)».
Após as favoráveis críticas estrangeiras, Haverá Sangue (no seu original There Will Be Blood), o novo filme de Paul Thomas Anderson, chega finalmente às salas nacionais, e era um dos mais aguardados filmes para este ano, que concorre em várias categorias (8 nomeações, incluindo Melhor Filme e Melhor Actor) para a 80ª cerimónia dos Óscares (a acontecer no dia 24 deste mês).
No início do século XX, Daniel Plainview (o formidável Daniel Day-Lewis), um pequeno prospector de prata, descobre, através de uma dica, que a degradada cidade de Little Boston na Califórnia é um verdadeiro poço de petróleo, onde este “ouro negro” se revela à superfície. Confiante na sorte, Daniel viaja até lá com o seu filho H.W. (Dillon Frasier), e à medida que o negócio ganha uma notória prosperidade e o petróleo se confirma como um dom da natureza e um objecto de riqueza, Plainview, o seu filho e a religiosa comunidade fanática que os albergou, liderada por Eli Sunday (Paul Dano), vão viver as consequências do poder deste “sangue”, berço de conflitos e corrupção que os vai minar a todos a nível material e moral, num caminho sem retorno.
Para vos situar da magnitude desta peça de cinema, pego numa frase do crítico João Lopes para resumir, de forma muito concisa mas justa, o que temos pela frente: “Haverá Sangue é um dos filmes maiores do século XXI americano”, e mais não seria preciso escrever, pois é precisamente isso. Estamos, de facto, perante a estreia de um filme absolutamente fabuloso em todos os sentidos que o cinema encerra em si – na sua forma artística, na narrativa em forma de parábola, no sentido do drama histórico, na actual vertente temática, na qualidade da concepção e acabamento da obra - e toca a perfeição.
Baseado livremente no romance Oil!, de Upton Sinclair, Paul Thomas Anderson volta a demonstrar que é um grande realizador e contador de histórias, e como tal, o “sangue” do título identifica-se como o recurso natural oleoso, que em simultâneo adquire o seu sentido lato de líquido que nos corre nas veias: o realizador fala-nos do “sangue” que “corre” sobre a terra, sobre os homens, sobre a fé (Cristo) – e é neste triângulo dramático, interligado entre si, que nos fornece um filme de enorme riqueza, que se sobressai do panorama actual (onde este ano já figuram filmes fabulosos como No Vale de Elah, O Lado Selvagem ou The Darjeeling Limited) e nos deixa completamente extasiados ao longo de duas horas e meia de cinema em estado puro, numa realização soberbamente bem conseguida (o longo início do filme sem diálogos e o seu assombroso final são dois momentos que guardam já um lugar na história do cinema contemporâneo) e interpretações muito bem conseguidas – Day-Lewis é uma vez mais uma força da natureza – e ainda uma invulgar e notável banda sonora iminentemente narrativa, a cargo de Jonny Greenwood, guitarrista dos Radiohead. É, em suma, um filme obrigatório que marca desde já este ano, e todos os outros desde o nascimento da Sétima Arte. Uma verdadeira e original Obra-Prima.
10 /10 – Magnífico
Francisco Toscano Silva
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