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sábado, 23 de agosto de 2008

Beauty and the Beast (1991)

Foi a propósito do mais recente filme da Disney/Pixar, Wall.E, que me surgiu a seguinte questão: que outro filme de animação, na sua realidade espácio-temporal, teve semelhante impacto no público, na crítica, na indústria de animação? É verdade que o ano passado foi-nos dado um novo rato, desta vez um rato cozinheiro, de orelhas pequenas e sem um fato-macaco encarnado. Ratatouille foi um óptimo filme, sem dúvida! É melhor que Wall.E? A que nível? Haverá outro melhor? Recuemos então mais uns anos.


O clássico de Walt Disney de 1991, A Bela e o Monstro, não só é um dos melhores e mais bem conseguidos filmes de animação de sempre, como também merece, à semelhança do que actualmente acontece para Wall.E, um lugar de destaque numa lista dos melhores filmes da história do cinema. Apesar de não ter sido a maior produção dos estúdios mágicos da Disney, nem o mais recordado pelos miúdos (O Rei Leão detém aqui as honras), A Bela e o Monstro recebeu, no entanto, as mais entusiastas críticas, sendo reconhecido através da nomeação de um Oscar na categoria de Melhor Filme (nesse ano ganhou Unforgiven de Clint Eastwood). A Disney soube logo à partida estar perante um sério candidato a vencedor e, sem qualquer precedente na história do cinema, apresentou no festival de cinema de Nova Iorque 70% da animação. A calorosa recepção fez criar uma sensação euforia à volta de uma animação que não se via desde a Branca de Neve e os Sete Anões (1937).


Irresistível é dizer pouco do filme, porque cada frame está repleta de uma magia rara, quer estejamos a falar num filme de animação ou não, onde todos os elementos estão colados na perfeição, elevando o nível de qualidade que A Pequena Sereia estabeleceu em 1989.

O conto da Bela e do Monstro já é antigo. Os magos da Disney pegaram na história, deram-lhe um tom muito próprio, modernizando-a: Belle é uma feminista, com vontade própria, independente, forte e esperta; todos os objectos do castelo encantado, desde candelabros, relógios e chávenas, estão vivos e têm vozes e personalidades muito distintas. Por fim, a fera (na minha versão em VHS o filme é dobrado em Português do Brasil), outrora foi um belo príncipe que, amaldiçoado a ficar um monstro até ao final dos seus dias caso não aparecesse alguém que o amasse, não obstante a sua aparência, reina o castelo impondo o terror aos habitantes da aldeia mais próxima. Com a chegada de Belle, invade-lhe um misto de emoções: esperança que ela seja a escolhida para quebrar o feitiço e medo que ela o rejeite pela sua horrível aparência. Debaixo desta capa de terror, bate mais forte um coração, revelador da natureza do verdadeiro herói quando Belle se encontra em perigo e o Monstro arrisca a sua vida para a salvar.

O verdadeiro chamariz desta animação reside, não só nos novos efeitos especiais da época, mas também nos números musicais do filme. A sequência do baile, que mistura animação por computador com o clássico desenho à mão, é a melhor cena, em termos técnicos, de todo o filme. As outras sequências musicais podem ser igualmente comparáveis à do baile. Alan Menken e Howard Ashman (ambos de A Pequena Sereia) são mesmo os responsáveis pelo sucesso desta animação. Com toda a energia e audácia levam-nos para a Broadway, de onde retiram todas as regras para a elaboração de uma receita há muito esquecida nos anos 50/60, que é chamada de filme musical. Temos a canção inicial “There’s Belle”; “Gaston”, o tema do vilão; “Be our Guest”, com os utensílios de cozinha a cantar e a dançar; “Mob Song”, no ataque da população enraivecida ao castelo e o clássico “Beauty and the Beast”.

Não só somos transportados para a Broadway como também A Bela e o Monstro importa referências fílmicas muito marcantes na história do cinema. Ao jeito de homenagem, destacam-se, no mínimo, três clássicos: Citizen Kane, pelo castelo gótico nas cenas iniciais; The Sound of Music, quando Belle corre por verdes colinas, ao deixar para trás a sua aldeia ao longe e Frankenstein, no final, aquando a invasão do castelo é liderada por Gaston.

Combinando todos estes elementos, Beauty and the Beast, é uma mistura perfeita de romance, música, invenção e animação, num filme que não é só para miúdos, mas também para graúdos. Está para 1991 assim como Wall.E está para 2008: uma obra-prima!




Pedro Xavier

terça-feira, 22 de julho de 2008

Léon (1994)

Certamente que todos os que viram Nikita, o filme de culto de Luc Besson no início dos anos 90, sentiram uma ligeira sensação de dejà vu ao visionar Léon. Este filme de 1994 é como que uma continuação da mesma temática, no entanto, com ligeiras diferenças: Nikita (Anne Parillaud) era uma rapariga da rua que se torna assassina em nome do governo para escapar à pena de morte; em Léon temos Mathilda (Natalie Portman), uma criança-mulher de doze anos que pretende tornar-se assassina, para vingar a morte do seu irmão mais novo.

Jean Reno interpreta um “cleaner”, um hitman profissional, sem mulher, sem amigos e sem dinheiro. Trabalha para o chefe da máfia italiana “Big” Tony (Danny Aeillo), do qual recebe os “trabalhos”, executando-os com precisão. Com o mesmo profissionalismo com que “limpa” os seus clientes, trata da sua planta num vaso, a sua única companhia. No mesmo prédio vive Mathilda que, um dia ao vir das compras, vê a família assassinada por um esquadrão de polícia de combate aos narcóticos, liderado pelo psicótico Stansfield (Gary Oldman). A câmara segue Natalie Portman por um corredor aparentemente infindável, a deslizar entre a vida e a morte até que se abre a porta da vida ou, de outro modo, a porta para a vida de Léon.

O primeiro instinto de Léon é ver-se livre da rapariga, mas não como está acostumado a fazer. Os dois acabam por ficar juntos, a aprender um com o outro. Léon ensina Mathilda a limpar a arma e ela ensina-o a ler e a escrever; ele ensina-a sobre a morte, ela ensina-o sobre a vida. Ele é um rapaz dentro de um corpo adulto, ela uma mulher no corpo de rapariga. Foi devido a este bailado, a esta interacção quase sexual entre as duas personagens que Léon não foi tão bem recebido pela crítica americana, no entanto, o romance proibido já antes tinha sido abordado em Lolita e a exploração de carácter sexual em Taxi Driver.

Léon, o filme, não é uma história de acção, nem de mafiosos, nem de polícias corruptos, embora misture todos estes ingredientes, com a grande maestria que Luc Besson imprime nas sequências de acção (The Fifth Element). Apesar destes factores, a sua grande força reside na interpretação dos actores. Jean Reno tem o papel principal mas cabe a Natalie Portman a honra de se destacar como actriz revelação afirmando-se, mais uma vez, como uma das grandes actrizes da actualidade.




Pedro Xavier

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Happiness (1998)

Não, não é uma vida maravilhosa e o resto do mundo pode ser um terrível lugar: um buraco cheio de solidão, crueldade e depravação, repleto de monstros perseguidores de criancinhas. O mundo, isto é, visto segundo o realizador Todd Solondz, é reproduzido em Happiness de uma forma satírica, capaz de assustar o mais heróico espectador. Assinala também o perfil de vida americano, na sua maioria, desesperado.

O enredo do filme é o retrato de várias pessoas disfuncionais, todas elas ligadas através da vida de três irmãs de New Jersey. Joy (Jane Adams), solteira, condenada a não ter bons encontros amorosos e a trabalhos pouco satisfatórios, suspeita que toda a hostilidade do mundo está centrada nela, o que não deixa de ser totalmente verdade. Helen (Lara Flynn Boyle) é uma obcecada escritora de best-sellers sobre sexo, está cansada de tanta adoração, enquanto que a complacente Trish (Cynthia Stevenson) pensa ter tudo o que é necessário para ser feliz: três filhos, uma bela casa e um fabuloso marido. No entanto, sob a sua glamorosa fachada, Helen é atormentada pela dúvida “se ao menos tivesse sido violada quando era pequena”, pensa ela, “ao menos conheceria a autenticidade”, enquanto recebe telefonemas obscenos do sádico Allen (Phillip Seymour Hoffman). A vida de sonho de Trish está prestes a ser-lhe desmascarada quando souber que o seu marido Bill (Dylan Baker) é um pedófilo e faz dos amigos do filho vítimas.

O que há de extraordinário no filme reside na (quase) empatia que estas personagens provocam no espectador. Embora possuam um vasto leque de perversões (voyeurismo, pedofilia, assassínio, telefonemas obscenos), às vezes sente-se que o único motivo de Solondz é chocar. Happiness é divertido – repleto de humor negro – mas a maneira como constrói as suas personagens, figuras de ridicularização, vai tornando o filme cansativo até ao momento em que termina. Para além de algumas cenas boas, impõe-se a questão: o objectivo de chocar vai mais além do que algum humor negro refinado?

5/10

Pedro Xavier