quarta-feira, 30 de julho de 2008

Beowulf (DVD)

O filme Beowulf de Robert Zemeckis pode ser visto de duas maneiras: sobre o que trata e como lá chega. A história do guerreiro viking Beowulf data de há séculos e foi passada de geração em geração até ser lida nas escolas. Adaptada por Neil Gaiman (“MirrorMask”) e pelo co-argumentista de Pulp Fiction Roger Avery, conta a viagem de Beowulf à Dinamarca com os seus cavaleiros, os Thanes, para vencer o monstro Grendel que aterroriza o reino do rei Hrothgar e como Beowulf enfrentou a tentação da sedutora mãe de Grendel.

Zemeckis conta a história de maneira tão atractiva que, desde o primeiro instante, nos prende a atenção. Através de animação de computador foto realista, o filme capta as texturas de maneira brilhante. A madeira do salão do rei Hrothgar, os dentes afiados e a carne de Grendel, o cabelo da rainha Wealthow, o líquido que escorre pelo corpo nu da mãe de Grendel e muito mais. A animação traz ainda elementos da lenda para a magnitude do grande ecrã, tais como a luta de Beowulf com o dragão.

É, no entanto, o elemento humano que mais causa perplexidade. Zemeckis conseguiu reunir um impressionante elenco de luxo para dar corpo e voz às personagens: Ray Winstone como o valente guerreiro Beowulf, Anthony Hopkins como o velho rei Hrothgar, Robin Wright Penn como a bela rainha Wealthow, Brendan Gleeson como o fiel tenente Wiglaf e Angelina Jolie como a bruxa sedutora e mãe de Grendel. Zemeckis usou tecnologia motion-capture – pôs os actores vestidos com fatos repletos de pontos, filmou-os e colocou a informação do seu movimento e posição em computador. Esta tecnologia já antes tinha sido usada em 2004 em Polar Express.

Beowulf, o filme, aparte os espantosos efeitos visuais e virtuoso elenco, não passa de um mediano filme de acção. O surpreendente na história está no argumento, na introdução da vulnerabilidade e da fraqueza humana por detrás da lenda. Desejo, traição e culpa fazem parte do centro psicológico de Beowulf, dando à luta final com o dragão algum significado freudiano. Woody Allen tinha dito em Annie HallJust don't take any course where they make you read Beowulf”.





Pedro Xavier

terça-feira, 29 de julho de 2008

The Searchers - A Desaparecida (1956)

O filme começa em 1868, no Texas, com um magnífico plano filmado através de uma porta a abrir-se para o deserto vermelho do Arizona (foi onde foi filmado) e para as formações rochosas que o caracterizam. A silhueta de uma mulher sai da escuridão da casa em direcção ao deserto para cumprimentar Ethan Edward (John Wayne), recém-chegado da Guerra Civil. Na casa vivem o seu irmão Aaron (Walter Coy) e a mulher Martha (Dorothy Jordan), o filho Ben (Robert Lyden) e as duas filhas Lucy (Pippa Scott) e Debbie (Lana Wood / Natalie Wood). É por Martha que Ethan está apaixonado, pelos gestos que demonstra, mas sem nunca o dizer.

O primeiro sinal do ódio de Ethan aos índios surge quando filho adoptivo Martin Pawley (Jeffrey Hunter) chega para jantar. Apesar de ser apenas 1/8 Cherokee, Ethan olha-o com desaprovação (rejeita-o como sobrinho) e goza-o por ter ascendência índia. O conflito interno de Ethan é ainda mais acentuado quando se sabe que foi Ethan quem o salvou de um massacre índio. John Wayne interpreta em A Desaparecida uma das suas mais complexas e enigmáticas personagens: o cowboy solitário, dominado pelo ódio aos Comanches, procurado pela justiça e com uma quantidade considerável de ouro.

Por terem saído à procura de gado desaparecido, Ethan e Marty não estão presentes quando o resto da família é massacrado num ataque índio. Sem se mostrar qualquer violência, John Ford cria nesta sequência o suspense necessário e explicativo do que virá a acontecer, num conjunto de cenas inteligentemente sequenciadas: um estranho silêncio ao anoitecer seguido de sons estranhos; um cão a ladrar nervosamente no alpendre; Aaron pega nervosamente na arma e diz à família que vai caçar antes do jantar; Martha diz às filhas para não acender as luzes de casa; esta situação culmina num estridente grito de Lucy quando se apercebe, apenas pelas medidas dos pais, que estão prestes a ser atacados por índios. Apenas Debbie consegue fugir da casa, refugiando-se atrás da lápide da sua avó. É aqui que é explicado ou onde é dada a única pista para o ódio de Ethan. Está inscrita a mensagem: “Here lies Mary Jane Edwards, killed by Comanches, A good wife and mother”.

O racismo de Ethan é óbvio e perturbante, tornando-se essencial para o desenrolar da história. Após anos e anos de perseguição ao chefe comanche Scar, responsável pelo massacre e pelo rapto de Debbie, quando finalmente Ethan a encontra não se sabe se a vai matar ou não. Afirma que mais vale estar morta do que viver como uma Comanche. Para além de arqui-inimigo, em Scar é representado o alter-ego do herói. Scar teve Martha antes de a matar e, por isso, ao mesmo tempo Ethan odeia-o e inveja-o.

Ethan tem ainda outras reacções: abate búfalos com a desculpa de que não poderão servir para alimento dos Comanches naquele Inverno e ainda atira sobre índios mortos. Outros sinais de racismo são demonstrados, por outras personagens, revelando o pior que os westerns dos anos 50 tinham.

No entanto, isto significa que The SearchersA Desaparecida não vale a pena de ser visto? Claro que não! A Desaparecida de John Ford é, sem sombra para dúvidas, um dos maiores westerns de sempre, repleto de belíssimas fotografias do velho Oeste americano, tem uma temática ainda actual e uma personagem profunda: John Wayne é um colosso magnífico numa grande interpretação, num papel contraditório e problemático, em torno do qual o filme gira, mas apaixonante por conseguir captar a nossa atenção.




Pedro Xavier

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Poster - Blowup (1966)


Blow Up – A História de um Fotógrafo foi o único sucesso comercial de Antonioni. Ganhou o primeiro prémio em Cannes, a Palma de Ouro, o prémio de melhor filme da National Society of Film Critics e nomeações para o Oscar de Melhor Realizador e Argumento.

Através da máquina fotográfica (ou, caso se queira, através da câmara de Antonioni), há a descoberta do motivo, há a falsa sugestão de se resolver um crime e o impacto da dedução errada. O fotógrafo Thomas (David Hemmings) é um fotógrafo profissional de grande sucesso. No seu estúdio fotografa a modelo Verushka. Tal como se vê na imagem, imitam os rituais de namoro e acasalamento de homens e mulheres, mas a relação a transitória e falsa, tal como tudo o que lhe acontece. Thomas demonstra uma falta de interesse por tudo o que lhe rodeia: um álbum de fotografias inacabado; sessões de fotografia a modelos de ressaca; adolescentes que querem ser modelos; sexo oferecido em troca de um misterioso rolo de fotografias.

É partir disto que Thomas ganha algum alento para a sua vida (bebe, droga-se permanentemente e é supostamente divorciado?). Por não saber o que contém o rolo que fotografou, revela as fotografias e amplia-as (blow up). Um factor de destaque é o da tecnologia e a sua incerteza. A dita permite ao protagonista invadir a privacidade alheia, moralmente condenável. No entanto, o artista ou a personagem é forçada a ver ou a questionar-se se o que realmente viu aconteceu. Daí que o seu quarto escuro se torne numa lente de ampliação da realidade.

Aquando o desfecho do filme, o cadáver que Thomas vê nas fotografias já não existe e, como já não nada vê (existe), alinha num jogo de mimos atirando uma bola fictícia a dois jogadores de ténis, desaparecendo da imagem ao fundo do parque.

Pedro Xavier

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Esta Semana no Cinema...

O texto seguinte foi publicado no blog Deuxieme a 25 de Julho de 2008, com o título: «Estreias da Semana».


O CAVALEIRO DAS TREVAS

A segunda aventura de Batman, novamente concebida pelo olhar de Christopher Nolan, é um objecto que rebenta – literalmente – com todas as ideias e barreiras de conceito da personagem, do seu universo e da adaptação cinematográfica de BD. “O Cavaleiro das Trevas” encaixa na perfeição, sem perder tempo com apresentações, no encadeamento de “Batman – O Início”, (um dos filmes maiores de 2005, munido de fazer um reset ao passado do herói, alimentado anteriormente pelo delicioso expressionismo gótico de Tim Burton e pelos duvidosos circos de néon de Joel Schumacher) e consegue a soberba proeza de ultrapassar todas as qualidades do capítulo anterior, resultando numa magnífica sequela, em tudo superior.

Estamos, garantidamente, perante “a encenação cinematográfica definitiva do Homem-Morcego”, como Jorge Mourinha escreve hoje no Público. De facto, “O Cavaleiro das Trevas” é um novo passo no mundo de Batman e do cinema dos super-heróis, onde tudo gira em Gotham City, uma metrópole com identidade própria, que surge como pano de fundo da acção, e que é tomada de assalto pela personificação do mal absoluto, tornando-se num palco de luta entre o bem e o mal (parecenças com Heat não surgem à toa e são justamente bem empregues), onde o medo e o caos iniciam a sua proliferação pelas mentes e corpos dos cidadãos, que discutem os termos de justiça entre si mesmos e não com as autoridades, que questionam continuamente.


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Existem dois vértices vitais na composição d’ “O Cavaleiro das Trevas”. O primeiro manifesta-se claramente – e num grau de importância superior – nos seus criadores, a dupla dos irmãos Nolan. Jonathan e Chris escreveram o guião, no curto espaço de um ano, com uma noção de dramaturgia e tragédia acima do normal, e que se exprime em dois importantes pontos: o facto de terem composto esses elementos em personagens oriundas da BD, ao mesmo nível com que exploram tudo isso numa base real, num subtil tom pós 11 de Setembro e que pinta soberbamente a realidade em que vivemos e onde as personagens dos comics também mostram ter lugar. Para além da força estrutural do guião, é de salientar a sóbria, mas imponente, realização de Chris, onde o mais curioso ponto de análise surge numa mudança de estilo face ao capítulo anterior (uma mise-en-scène mais clara e elaborada, um ritmo mais pausado e planos verdadeiramente saídos de vinhetas da BD) e no uso da cor (o castanho ferrugento d’ O Início é aqui substituído por um azul hipnótico, e a grandiosidade da acção e a visão caótica e violenta do espaço urbano remete-nos para o melhor de Michael Mann).

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O segundo vértice deste capítulo estende-se ao brilhante trio de personagens principal. Batman é-nos trazido uma vez mais por Christian Bale, que veste e acompanha, com naturalidade e segurança, a maturidade da pele do Homem-Morcego, e que vive aqui dias de amargura e um teste à sua força interior, nunca antes explorado. O seu sentido de justiça e motivação incorruptível mantém-se a todo o custo, mas isso e a obsessão por uma vida normal vão levar consigo um preço muito elevado. Na mesma estrada, encontramos do lado oposto o maior vilão de sempre: Joker, interpretado pelo falecido Heath Ledger. Sem exageros, confirma-se que Ledger é verdadeiramente assombroso, genial, abismal; falamos de uma das maiores composições de uma personagem dos últimos 25 anos (ao nível de um Hannibal Lecter), ele é o rosto maior do caos e da anarquia, e também é, sem dúvida, a maior encarnação de Joker do grande ecrã (sem menosprezo pelo fabuloso Jack Nicholson), que testa constantemente a identidade e sanidade de Batman. Para além do brilhante trabalho do actor, é formidável a forma como ele nos surge e como se mostra; cada origem das suas cicatrizes remete-nos para um passado turbulento e sombrio (curiosamente relativo a comics tão conhecidas como o caso de Piada Mortal, na história da esposa), que funciona perfeitamente para concebermos a deturpada existência do personagem, sem que seja necessário mostrar flashbacks ou utilizar outros meios e quebrar a soberba narrativa, o que nos mostra o Joker como “pleno e absoluto”, pelas próprias palavras de Chris Nolan (Sam Raimi que olhe bem para este exemplo no futuro). Por fim, Harvey “Duas Caras” Dent, surpreendentemente interpretado por Aaron Eckhart, é uma personagem de enorme força ao longo de todo o filme. Falamos de si num registo de tragédia grega, onde a sua perda, sofrimento e transformação valem a Eckhart um dos seus melhores momentos no cinema até hoje. O final dúbio da sua existência não deixa de valorizar o seu lugar numa cidade corrupta e refém do mal, onde o sacrifício se apodera dos inocentes e dos mais bravos.


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Ao olharmos para este leque de mentes atormentadas, verificamos que estas 3 peças vivem interligadas entre si, de uma forma indissociável; se olharmos perto, Batman e Joker são duas faces da mesma moeda – uma infância traumática e abusiva – que se verifica uma linha ténue sobre a fronteira entre o bem e o mal, culpada pelo nascimento de Harvey “Duas Caras” Dent (seja pela malvadez aliciante de Joker como pela inacção de Batman); ao mesmo tempo temos a proeminente questão do nosso herói se debater ferozmente com as “duas caras” da sua própria existência, ao questionar (em conjunto com a cidade que o viu nascer) a sua missão de justiceiro, em simultâneo com o seu lugar de homem que nela quer viver – todos estes dilemas e mistérios, ainda que irónicos, são tudo menos inocentes, e resultam de uma forma absolutamente notável e eficaz, e que pedem ao filme uma segunda ou terceira revisitação, que se torna mais rica.

São inúmeros os momentos fenomenais deste filme, mas entre eles destacam-se o interrogatório a Joker, a conversa de Joker com Harvey no Hospital e ainda o encontro final entre Batman e Joker. Além disso, Hans Zimmer e James Newton Howard compõem uma banda sonora de enorme peso (o tema do Joker é assustador), Nolan filma como poucos, o elenco é todo ele fabuloso (ainda que a beleza e inocência de Katie Holmes não seja igualada por Maggie Gyllenhall, que é, apesar disso, muito competente), o argumento é negro, sólido e complexo e os fardos a carregar são cada vez mais pesados, numa Gotham que está a saque. A maior graça é que tudo isto está a ser “vendido” às massas como um blockbuster mainstream, mas na verdade é tudo, mas mesmo tudo, menos isso.


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Em suma, para além de um verdadeiro épico mascarado de rostos grotescos e almas feridas (onde os géneros noir, policial e thriller se misturam avidamente), Christopher Nolan vai mais longe ao elevar a missão de Batman a um julgamento – até que ponto pode coexistir a justiça institucionalizada com a pessoal, e o que o separa do Joker além dos motivos – e dá-nos um enorme tratado sobre a vingança e as noções de perdão e sacrifício, tão sombriamente encaradas ao longo de duas horas e meia de grande cinema, onde a força da BD se mistura com a problemática realidade do terrorismo global, e que culmina num negro e poderoso final. Uma obra-prima.




Francisco Toscano Silva

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Cloverfield - Nome de Código Cloverfield (DVD)


Manhattan tem sido, na maioria das vezes, o alvo preferencial de realizadores dos chamados filmes de apocalypse. Pelo que se tem visto até aos dias de hoje, já dá para retirar uma ideia acerca da qualidade do filme (lembro-me do absurdo Godzilla). No entanto, com alguma inspiração no 11 de Setembro, um ritmo ofegante e um medo oculto, o mais recente filme do realizador Matt Reeves irá ressoar pela história do terror na cidade de Nova Iorque, tal como nenhum outro alguma vez o conseguiu.

Cloverfield é, essencialmente, um filme feito de câmara ao ombro, tal como se viu no sobrevalorizado Blair Witch Project e no mais recente vencedor do Fantasporto, [REC]. O filme segue de perto um grupo de jovens em busca de uma amiga presa num edifício, depois de um monstro ter saído do mar e decapitado a cabeça da Estátua da Liberdade, enviando-a para as ruas a meio do lower East Side. Se bem que não se diga, este acaba por ser o momento mais simbólico do filme produzido pelo criador da série televisiva Lost, J.J. Abrams. Tal como naquela trágica manhã de Setembro, a queda de um símbolo da cidade (na realidade é a queda do valor essencial que representa o alicerce máximo da sociedade norte-americana) conduz o espectador por uma exaustiva réplica do pânico generalizado que se gerou, então, nas ruas de Nova Iorque.

No geral, Cloverfield é rápido, pessoal, imediato e cheio de fumo e fuligem. Porque nada aconteceu se não for gravado numa câmara (toda a gente o sabe) é fundamental que este objecto de culto do século XX siga todos os passos das personagens, todos os esguichos de sangue, todos os dramas, romances e histerias, como se fosse um reality-show. Assim como um mau filme costuma ser, Cloverfield segue o caminho oposto: não oferece respostas, mas oferece quase 90 minutos de entretenimento. Já há o cheiro a sequela no ar…




Pedro Xavier

terça-feira, 22 de julho de 2008

Léon (1994)

Certamente que todos os que viram Nikita, o filme de culto de Luc Besson no início dos anos 90, sentiram uma ligeira sensação de dejà vu ao visionar Léon. Este filme de 1994 é como que uma continuação da mesma temática, no entanto, com ligeiras diferenças: Nikita (Anne Parillaud) era uma rapariga da rua que se torna assassina em nome do governo para escapar à pena de morte; em Léon temos Mathilda (Natalie Portman), uma criança-mulher de doze anos que pretende tornar-se assassina, para vingar a morte do seu irmão mais novo.

Jean Reno interpreta um “cleaner”, um hitman profissional, sem mulher, sem amigos e sem dinheiro. Trabalha para o chefe da máfia italiana “Big” Tony (Danny Aeillo), do qual recebe os “trabalhos”, executando-os com precisão. Com o mesmo profissionalismo com que “limpa” os seus clientes, trata da sua planta num vaso, a sua única companhia. No mesmo prédio vive Mathilda que, um dia ao vir das compras, vê a família assassinada por um esquadrão de polícia de combate aos narcóticos, liderado pelo psicótico Stansfield (Gary Oldman). A câmara segue Natalie Portman por um corredor aparentemente infindável, a deslizar entre a vida e a morte até que se abre a porta da vida ou, de outro modo, a porta para a vida de Léon.

O primeiro instinto de Léon é ver-se livre da rapariga, mas não como está acostumado a fazer. Os dois acabam por ficar juntos, a aprender um com o outro. Léon ensina Mathilda a limpar a arma e ela ensina-o a ler e a escrever; ele ensina-a sobre a morte, ela ensina-o sobre a vida. Ele é um rapaz dentro de um corpo adulto, ela uma mulher no corpo de rapariga. Foi devido a este bailado, a esta interacção quase sexual entre as duas personagens que Léon não foi tão bem recebido pela crítica americana, no entanto, o romance proibido já antes tinha sido abordado em Lolita e a exploração de carácter sexual em Taxi Driver.

Léon, o filme, não é uma história de acção, nem de mafiosos, nem de polícias corruptos, embora misture todos estes ingredientes, com a grande maestria que Luc Besson imprime nas sequências de acção (The Fifth Element). Apesar destes factores, a sua grande força reside na interpretação dos actores. Jean Reno tem o papel principal mas cabe a Natalie Portman a honra de se destacar como actriz revelação afirmando-se, mais uma vez, como uma das grandes actrizes da actualidade.




Pedro Xavier

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Let's put a smile on that face












Pedro Xavier

Eli Roth analisa trailer de Hitchcock

Eli Roth, realizador dos filmes Cabin Fever, Hostel, Hostel: Part II e co-realizador de Grindhouse, analisa o trailer de um dos mais famosos filmes de Alfred Hitchcock. O curioso neste trailer do filme de '63 reside no facto de, durante os 5 minutos em que o realizador inglês nos aguça o apetite, nunca se ver um plano do filme. Assim como os seus filmes eram repletos de suspense, o mestre aplica a mesma receita na elaboração deste trailer. Senhoras e senhores, eis The Birds.
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Pedro Xavier

Poster - 2001: A Space Odyssey (1968)

Poderá não existir outro poster tão enigmático como o filme que representa. O que representa um olho? E o feto humano? 2001: Uma Odisseia no Espaço foi, é e continuará a ser um filme absolutamente intemporal na sua vertente filosófica, metafísica ou mesmo transcendente. Um dos maiores desafios com que Stanley Kubrick se deparou na pré-produção foi como encontrar maneira de representar coisas que nunca antes tinham sido vistas. Foi depois de ver o documentário apresentado pela NASA, To the Moon and Beyond, que Kubrick reuniu a equipa de produção para avançarem para a realização dos efeitos especiais do filme (Oscar de 1968).

Apesar de Kubrick e Arthur C. Clarke trabalharem em separado, respectivamente, na elaboração do argumento e do livro de título homónimo, ambos se reuniam permanentemente para criarem um todo coeso. Em resumo, a história reunida teve como missão criar um poema visual sobre a evolução do Homem. Muitas das cenas com diálogos e cenas que representavam a vida dos astronautas foram cortadas ao longo da produção e, por isso, 2001: A Space Odyssey é um filme não-verbal, um filme intelectualmente verbalizado de forma poética e filosófica.

Uma das questões que o filme levanta, é acerca da natureza humana. O filme termina com o olhar enigmático e ambíguo do Feto Astral - um olhar sobre a Terra. Tal como acaba, o filme inicia com o início da Terra, perdoe-se o pleonasmo, o amanhecer do Homem: o macaco assassino que mata na luta por um poço de água e pela sobrevivência do seu grupo. E a questão põe-se: irá o Homem mudar ou continuar igual?


Pedro Xavier

domingo, 20 de julho de 2008

Lindsay Monroe

Em 1962, o fotógrafo Bert Stern (fotógrafo do poster do filme Lolita) tirou uma série de fotografias a Marilyn Monroe que, no seu conjunto, ficaram conhecidas como "The Last Sitting". As fotos foram tiradas em várias sessões no Hotel Bel-Air e são, sem qualquer dúvida, as mais famosas imagens da actriz mais conhecida da América. Seis semanas após terem sido tiradas, Marilyn foi encontrada morta, devido a uma overdose.

Quarenta e seis anos depois, Stern recriou as famosas fotos mas com outra actriz igualmente famosa (não pelos seus atributos artísticos). Lindsay Lohan re-encarna a persona mais extravagante e erótica que havia em Marilyn, num atributo e numa representação iconográfica da importância atribuída pelo pensamento contemporâneo aos mártires da história americana.

As fotos podem ser vistas aqui.


Pedro Xavier

sábado, 19 de julho de 2008

The Beginning Is The End Is The Beginning...

... é o tema que se ouve no mais recente trailer de Watchmen. Recentemente remixado numa nova versão, o tema escrito e composto por Billy Crogan, ao qual deu voz pelos já extintos Smashing Pumpkins, foi originalmente adaptado para outro super-herói. Joel Schumacher foi o responsável do considerado worst-Batman-ever-made [Batman&Robin (1997)], onde o governador da Califórnia fazia de vilão e fatos com mamilos davam a pior imagem de sempre de uma das personagens mais problemáticas do universo DC.

O realizador de 300, Zack Snyder, explica o porquê deste tema.



Pedro Xavier

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Watchmen Teaser Trailer



Mais um filme... e não nos cansamos disto! Depois de Dark Knight, chega do universo de banda desenhada DC Comics o grupo de Vigilantes, conjunto de personagens criadas pelo mago Alan Moore na década de 80. O filme é realizado por Zack Snyder (300) e está para vir em 2009. Até lá, é ver o trailer e ficar à espera.



Pedro Xavier

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Wanted

Wesley Gibson (James McAvoy) representa a atípica ideia do ser humano mais chato à face da Terra. Tão chato que nem ele próprio consegue encontrar nada relativo ao seu nome no Google. Tem um trabalho que odeia, uma chefe insuportável e a namorada trai-o com o seu melhor amigo. Quando Fox (Angelina Jolie) o encontra na farmácia local e o salva de um assassino chamado Cross (Thomas Kretschmann), segue-se uma perseguição pelas ruas de Chicago que desafia todas as leis da física. Wesley é apresentado a um grupo de rufias que pertence à Fraternidade – uma secreta sociedade milenar de assassinos cujo intuito é “limpar” o mundo dos bandidos e de todas as coisas más (atenção: eles são todos tão bonzinhos). Após uma breve relutância, Wesley aceita que é filho de um antigo membro e, para ser admitido no clube, leva uma data de sovas, facadas e faz um intensivo treino de armas de maneira a conseguir desviar as balas (ou enviá-las “com efeito”).

O filme é baseado na banda desenhada de Mark Millar. Os fãs, intrigados pelo conceito de assassinos de mau carácter serem os super-heróis do mundo, só podem ter ficado decepcionados com esta versão clonada do Matrix, repleta de lugares-comuns, sem qualquer traço de qualidade filosófica e (não pedindo mais) sem aquela ingenuidade que os irmãos Wachowski deram à trilogia. Como se pode levar a sério um filme onde a divina intervenção dos magnânimos seres criadores do universo é representada por uma máquina de tear, chamada “tear do destino”?

Há duas maneiras, igualmente válidas, de olhar para Wanted: (1) como entretenimento em estado puro - um blockbuster de Verão na sua essência; (2) como um filme, em todas as suas letras. Foi com o estado de espírito da opção (1) que entrei na sala de cinema e, a bem da verdade, passei um bom bocado. Deixei-me levar pela acção bruta na esperança de uma viagem repleta de adrenalina que me fizesse esquecer que estava a ver uma história cujo destino das personagens é decidido por uma máquina de tecidos.

No entanto, vendo o panorama geral a frio, não se pode deixar de dar importância à opção (2). Tal como o tecido do destino, o argumento (Michael Brandt) está repleto de buracos. Falta-lhes dar seguimento, desenvolvimento, profundidade, história, uma relação amorosa. Parece uma novela onde afinal “o meu pai eras tu?” e só falta encontrar uma meia-irmã no final. As personagens, à excepção da de James McAvoy (que bem podia ter sido aproveitada para um filme independente sobre a depressão da moderna american way of life), não têm qualquer carisma: Angelina Jolie está de regresso aos papéis ocos como em Lara Croft ou como em Gone in Sixty Seconds; Morgan Freeman bem se podia ter mantido a fazer de detective (Seven) ou de prisioneiro (Os Condenados de Shawshank) - não se entende como veio aqui parar nem como o seu papel de “chefe” vai intensificar a intriga se não há qualquer duelo; os outros todos são uns canastrões.

Por fim, a intriga dá o twist habitual, previsível em teoria, de fugir na prática. A única coisa a reter deste Procurado, realizado pelo russo Timur Bekmambetov, é o impacto das imagens e os efeitos especiais. De resto, tenham dó.




Pedro Xavier

Porquê insistir?


A sinopse lançada pela Warner Bros. diz o seguinte

"Set in post-apocalyptic 2018, John Connor (Christian Bale), the man fated to be the leader of the human resistance against Skynet and its army of Terminators, and the future he was raised to believe in is altered in part by the appearance of Marcus Wright (Sam Worthington), a Terminator whose last memory is of being on death row. Connor must decide whether Marcus has been sent from the future, or rescued from the past. As Skynet prepares its final onslaught, Connor and Marcus both embark on an odyssey that takes them into the heart of Skynet's operations, where they find out a terrible secret that may lead to the possible annihilation of mankind."

O filme é realizado por McG (Charlie's Angels)... A única coisa que ainda deve safar o filme é o Bale e, mesmo assim, de certeza que vai precisar de um argumento forte. Vamos esperar para ver. Por enquanto, espreitemos o teaser trailer de Terminator Salvation.




Pedro Xavier


Coincidência?



Pedro Xavier