Em A Morte de Ivan Ilich, de Lev Tolstoi, a personagem principal, Ivan, funcionário público do sistema judicial da Rússia czarista, leva uma vida de dor física, resultado de uma angústia mental que o consome. A doença fá-lo passar por diversos sintomas, muitos devido ao stress mental a que está sujeito, no entanto, nunca descobre que a origem do seu sofrimento é essencialmente interna. É descrita como a repressão e a resistência a uma determinada ideia pode ter como consequência o sofrimento físico. O próprio Ivan reconhece que o seu corpo reagiu à dor vinda de fora (infligida por outros) e concentra-se na cura através da psicanálise, para além de se tentar curar pela medicina conhecida.
A primeira era da vida de Ivan é vivida repleta de contentamento mas, quando entra na idade adulta, sucumbe à pressão social de ter de se casar. Casa com uma mulher chamada Praskóvia Fiódorovna, “de boa família” e com “algumas propriedades em seu nome”, que afirma estar perdidamente apaixonada por ele, apesar da falta de paixão recíproca. Ivan é indiferente ao casamento e à sua nova mulher, não está particularmente entusiasmado mas também não é tiranizado por ele. O casamento acaba por se tornar uma maneira de viver, como qualquer outro hábito. Depois de descobrir um lado mais desagradável na persona de Praskóvia, chega à conclusão de que estará preso àquele casamento até ao fim dos seus dias. À procura de uma fonte alternativa de felicidade, focaliza grande parte dos seus dias na sua carreira, para se afastar daquela amarga situação que faz parte da sua vida. A reviravolta na história ocorre quando, ao decorar a nova casa que o seu cargo lhe permite ter, ao subir o escadote, «recuou e caiu, mas como homem forte e ágil, segurou-se e apenas chocou de flanco contra o fecho de uma janela». Pouco a pouco, a doença resultante da queda torna-o incapaz de desfrutar as riquezas e o convívio em sociedade que os anos de esforço e a consequente ascensão social lhe haviam sido oferecidos.
Deste ponto para a frente, Ivan passa por episódios incrementalmente dolorosos à medida que envelhece e torna-se ainda mais descontente com a sua vida familiar. Aquilo que começou por «um gosto estranho na boca e um certo desconforto no lado esquerdo do ventre», expandiu-se em dores insuportáveis que intoxicam o seu corpo, começando pelo peito e que, por vezes, o levavam à total imobilização, acompanhada por uma irritante irritabilidade. O seu sofrimento faz com que reflicta sobre a efemeridade da vida e a inevitabilidade da morte. A solução apresentada para se ultrapassar a dor física é viver a emoção de uma memória reprimida, verbalizando-a. Ao confrontar os pensamentos desagradáveis dessa memória à situação dolorosa que se vive, uma pessoa é capaz de superar desse momento traumático e tornar mais suportáveis os sintomas de doença física. A fonte inconsciente da doença, manifestada pela dor física, acaba por torturar interminavelmente Ivan Ilitch. Tivesse ele reconhecido que a sua dor era obra da sua miserável vida familiar, a sua consciência teria sido aliviada deste ressentimento reprimido.
Conhecido pelos seus romances Guerra e Paz e Anna Karenina, Lev Tolstoi é considerado um dos maiores escritores do século XIX. Os seus contemporâneos olharam para obra como uma crítica a um certo materialismo banal e hipócrita que regia a sociedade russa da época. A personificação de tal crítica é apresentada, não só pelos colegas de profissão, mas essencialmente pela mulher de Ivan, que o crítica implacavelmente a partir do momento em que o vê enfermo numa cama.
A primeira era da vida de Ivan é vivida repleta de contentamento mas, quando entra na idade adulta, sucumbe à pressão social de ter de se casar. Casa com uma mulher chamada Praskóvia Fiódorovna, “de boa família” e com “algumas propriedades em seu nome”, que afirma estar perdidamente apaixonada por ele, apesar da falta de paixão recíproca. Ivan é indiferente ao casamento e à sua nova mulher, não está particularmente entusiasmado mas também não é tiranizado por ele. O casamento acaba por se tornar uma maneira de viver, como qualquer outro hábito. Depois de descobrir um lado mais desagradável na persona de Praskóvia, chega à conclusão de que estará preso àquele casamento até ao fim dos seus dias. À procura de uma fonte alternativa de felicidade, focaliza grande parte dos seus dias na sua carreira, para se afastar daquela amarga situação que faz parte da sua vida. A reviravolta na história ocorre quando, ao decorar a nova casa que o seu cargo lhe permite ter, ao subir o escadote, «recuou e caiu, mas como homem forte e ágil, segurou-se e apenas chocou de flanco contra o fecho de uma janela». Pouco a pouco, a doença resultante da queda torna-o incapaz de desfrutar as riquezas e o convívio em sociedade que os anos de esforço e a consequente ascensão social lhe haviam sido oferecidos.
Deste ponto para a frente, Ivan passa por episódios incrementalmente dolorosos à medida que envelhece e torna-se ainda mais descontente com a sua vida familiar. Aquilo que começou por «um gosto estranho na boca e um certo desconforto no lado esquerdo do ventre», expandiu-se em dores insuportáveis que intoxicam o seu corpo, começando pelo peito e que, por vezes, o levavam à total imobilização, acompanhada por uma irritante irritabilidade. O seu sofrimento faz com que reflicta sobre a efemeridade da vida e a inevitabilidade da morte. A solução apresentada para se ultrapassar a dor física é viver a emoção de uma memória reprimida, verbalizando-a. Ao confrontar os pensamentos desagradáveis dessa memória à situação dolorosa que se vive, uma pessoa é capaz de superar desse momento traumático e tornar mais suportáveis os sintomas de doença física. A fonte inconsciente da doença, manifestada pela dor física, acaba por torturar interminavelmente Ivan Ilitch. Tivesse ele reconhecido que a sua dor era obra da sua miserável vida familiar, a sua consciência teria sido aliviada deste ressentimento reprimido.
Conhecido pelos seus romances Guerra e Paz e Anna Karenina, Lev Tolstoi é considerado um dos maiores escritores do século XIX. Os seus contemporâneos olharam para obra como uma crítica a um certo materialismo banal e hipócrita que regia a sociedade russa da época. A personificação de tal crítica é apresentada, não só pelos colegas de profissão, mas essencialmente pela mulher de Ivan, que o crítica implacavelmente a partir do momento em que o vê enfermo numa cama.
O destino de Ivan não só é apresentado no título da obra assim como, imediatamente, no primeiro capítulo, passado na casa do falecido, onde se desenrola o velório. A estrutura narrativa é de tal forma encadeada de maneira a manter o interesse do leitor sempre desperto até ao desfecho final. A universalidade da temática da morte é responsável por uma identificação imediata do leitor com os episódios da doença de Ivan, uma vez que são experiências comuns a todos os seres humanos.
A Morte de Ivan Ilitch é uma obra sobre a enfermidade espiritual, o sofrimento físico e a superação pelo crescimento e salvação moral através da redenção pelo sofrimento, até se alcançar a verdade.
“- E a morte? Onde está ela?
Procurava o seu habitual medo, o anterior medo da morte e não o encontrava. Onde está ela? Qual morte? Não tinha medo nenhum, porque também não havia morte.
Em lugar da morte havia uma luz.
Tal como diz António Lobo Antunes no prefácio da edição da Dom Quixote, A Morte de Ivan Ilitch é “uma das maiores obras-primas do espírito humano” e coloca a dúvida: “trata-se de uma obra sobre a morte ou de uma obra que nega a morte?”.
Pedro Xavier
1 comentário:
Acabei agora de ler esse livro!!é completamente fantástico!!
Enviar um comentário