segunda-feira, 14 de abril de 2008

David Fonseca live @ Coliseu (parte II de III)

“Sempre que acabo um disco, há uma sensação estranha, vejo-o nas minhas mãos, observo-o ao pormenor, olho-o de todos os ângulos possíveis, assalta-me sempre a mesma sensação, dou por mim a dizer sempre a mesma frase: como é possível condensar tanto tempo, as semanas e meses de procura, as frustrações e as vitórias, os acontecimentos mais estranhos, as histórias mais impressionantes, tudo aqui? O disco chega às minhas mãos, pronto para ocupar um espaço, para acrescentar mais uma página àquilo que sou. E pela primeira vez, ouço-o como se não fosse meu, levo-o para longe do sítio que o viu nascer, levo-o a ver o mundo, e eu verei o mundo através dele.” – David Fonseca


Falar hoje em David Fonseca é falar em alguém com uma carreira musical que se afirma por si só. Por detrás da imagem de rapaz tímido das canções melancólicas e introspectivas dos tempos dos Silence 4, há um novo artista, agora numa fase musical mais colorida. “Silence Becomes It” e “Only Pain is Real” foram os discos editados pela banda de Leiria [David Fonseca na voz e guitarra, Sofia Lisboa na voz, Rui Costa no baixo e Tozé Pedrosa na bateria]. O primeiro tem dez anos, o segundo tem oito e em 2004 ainda foi lançado uma colectânea (2CD+DVD) dos espectáculos gravados ao vivo no Coliseu dos Recreios. A banda atingiu rapidamente o estrelato com os singlesBorrow’, ‘A Little Respect’, ‘My Friends’ e ‘Sing Me Something New’, tendo chegado ao ponto de ter sido convidada a actuar em vários locais na Europa.


Mas a banda não estava destinada, o estilo introspectivo, repleto de densidades negras e ambientes crus, não era algo que apelasse a uma continuação. O disco “Only Pain is Real”, comparado com o primeiro, foi uma completa desilusão, aproveitando-se uma ou duas músicas. Sentia-se que a formiga tinha dado um passo maior que a sua passada. Daí que David, o autor das letras e compositor, tenha naturalmente decidido abandonar o projecto da banda de Leiria e tomar um rumo a solo. O primeiro fruto desta nova aventura chamar-se-ia “Sing Me Something New” (2003) – atingiu o disco de ouro – e tinha como principais chamarizes os temas ‘Someone that Cannot Love’ e, o tema de campanha da Vodafone, ‘The 80’s’.


Foi após ter participado no projecto dos Humanos, em 2004, que em 2005 lançou “Our Hearts Will Beat as One”, composto por doze temas, um dois quais em português. A nova banda de David Fonseca era agora composta por Sérgio Nascimento na bateria, pelo guitarrista Ricardo Fel e pela pianista ex-Atomic Bees Rita Pereira (viria a tornar-se Rita Redshoes), entre outros. Tal como afirma o cantor, o seu segundo trabalho foi «assustadoramente pessoal». Bem o podem dizer as canções ‘Who Are U?’ e ‘Hold Still’, esta última em dueto com Rita Redshoes. Inicialmente era uma música sobre o que seria a solidão nas grandes cidades, acabando por se tornar simplesmente numa canção sobre a solidão.


Voltando ao início, a quote é retirada do webisódio 6 e o disco que David não o ouve como se fosse seu, é aquele que já foi apresentado por todo o país e sábado, 12 de Abril, arrebatou Lisboa num concerto que se pode chamar, no mínimo, de memorável. “Dreams in Colour” é dos três discos do cantor o mais colorido, «positivo» e «luminoso». Daí que em Setembro, no final do Verão, tenha posto todas as rádios a assobiar o primeiro singleSuperstars II’ - dois meses antes já a comunidade de fãs sabia da existência do vídeo e cantarolava em privado. O disco conta ainda com temas tão diversos e importantes como ‘4th Chance’ (que aproveita as trompetes de um bando de mariachis), ‘Kiss Me Oh Kiss Me’ (o tema do momento), ‘This Wind, Temptation’ (o tema mais negro do disco) e uma cover do êxito de Elton JohnRocket Man’. David Fonseca afirma que a música não é um tema fácil e chamou-lhe a atenção por apontar «uma segunda vida, um segundo plano» no verso «I’m not the man you think I am at home». Para além do polémico vídeo do travesti (que afinal até foi bem aceite), David consegue manter-se em todas as linhas da frente, quer com temas de sucesso em rádios comerciais, quer com os outros em rádios alternativas.


A diferença deste último disco para os anteriores está na nova musicalidade e nas facetas de inovação estética que o caracterizam. De música para música, novos ritmos, novos sons e novas tendências. ‘Silent Void’ e ‘This Raging Light’ põem de lado as baladas de guitarra acústica na mão predominantes nos discos anteriores, conseguindo pôr a dançar e surpreender quem pensava não estar perante o maior artista português contemporâneo.


(fim da parte II)


Entrevistas: South By Southwest, Sobre P.T. Anderson;


Coliseu: Preparação, Ao Vivo (Silent Void + Kiss Me, Oh Kiss Me);


Pedro Xavier


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