terça-feira, 15 de abril de 2008

David Fonseca live @ Coliseu (parte III de III)

«Nunca percebi muito bem o conceito de inspiração. No dicionário aparecem algumas explicações, explicam a inspiração como uma sugestão, um entusiasmo criador ou uma insuflação divina. Mas o que inspira uma canção? De onde vem todo este som? Há quem diga que vem da raiva, da desilusão, do descontentamento, da revolta, há quem diga que vem do amor, do encantamento, do êxtase, da felicidade, do sexo, da fantasia, do inesperado, da surpresa, do choque, da calma. Eu acredito que a inspiração é uma das maiores mentiras da arte: não existe. O que existe é um mundo cheio de pessoas e coisas em constante mutação. Os meus olhos fixam aquilo que parece ser mais importante e depois tento concentrar esses pequenos retratos em canções. Gravo-as em mini cassetes onde quer que esteja e mais tarde, tento perceber as harmonias e melodias entre o ruído de fundo. De onde vem todo este som?» – David Fonseca

É já conhecendo o background do cantor pelos dois posts anteriores que chegamos finalmente ao dia do grande concerto, uma data que certamente nunca será esquecida pelos que estiveram na noite de 12 de Abril de 2008 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Além disso, o cantor prepara o lançamento do concerto em formato DVD. A sala de Lisboa surge como o ponto alto da “Dreams in Colour Tour” que, tendo por base o último disco, já antes tinha passado pelas lojas FNAC e muitos cineteatros de todo o país.


Para abrir o concerto, actuou a pianista da banda de David Fonseca, Rita Pereira, sob o fantasioso nome artístico de Rita Redshoes [ler mais]. Não fugindo à regra, Rita tem realizado sempre as primeiras partes na “Dreams in Colour Tour”, aproveitando para dar a conhecer o seu primeiro álbum a solo “Golden Era”, editado este ano. Rita apresenta-se sempre de sapatos vermelhos, a contrastar com o vestido negro que habitualmente enverga. Não foi de negro, mas de um branco refrescante e luminoso, iluminando com a sua voz a sala já escura do Coliseu. Encantaram o público ‘Choose Love’, ‘Hey Tom’, ‘Your Waltz’ e a já badalada ‘Dream on Girl’. Influenciada pela música de David, Rita Redshoes está a tornar-se numa artista que pretende fugir à monotonia, apostando no uso de novos elementos sonoros para a criação de música. Despede-se do público com um «Até já», sinónimo de quem irá mais tarde satisfazer a vontade do público com um dueto em ‘Hold Still’, o mais conhecido single do álbum “Our Hearts Will Beat As One”, o segundo de David Fonseca a solo.


«Estamos a preparar um espectáculo muito específico para este dia. (...) Temos surpresas em grande para as pessoas que vão estar a assistir. (...) A ideia é (...) que possa ser não só um espectáculo sonoro mas visual (...) e que possa trazer algumas coisas inesperadas, mas que fazem parte da minha carreira e da minha forma de ver a música e de estar na música» - David Fonseca


Já por esta altura a sala nobre de Lisboa estava “quentinha” e ansiava-se pela entrada do mestre-de-cerimónias. O concerto começou com a projecção de um pequeno filme auto-biográfico, o primeiro de outros que lhe seguiriam, à semelhança dos webisódios. E é aqui que entra a inspiração da quote inicial do webisódio 2. Não há qualquer outro cantor deste pequeno rectângulo luso que faça e/ou tenha feito um espectáculo do mesmo género que foi apresentado na noite de 12 de Abril. David recorreu a diversos elementos cénicos para organizar o seu show: os tais pequenos filmes, stand-up comedy (para surpresa de muitos), reconversão (paródia) de pop hits contemporâneos e ainda uma introdução de mariachis. Consequentemente, os alicerces que sustentam a noção/ideia/estereótipo de concerto foram completamente abalados (senão mesmo abolidos). Não foi um «desfilar de canções», foram actos, como se de uma peça de teatro se tratasse. Daí que o que se assistiu não foi um concerto, foi um espectáculo, com princípio, meio e fim, e o público sempre a pedir mais.


Foram os tais mariachis que arrancaram pelo palco dentro e abriram as hostilidades com ‘4th Chance’, o título inicial de “Dreams in Colour”. Seguiram-se ‘Our Hearts Will Beat as One’, ‘Song to the Siren’, de Tim Buckley, e todas as outras que David já nos habituou, de entre elas, ‘Kiss Me, Oh Kiss Me’ sentado em cima do piano de Rita Pereira (agora era Pereira, Redshoes tinha ficado nos bastidores), ‘Superstars II’ (todo Coliseu assobiou a melodia) e ‘Silent Void’. Nesta última, David rodopiou na placa giratória no chão enquanto cantava pelo megafone que segurava, para júbilo do público.


Os pontos altos do show David Fonseca incidiram sobre três músicas de destaque: primeira, como não podia deixar de ser, no dueto em ‘Hold Still David sentou-se de costas voltadas para Rita e, antes de passarem as imagens de uma Londres triste e melancólica nos grandes ecrãs, pediu «cantem se souberem a letra». Não era preciso pedir, esta era daquelas que deitaria a casa abaixo; na segunda, ‘This Raging Light’, David virado para o público e destacado por um holofote concentrava as atenções do público em si, escondendo atrás do pano negro uma mudança radical no palco. Quando a batida da música se intensificou revelaram-se bolas espelhadas e dançarinos, estilo ‘Hung Up’ de Madonna; terceiro, foi ‘The 80’s’, intercalada pela ‘Video Killed the Radio Stars’, dos Buggles, que fez libertar a (restante) energia contida nos espectadores.


Não vale a pena falar das outras todas, todas eram conhecidas. Vale é a pena referir o medley, acompanhado por um pequeno órgão, de temas tão conhecidos, que David quando segue em viagem considera extremamente depressivos e tristes, quando atenta apenas à letra e não ao ritmo pop e colorido que lhes dá cor. Foram exemplo da paródia ‘Toxic’ (Britney Spears), ‘Maneater (Nelly Furtado) ou ‘Umbrella’ (Rihanna).


Houve ainda direito a um tema novo (‘Orange Tree’), a outro antigo (‘Angel Song’, dos Silence 4 – nesta altura David calou-se, cantou apenas o público) e ainda a podermos viajar pelos sonhos coloridos de David, quando este se deita numa cama para dormir e, ao acordar, todos os elementos da banda estão vestidos com fatiotas carnavalescas para apresentar os temas finais ‘Dreams in Colour’ e ‘A Little Respect’, que deu origem a um adeus (que tal um «até já»?) acompanhado por uma chuva de vermelhos corações de papel. Não foi um concerto, foi mesmo um espectáculo inspirado e sem igual.


Pedro Xavier


1 comentário:

Anónimo disse...

Foi mágico! O David esteve em grande, como sempre!! Belo post! :D