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domingo, 28 de setembro de 2008

A Review on Death Magnetic


Cinco anos depois de lançarem St. Anger (2003), os Metallica lançam agora o novo álbum Death Magnetic. Tendo passado por um período conturbado, a banda de heavy metal aparenta agora uma consolidação que permitiu a produção de mais uma obra musical única e indispensável. Death Magnetic é arrojado em todos os sentidos; e é a prova de que a idade lhes assenta tão bem!

Naquilo a que se pode chamar um 'reencontro com a sua essência', a estrutura das músicas que compôem o novo álbum remete aos louváveis primórdios da banda, que se alteraram ligeiramente (o que não implica que seja para menos bom, apenas para diferente) com o Black Album (1991), com um ritmo menos acelerado.

St. Anger representou um descarregar de energia (negativa, pelo que dizem), classificado por muitos críticos como uma produção bizarra de "group-therapy session" (donde, no entanto, se retiram singles absolutamente extasiantes, como Frantic, St. Anger ou Some Kind of Monster, entre outros).

Com duas novidades (o baixista Robert Trujillo e o produtor Rick Rubin), Death Magnetic tem muito de ...And Justice for All, Master of Puppets e Ride the Lightning. E para reparar nisso, basta ouvir os primeiros segundos da primeira música do CD.

Segundo a própria banda, o título do álbum é um tributo a todos os companheiros do universo musical que perderam as suas vidas, pelo caminho, deixando muito ainda por fazer (ressoa sempre o nome de Cliff Burton). E, diga-se, enquanto tributo, não poderia ser mais representativo de todo o espírito que envolve o nome sonante da banda e a sua carreira; enquanto álbum, considera-se este trabalho mais um renascer que uma morte (embora a morte seja a temática recorrente dos lyrics e do design do conteúdo do CD).

Os lyrics são invariavelmente poderosos (The Judas Kiss) e o primeiro single, The Day That Never Comes, é comparado à One (...And Justice for All), numa combinação de balada e trash que, no entanto, não deixa a um canto a Broken, Beat and Scarred, onde a inconfundível voz de James Hetfield ganha uma extrema força nas linhas "What don't kill ya make ya more strong".

É um álbum que tem tanto de obrigatório, como de genial.

Sara Toscano


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Viva La Vida

Se for possível, “Viva la Vida” parace indicar uma evolução qualitativa. Sim, é possível! Este álbum, o quarto da banda de Chris Martin e companhia, surge 3 anos após “X&Y”, numa altura em que os Coldplay precisaram de alguma reflexão e redefinição. “X&Y” (2005) não foi nada equiparável ao sucesso estrondoso de “A Rush of Blood to the Head” (2002), o segundo da discografia da banda. Para não seguirem as passadas anteriores, contaram com a colaboração do produtor dos U2, Brian Eno, para os guiar por novos caminhos e direcções... e o resultado está à vista!

Desde “Life in Technicolor”, passando pelo single homónimo “Viva la Vida”, até “Death and All His Friends”, a banda britânica formada em 1998 conseguiu compilar todas as suas virtudes num pacote bonito e agradável, com vista atingir um lirismo soberbo, entusiasmante e sentimentalista, acompanhado por tons completamente equilibrados. “Viva La Vida”, o disco, é experimental e alternativo: é um misto de algo antigo do trabalho dos Coldplay e algo de novo.

Dos discos anteriores manteve-se aquele tom épico que a banda de Chris Martin deu às músicas. “Viva la Vida” é exemplo disso. “Violet Hill”, o outro single, é rock desordenado, ingovernável e indomável. É revolta… e está tão boa a música! “Strawberry Swing” leva-nos a tempos idos, medievais, com ritmos de tambores a fazer percussão e uma guitarra a dar um tom do campo, rústico, como uma cítara. Esta é capaz de ser a música mais refrescante e luminosa de todo o disco.

Estamos quase no final do disco, no entanto já passámos por “42” a mais melancólica de “Viva La Vida”. Calma, começa com um piano e a voz suave de Chris (faz lembrar John Lennon). De repente muda, temos uma longa sequência instrumental, electrónica, e eis que surge, num tom misto de alegria e tristeza «You thought you might be a ghost/You didn’t get to heaven but you made it close!». Sem nos apercebermos que acabou, já estamos a ouvir “Lovers in Japan-Reign of Love”, e por favor, sem mais ilusões ou enganos, estamos perante Arcade Fire (e isto não é uma crítica negativa), excepto a voz de Chris. Por fim, “Death and All His Friends” leva os Coldplay ao limite, põe a banda toda a cantar «I don't wanna follow death and all of his friends!», numa despedida digna de fazer parte de uma banda sonora de um filme.

O sucesso de "Viva La Vida" é merecido pois estamos perante uma das melhores bandas pop/rock de sempre.




Pedro Xavier

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Flavors of Entanglement


Flavors of Entanglement é o título do sétimo álbum da cantora canadiana Alanis Morissette, produzido por Guy Sigsworth.

Segundo a artista, o álbum tem algo de muito similar com o de 2004, So-Called Chaos. É central e visível a afirmação 'Holy shit, I am a broken woman'. De facto, a maioria das letras das músicas falam das suas relações pessoais que, segundo Alanis, "it's the only thing I can really comment on with any kind of conviction or authority". Algumas envolvem, também, um certo conflito político, que a cantora liga muito aos seus sentimentos, à sua maneira de ver e encarar as coisas.

Moratorium é uma (belíssima) faixa que serve como uma declaração de "há certas coisas más que não volto a repetir na minha vida"; Not As We é uma balada triste sobre alguém que deixou de resistir a uma recaída emocional; Underneath fala-nos de falhas de comunicação, enquanto Citizen of The Planet proporciona uma viagem pelo Mundo, vista pelos olhos da artista.

Com um estilo muito próprio e sempre facilmente identificável, este álbum tem, no entanto, uma diferença para todos os precedentes: uma veia electrónica algo carregada. Segundo Alanis, a sua paixão pela dança levou-a a incorporar alguns hip hop beats juntamente com organic instruments, numa fusão tremendamente arrebatadora.

É, sem sombra de dúvida, um álbum absolutamente obrigatório.

Sara Toscano

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Femme Fatale

O que dizer de uma banda emergente, com um nome provocativo e intrigante, ao qual está associada uma imagem de sexualidade ousada? Tal como o nome, a música segue as mesmas pisadas. Comparar a sua música à electrónica dos Fischerspooner, dos Ladytron ou ao electro-pop dos Goldfrapp será extremamente redutor? A verdade é que os Femme Fatale não andam muito longe disso.

Na realidade, o primeiro disco da banda madrilena está repleto de músicas quentes e apelativas, daquelas de encher o ouvido, de ficar horas a fio a moer as suas melodias vitaminadas por qualquer substância alucinogénica. São exemplo disso «Movin On», «Let Me Down», «Human Soul». «Wanna Dance» é, de todas, a mais irresistível e «Berlin» leva-nos a um qualquer cabaret, em caves escuras e profundas da Alemanha nazi. Os Femme Fatale são, verdadeiramente, uma revelação e das boas!


Sítios: MySpace




Pedro Xavier

sábado, 7 de junho de 2008

Duffy


Confesse-se, os primeiros sinais não foram os mais auspiciosos. Catalogada por diversos meios jornalísticos como mais uma nova Winehouse, Duffy assemelhava-se a um pedido de ajuda de uma alma pobre. No entanto, a jovem Galesa possui algo que Amy não tem e de que se pode orgulhar: o primeiro singleMercy’, resultado de uma alma pastiche dada pela sua exuberante voz nórdica.

O seu ritmo, que nos leva a levantar o pé do chão, é ligeiramente enganador uma vez que o disco, Rockferry, é preenchido por baladas soul. Duffy conseguiu organizar um álbum repleto de sinfonias pop, com um estilo e glamour que faz lembrar a música dos anos 60, percorrendo toda uma gama, do lounge (‘Hanging on too long’, ‘Stepping Stone’), ao mais rico e melodramático pop (‘Distant Dreamer’, ‘Warwick Avenue’, ‘Rockferry’). O que a Rockferry falta de original – é um exercício de replicação e não de inovação – é compensado pela boa maneira de fazer música, cujo primeiro e fundamental passo é dar atenção às letras.

Como convém a um disco que começa com ‘Rockferry’, um triste e perturbante relato sobre seguir em frente, e termina com ‘Distant Dreamer’, uma música em tons de épico que deixa em aberto tudo o que Duffy quer fazer com a sua vida. Rockferry, o disco, é uma jornada musical ao mesmo tempo triste e emocionante, a primeira assinatura do talento musical de Duffy.

Sítios: Oficial, AllMusic, MySpace




Pedro Xavier

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Cat Power (2)

Mesmo a propósito, foi a 26 de Maio, 2ª feira passada, que Cat Power se apresentou no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para dar a conhecer ao público português o seu mais recente disco Jukebox. Diz quem lá esteve, inclusive os repórteres dos sítios Diário Digital, Cotonete e Blitz, que foi um concerto memorável.

Com imagens do filme My Blueberry Nights, de Wong Kar Wai, filme ao qual Cat Power dá voz em duas músicas, aqui fica The Greatest.



Pedro Xavier

domingo, 25 de maio de 2008

Cat Power

Charilyn “Chan” Marshall, mais conhecida como Cat Power, anda há já tanto tempo pelo mundo do indie rock (desde 1995) que já é considerada uma favorita, uma representante do meio com um indelével talento que já não pode ser posto em causa. Mesmo quando compila um disco repleto de covers. A diferença reside no estilo reciclado, refrescante e revigorado que lhes dá, tornando-as suas as músicas de outros. Para introdução, com um ritmo de blues, apresenta-nos “New York”, uma versão repleta de explosivos drums acompanhados por uma guitarra atrevida.

A sua delicada voz flutua aparentemente sem rumo nem sentido por um percurso lânguido, criando um ambiente negro, iluminado por um ritmo etéreo que, na verdade, não pode ser descrito por palavras. É por isso que, onde tantos outros falharam na adopção musical de grandes clássicos, Cat Power consegue dar-lhes um novo tom. Os tons sombrios e cinzentos que preenchem “Ramblin’ (Wo)man” tornam a segunda música de Jukebox um aconchegante estado de falta de ecstasy e consciência, uma viagem pela sinuosa auto-estrada dos blues que tem como destino a realidade mística da sua voz melancólica.


Ao se olhar para as 12 faixas que perfazem Jukebox, encontramos uma diversidade de artistas que Marshall escolheu para prestar homenagem. Ao seu próprio jeito, vai ao clássico R&B de George Jackson e James Brown, aos blues de Jessie Mae Hemphill, ao jazz de Billie Holliday, ao folk/rock de Dylan e Joni Mitchell, etc. Por esta viagem à América o álbum dá seguimento até finalizar com Blue, uma música que caracteriza Jukebox na perfeição: a quintessência dos discos a tocar quando a noite vai longa, mais precisamente naquele momento em que o mundo ainda dorme, a noite finaliza e se espera o raiar do dia.

Sítios: AllMusic, MySpace





Pedro Xavier

sábado, 17 de maio de 2008

My Blueberry Nights - Music From the Motion Picture

Foi no festival de Cannes do ano passado que o realizador chinês Wong Kar Wai apresentou a sua primeira longa-metragem totalmente rodada em solo norte-americano, My Blueberry Nights. Curiosamente, o filme nomeado para a Palma de Ouro (já anteriormente In the Mood for Love (2000) e 2046 (2004) tinham sido nomeados), estreou nas salas portuguesas, quase um ano depois, a 1 de Maio, sob o título O Sabor do Amor, contando com os actores Jude Law, Rachel Weisz, David Strathairn e Natalie Portman como estrelas de cartaz. O efeito de acção/reacção que a tradução do título possa ter causado nalgumas expectativas ansiosas de uma comédia romântica não pode ser dimensionado. Quem já conhecia a obra do autor (principalmente os dois filmes atrás mencionados) teria certamente uma ideia do que iria encontrar, ao invés do que os cartazes do filme faziam prometer. (Quase) sem surpresas para alguns, decepcionante para outros.

A verdadeira surpresa residia na atribuição do papel principal à cantora vencedora de inúmeros Grammy Norah Jones. Independentemente de se ter gostado ou não do filme, há um elemento surpreendente e agradável na escolha das músicas que preenchem os espaços da obra. Norah Jones dá também ao filme uma nova música, o tema principal, “The Story”. Piano, basses & drums, dão-lhe um toque definitivamente cool e relaxante o suficiente para que entre directamente para uma lista de músicas chill out. Uma outra artista a se ter em atenção é a cantora e escritora de músicas norte-americana Charilyn “Chan” Marshall, mais conhecida como Cat Power. A sua voz sensual em “Living Proof” e “The Greastest” são um complemento excelente à voz de Norah Jones.

Ao longo do disco podemos também encontrar um tema da cantora de R&B Ruth Brown (“Looking Back”), de Amos Lee (“Skipping the Stone”) e da cantora de jazz Cassandra Wilson (“Harvest Moon”) que, no filme, é o tema das histórias amorosas entrecruzadas de David Strathairn, Rachel Weisz, Jude Law e Natalie Portman.

Tal como uma assinatura, My Blueberry NightsMusic From the Motion Picture entrará para história cinematográfica como uma das mais expressivas selecções musicais num filme de autor.

5/5

Pedro Xavier

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Ladytron

Descobrir um ponto médio entre o mundo da música electrónica e o mundo do rock torna-se numa tarefa fácil quando falamos dos Ladytron. Após três anos de interregno pontuado por datas de tournées (e algumas férias), o quarteto de Liverpool está de volta à música com o seu mais recente disco, Velocifero, o quarto gravado em estúdio desde 2001. Velocifero facilmente transcende o que é comum e confina no mesmo espaço o electro-pop com uma interpretação (dos Ladytron) de uma alma distorcida. Numa labiríntica mistura de ritmos e efeitos digitais, as duas vozes de Hellen Marnie e Mira Aroyo navegam por um caminho diverso, mas coeso, que nos levará indubitavelmente à pista de dança.

A primeira música lançada no sítio dos Ladytron, Black Cat, requer alguma paciência. Durante 2 minutos, Mira canta em Búlgaro (inicialmente era para ter sido em Francês), numa hipnótica sinfonia de batidas que acabam por se tornar maçadoras. Apesar deste início desastroso, as músicas que se seguem, principalmente, Ghots, Runaway, The Lovers, Deep Blue e Versus, são aquelas que, apesar de seguirem o caminho mais mainstream iniciado em Witching Hour (2005), não nos fazem esquecer a origem indie que molda os Ladytron.

Sítios: Oficial, AllMusic, MySpace

4/5

Pedro Xavier

terça-feira, 15 de abril de 2008

David Fonseca live @ Coliseu (parte III de III)

«Nunca percebi muito bem o conceito de inspiração. No dicionário aparecem algumas explicações, explicam a inspiração como uma sugestão, um entusiasmo criador ou uma insuflação divina. Mas o que inspira uma canção? De onde vem todo este som? Há quem diga que vem da raiva, da desilusão, do descontentamento, da revolta, há quem diga que vem do amor, do encantamento, do êxtase, da felicidade, do sexo, da fantasia, do inesperado, da surpresa, do choque, da calma. Eu acredito que a inspiração é uma das maiores mentiras da arte: não existe. O que existe é um mundo cheio de pessoas e coisas em constante mutação. Os meus olhos fixam aquilo que parece ser mais importante e depois tento concentrar esses pequenos retratos em canções. Gravo-as em mini cassetes onde quer que esteja e mais tarde, tento perceber as harmonias e melodias entre o ruído de fundo. De onde vem todo este som?» – David Fonseca

É já conhecendo o background do cantor pelos dois posts anteriores que chegamos finalmente ao dia do grande concerto, uma data que certamente nunca será esquecida pelos que estiveram na noite de 12 de Abril de 2008 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Além disso, o cantor prepara o lançamento do concerto em formato DVD. A sala de Lisboa surge como o ponto alto da “Dreams in Colour Tour” que, tendo por base o último disco, já antes tinha passado pelas lojas FNAC e muitos cineteatros de todo o país.


Para abrir o concerto, actuou a pianista da banda de David Fonseca, Rita Pereira, sob o fantasioso nome artístico de Rita Redshoes [ler mais]. Não fugindo à regra, Rita tem realizado sempre as primeiras partes na “Dreams in Colour Tour”, aproveitando para dar a conhecer o seu primeiro álbum a solo “Golden Era”, editado este ano. Rita apresenta-se sempre de sapatos vermelhos, a contrastar com o vestido negro que habitualmente enverga. Não foi de negro, mas de um branco refrescante e luminoso, iluminando com a sua voz a sala já escura do Coliseu. Encantaram o público ‘Choose Love’, ‘Hey Tom’, ‘Your Waltz’ e a já badalada ‘Dream on Girl’. Influenciada pela música de David, Rita Redshoes está a tornar-se numa artista que pretende fugir à monotonia, apostando no uso de novos elementos sonoros para a criação de música. Despede-se do público com um «Até já», sinónimo de quem irá mais tarde satisfazer a vontade do público com um dueto em ‘Hold Still’, o mais conhecido single do álbum “Our Hearts Will Beat As One”, o segundo de David Fonseca a solo.


«Estamos a preparar um espectáculo muito específico para este dia. (...) Temos surpresas em grande para as pessoas que vão estar a assistir. (...) A ideia é (...) que possa ser não só um espectáculo sonoro mas visual (...) e que possa trazer algumas coisas inesperadas, mas que fazem parte da minha carreira e da minha forma de ver a música e de estar na música» - David Fonseca


Já por esta altura a sala nobre de Lisboa estava “quentinha” e ansiava-se pela entrada do mestre-de-cerimónias. O concerto começou com a projecção de um pequeno filme auto-biográfico, o primeiro de outros que lhe seguiriam, à semelhança dos webisódios. E é aqui que entra a inspiração da quote inicial do webisódio 2. Não há qualquer outro cantor deste pequeno rectângulo luso que faça e/ou tenha feito um espectáculo do mesmo género que foi apresentado na noite de 12 de Abril. David recorreu a diversos elementos cénicos para organizar o seu show: os tais pequenos filmes, stand-up comedy (para surpresa de muitos), reconversão (paródia) de pop hits contemporâneos e ainda uma introdução de mariachis. Consequentemente, os alicerces que sustentam a noção/ideia/estereótipo de concerto foram completamente abalados (senão mesmo abolidos). Não foi um «desfilar de canções», foram actos, como se de uma peça de teatro se tratasse. Daí que o que se assistiu não foi um concerto, foi um espectáculo, com princípio, meio e fim, e o público sempre a pedir mais.


Foram os tais mariachis que arrancaram pelo palco dentro e abriram as hostilidades com ‘4th Chance’, o título inicial de “Dreams in Colour”. Seguiram-se ‘Our Hearts Will Beat as One’, ‘Song to the Siren’, de Tim Buckley, e todas as outras que David já nos habituou, de entre elas, ‘Kiss Me, Oh Kiss Me’ sentado em cima do piano de Rita Pereira (agora era Pereira, Redshoes tinha ficado nos bastidores), ‘Superstars II’ (todo Coliseu assobiou a melodia) e ‘Silent Void’. Nesta última, David rodopiou na placa giratória no chão enquanto cantava pelo megafone que segurava, para júbilo do público.


Os pontos altos do show David Fonseca incidiram sobre três músicas de destaque: primeira, como não podia deixar de ser, no dueto em ‘Hold Still David sentou-se de costas voltadas para Rita e, antes de passarem as imagens de uma Londres triste e melancólica nos grandes ecrãs, pediu «cantem se souberem a letra». Não era preciso pedir, esta era daquelas que deitaria a casa abaixo; na segunda, ‘This Raging Light’, David virado para o público e destacado por um holofote concentrava as atenções do público em si, escondendo atrás do pano negro uma mudança radical no palco. Quando a batida da música se intensificou revelaram-se bolas espelhadas e dançarinos, estilo ‘Hung Up’ de Madonna; terceiro, foi ‘The 80’s’, intercalada pela ‘Video Killed the Radio Stars’, dos Buggles, que fez libertar a (restante) energia contida nos espectadores.


Não vale a pena falar das outras todas, todas eram conhecidas. Vale é a pena referir o medley, acompanhado por um pequeno órgão, de temas tão conhecidos, que David quando segue em viagem considera extremamente depressivos e tristes, quando atenta apenas à letra e não ao ritmo pop e colorido que lhes dá cor. Foram exemplo da paródia ‘Toxic’ (Britney Spears), ‘Maneater (Nelly Furtado) ou ‘Umbrella’ (Rihanna).


Houve ainda direito a um tema novo (‘Orange Tree’), a outro antigo (‘Angel Song’, dos Silence 4 – nesta altura David calou-se, cantou apenas o público) e ainda a podermos viajar pelos sonhos coloridos de David, quando este se deita numa cama para dormir e, ao acordar, todos os elementos da banda estão vestidos com fatiotas carnavalescas para apresentar os temas finais ‘Dreams in Colour’ e ‘A Little Respect’, que deu origem a um adeus (que tal um «até já»?) acompanhado por uma chuva de vermelhos corações de papel. Não foi um concerto, foi mesmo um espectáculo inspirado e sem igual.


Pedro Xavier


segunda-feira, 14 de abril de 2008

David Fonseca live @ Coliseu (parte II de III)

“Sempre que acabo um disco, há uma sensação estranha, vejo-o nas minhas mãos, observo-o ao pormenor, olho-o de todos os ângulos possíveis, assalta-me sempre a mesma sensação, dou por mim a dizer sempre a mesma frase: como é possível condensar tanto tempo, as semanas e meses de procura, as frustrações e as vitórias, os acontecimentos mais estranhos, as histórias mais impressionantes, tudo aqui? O disco chega às minhas mãos, pronto para ocupar um espaço, para acrescentar mais uma página àquilo que sou. E pela primeira vez, ouço-o como se não fosse meu, levo-o para longe do sítio que o viu nascer, levo-o a ver o mundo, e eu verei o mundo através dele.” – David Fonseca


Falar hoje em David Fonseca é falar em alguém com uma carreira musical que se afirma por si só. Por detrás da imagem de rapaz tímido das canções melancólicas e introspectivas dos tempos dos Silence 4, há um novo artista, agora numa fase musical mais colorida. “Silence Becomes It” e “Only Pain is Real” foram os discos editados pela banda de Leiria [David Fonseca na voz e guitarra, Sofia Lisboa na voz, Rui Costa no baixo e Tozé Pedrosa na bateria]. O primeiro tem dez anos, o segundo tem oito e em 2004 ainda foi lançado uma colectânea (2CD+DVD) dos espectáculos gravados ao vivo no Coliseu dos Recreios. A banda atingiu rapidamente o estrelato com os singlesBorrow’, ‘A Little Respect’, ‘My Friends’ e ‘Sing Me Something New’, tendo chegado ao ponto de ter sido convidada a actuar em vários locais na Europa.


Mas a banda não estava destinada, o estilo introspectivo, repleto de densidades negras e ambientes crus, não era algo que apelasse a uma continuação. O disco “Only Pain is Real”, comparado com o primeiro, foi uma completa desilusão, aproveitando-se uma ou duas músicas. Sentia-se que a formiga tinha dado um passo maior que a sua passada. Daí que David, o autor das letras e compositor, tenha naturalmente decidido abandonar o projecto da banda de Leiria e tomar um rumo a solo. O primeiro fruto desta nova aventura chamar-se-ia “Sing Me Something New” (2003) – atingiu o disco de ouro – e tinha como principais chamarizes os temas ‘Someone that Cannot Love’ e, o tema de campanha da Vodafone, ‘The 80’s’.


Foi após ter participado no projecto dos Humanos, em 2004, que em 2005 lançou “Our Hearts Will Beat as One”, composto por doze temas, um dois quais em português. A nova banda de David Fonseca era agora composta por Sérgio Nascimento na bateria, pelo guitarrista Ricardo Fel e pela pianista ex-Atomic Bees Rita Pereira (viria a tornar-se Rita Redshoes), entre outros. Tal como afirma o cantor, o seu segundo trabalho foi «assustadoramente pessoal». Bem o podem dizer as canções ‘Who Are U?’ e ‘Hold Still’, esta última em dueto com Rita Redshoes. Inicialmente era uma música sobre o que seria a solidão nas grandes cidades, acabando por se tornar simplesmente numa canção sobre a solidão.


Voltando ao início, a quote é retirada do webisódio 6 e o disco que David não o ouve como se fosse seu, é aquele que já foi apresentado por todo o país e sábado, 12 de Abril, arrebatou Lisboa num concerto que se pode chamar, no mínimo, de memorável. “Dreams in Colour” é dos três discos do cantor o mais colorido, «positivo» e «luminoso». Daí que em Setembro, no final do Verão, tenha posto todas as rádios a assobiar o primeiro singleSuperstars II’ - dois meses antes já a comunidade de fãs sabia da existência do vídeo e cantarolava em privado. O disco conta ainda com temas tão diversos e importantes como ‘4th Chance’ (que aproveita as trompetes de um bando de mariachis), ‘Kiss Me Oh Kiss Me’ (o tema do momento), ‘This Wind, Temptation’ (o tema mais negro do disco) e uma cover do êxito de Elton JohnRocket Man’. David Fonseca afirma que a música não é um tema fácil e chamou-lhe a atenção por apontar «uma segunda vida, um segundo plano» no verso «I’m not the man you think I am at home». Para além do polémico vídeo do travesti (que afinal até foi bem aceite), David consegue manter-se em todas as linhas da frente, quer com temas de sucesso em rádios comerciais, quer com os outros em rádios alternativas.


A diferença deste último disco para os anteriores está na nova musicalidade e nas facetas de inovação estética que o caracterizam. De música para música, novos ritmos, novos sons e novas tendências. ‘Silent Void’ e ‘This Raging Light’ põem de lado as baladas de guitarra acústica na mão predominantes nos discos anteriores, conseguindo pôr a dançar e surpreender quem pensava não estar perante o maior artista português contemporâneo.


(fim da parte II)


Entrevistas: South By Southwest, Sobre P.T. Anderson;


Coliseu: Preparação, Ao Vivo (Silent Void + Kiss Me, Oh Kiss Me);


Pedro Xavier


David Fonseca live @ Coliseu (parte I de III)

“De todos os mistérios que diariamente me são colocados, o mais constante e persistente é só um: o que vou fazer a 12 de Abril de 2008? Podia jogar à bola, andar de baloiço, conduzir, blogar, dormir; podia comer uma banana ou um gelado ou uma bolacha; podia empilhar lenha ou olhar para o céu vazio, mas não. De todos os dias do ano, este é um dia especial. Uma das salas mais bonitas do nosso país, as histórias e as canções da minha viagem pessoal, uma explosão dos meus sonhos a cores e ao vivo. Como se fosse a primeira vez. Tudo, todos, ao mesmo tempo e de uma vez só, como nunca antes visto. É isso que vou fazer no Coliseu de Lisboa, dia 12 de Abril de 2008. E tu?” – David Fonseca


Foi com esta premissa retirada do webisódio (*) extra que David Fonseca deu a conhecer ao seu público a intenção de realizar, finalmente, no Coliseu de Lisboa, o seu primeiro concerto a solo (já lá tinha estado antes com os Silence 4 e com os Humanos). Não seria a primeira vez que David tinha este género de iniciativa. Decorria Julho de 2007 e David lançava pela web o primeiro de uma série de webisódios auto-biográficos (e realizados pelo mesmo) que, para além de dar a conhecer mais um pouco de si, tinham como intuito final tornarem-se num meio promocional gratuito (as visitas ao blogue e os comentários chegaram aos milhares).


Já aqui se notava a iniciativa de um cantor Português (o único?) em se adaptar e lutar contra, através de um meio gratuito e em conformidade com a rápida evolução das coisas que caracterizam este novo século, as circunstâncias auto-destrutivas de uma indústria em queda livre. Como consequência, foi com naturalidade que no mesmo mês do webisódio 1 surgiu, em primeira mão, o vídeo de “Superstars II”, o single do terceiro disco do cantor: “Dreams in Colour” foi lançado 10 anos após a estreia em “Silence Becomes It”, o primeiro de originais dos “Silence 4”.


Foi a seguir esta política promocional que David ia conseguindo cativar (ainda mais) os fãs e aumentar as expectativas em torno de “Dreams in Colour”. De vídeo para vídeo, iam surgindo elementos novos, novas formas de pensar e de fazer música, até que finalmente foram começando a aparecer os primeiros acordes das novas canções. Tal como no blogue, o cantor prometeu muitas novidades para o concerto, de lotação esgotada, no Coliseu. Desde elementos cénicos a novos temas [Orange Tree], o espectáculo prometia ser inovador e totalmente diferente do que até agora tinha sido a concepção de concerto em Portugal (já lá iremos). David Fonseca adiantou ser um «espectáculo no seu todo» e não «um desfilar de canções» como muitos artistas fazem.


(fim da parte I)


* Definição de Nuno Markl para um episódio que é unicamente editado na Web.


Webisódios: 1 e 2, 3, 4 e 5, 6


Vídeos: Superstars, Rocketman, Dreams in Colour


Pedro Xavier


terça-feira, 1 de abril de 2008

O Disco Mais Esperado do Ano

Roads, Glory Box, Numb… Como se sabe, estas são as canções milagrosas dos Portishead. É um daqueles grupos que é impossível de caracterizar. “NYC Live” (1998) foi o último disco a ser editado. Dez anos depois, eis que chega “Third”, um disco capaz de pôr a dançar esqueletos num cemitério (mas quem disse que o grupo estava enterrado?). Às vezes é negro e frio, claustrofóbico e barulhento. Mas no final, é algo simplesmente admirável.

Dez anos! As primeiras três faixas do disco Silence, Hunter e Nylon Smile são progressivamente frias, completamente geladas. The Rip, a quarta, é ao jeito de balada acústica evoluindo e assumindo o ritmo electrónico que se vai apresentar para o resto do álbum. Já sentia saudades da voz de Beth Gibbons. Vamos esquecer “Out of Season” (2002), uma participação solo da cantora com Rustin Man. Já se sentia falta dos Portishead. Dez anos! Precursores do trip-hop, juntaram-se em Bristol em 1991: Geoff Barrow (que anteriormente tinha trabalhado com os Massive Attack), Adrian Utley e a vocalista Beth Gibbons. Dez anos sem perder aquela sua voz tão característica e inimitável.


Voltando ao alinhamento, Plastic e Small são as músicas tipo dor-de-cabeça (se é que isso alguma vez isso existiu antes dos Portishead). Que não seja mal interpretado, a dor de cabeça é voluntária. Mas não é com estas que “Third” é o disco mais aguardado do ano. We Carry On, combina elementos rock com o melhor da electrónica, algo que até faz lembrar os Joy Division. Machine Gun, a mais hardcore do disco é o primeiro single, é simplesmente a razão de como esta banda faz coisas completamente impressionantes.
Third” é um milagre, e os milagres vêm a seguir ao silêncio.


Link para o MySpace


5/5


Pedro Xavier


terça-feira, 18 de março de 2008

Shout Out Louds e Todos os Outros (ou como os grupos musicais se tornam conhecidos através da publicidade)

Este título não é o de um filme Português como o ‘O Fato Completo ou à Procura de Alberto’ de Inês de Medeiros. Simplesmente é uma situação que, no mundo musical pop contemporâneo, se está a tornar recorrente como via de promoção mais mediática de novas bandas de garagem ou grupos de música indie que pretendem dar o salto para uma label de maior nome (o que vai em oposição a toda a filosofia da música independente). De facto, a associação de uma imagem cool passada por marcas de roupa ou telemóveis a bandas musicais (que por vezes, só por si, é-lhes associada uma imagem completamente diferente) está-se a tornar um factor mais do que essencial para a divulgação de um nome ou de um estilo, que vai muito mais além do que os sítios da Internet conseguem fazer.


É por esse motivo que inúmeras bandas saíram dos seus círculos geográficos e além fronteiras conseguiram fazer-se ouvir, seguindo uma receita de sucesso por estas terras lusas: um hit que fica no ouvido e um produto virado para a modernidade – essencialmente telemóveis. Vem isto a propósito da recente ascensão do fenómeno ‘Shout Out Louds’, a mais recentemente conhecida banda Sueca. Caso a situação fosse outra, bandas como os ‘Mew’, ‘Jet’ ou ‘Bloc Party’ continuariam fora do conhecimento da maioria das pessoas? A verdade é a de que esta situação pode ser uma faca de dois gumes. A maioria dessas bandas, depois de produzir um único êxito comercial, regressou ao seu habitat fora do foco pouco natural dos holofotes da fama tendo, então, de viver sob uma promessa de um reconhecimento impossível.




Outros vídeos: The Veils – Leaver’s Dance; Mew – Comforting Sounds; Bloc Party – Banquet;


Links para o MySpace de: Shout Out Louds, Jet, Bloc Party, The Dandy Warhols, Mew, Peter, Bjorn & John, The Veils.


Pedro Xavier

segunda-feira, 17 de março de 2008

Rita Redshoes

Se nos perguntarem, …como se chama a rapariga dos sapatos vermelhos? Certamente diremos que se chama Dorothy. Se a ouvirmos a cantar não diremos que é o tema “Over the Rainbow”. Se nos perguntarem, …afinal, quem é ela? Bom, a resposta é tanto mais simples como as evidências podem fazer crer: ela representa a inovação, o avanço e a modernidade. Não se fala mais de cinema, fala-se de música. Mas de música Portuguesa, de sentimentos cá deste pequeno pedaço de terra, da terra de navegadores e poetas. Embora seja a terra de Camões, aqui ouve-se na língua de Shakespeare. Não, não é defeito, é feitio.

Foi numa manhã de nevoeiro que tomei conhecimento do que aqui se fala. Não foi nenhum prenúncio, foram só as notícias da manhã e logo fiquei intrigado sobre quem seria tal personagem retirada de um mundo de fantasia de bruxas, leões, espantalhos e homens de lata. Redshoes é o seu nome artístico e, em 2007, foi considerada uma revelação quando foi convidada a entrar na colectânea musical ‘Novos Talentos Fnac 2007’. Se veio de um sítio fantástico, tem passado despercebida? A trama adensa-se…

Rita Pereira, a antiga vocalista, baixista e baterista dos ‘Atomic Bees’, acompanhou David Fonseca na tournée de lançamento do segundo disco de originais “Our Heart Will Beat as One” como teclista e pianista. Num dueto com o músico, deu a voz numa das mais conhecidas do disco, a canção ‘Hold StillHold Still’. Passados dois anos, David Fonseca lançou ‘Dreams in Colour’, e Rita passou a dar os primeiros passos a solo, fazendo as primeiras partes dos concertos, prescindindo do apelido, adoptando o artístico. Acabou por lançar a sua primeira colectânea de originais ‘Golden Era’, do qual constam os singles ‘Dream on Girl’ [vídeo abaixo] e ‘Hey Tom’. Numa entrevista, a cantora afirmou «Os dois singles que já estão cá fora dão um bocadinho a imagem (...) do que o disco pode ser. Eu acho que há coisas mais do universo do 'Dream On Girl' (...) e há outras que têm a ver com o 'Hey Tom'. São canções pop alternativo, com um lado de banda sonora de filmes». Voltámos aos filmes?

Neste caso, não foi o Homem de Lata quem ajudou Rita a calçar os seus Redshoes, foi David Fonseca. As semelhanças e influências não podem ser mais evidentes, como se o par se complementasse e a sua música se fundisse num único fluxo artístico, apenas diferenciado pela musicalidade da voz de cada um. Agora, segue o seu próprio caminho, sozinha, percorrendo o país de norte a sul. Uma coisa é certa, já se mostra, e ainda bem.

Link para o MySpace e Blog de Rita Redshoes.

Link para o vídeo 'Hold Still', com David Fonseca.



Pedro Xavier


sábado, 15 de março de 2008

Shout Out Louds

Hot Swedish band” é como a revista Rolling Stone apelida a banda sueca ‘Shout Out Louds’, e não é para menos. A banda sensação do momento passou a ser conhecida pela música que deu voz à nova campanha da rede de telemóveis Optimus e que é caracterizada pela voz do vocalista Adam Olenius, muito semelhante à do vocalista dos ‘The Cure’ Robert Smith. Por agora podemos contentar-nos com apenas alguns singles da banda, enquanto se espera pelo lançamento de ‘Our It Wills’, o segundo disco de originais, que os trará à Aula Magna a 26 de Março.

Link para o MySpace dos 'Shout Out Louds'.



Pedro Xavier

sexta-feira, 7 de março de 2008

Dois discos, duas sonoridades

Róisín Murphy
"Overpowered"

Overpowered’ é uma gema em bruto de 11 músicas que parece fazer esquecer o grande hitSing it Back”. Esta é uma afirmação dura e crua. Mas por essa altura ainda era ‘Moloko’ e agora, volvidos treze anos desde o lançamento de ‘Do You Like My Tight Sweater?’ temos Róisín Murphy, a solo, apaixonada pelo rumo pop que tem vindo a traçar. Já não se ouvem as músicas alternativas que caracterizavam os primeiros discos da banda, ‘Butterfly 747, ‘Pure Pleasure Seeker’, ‘Indigo’, ‘Absent Minded Friends, ‘Remain the Same’, e todas as outras que nos levavam a viajar por ambientes ao estilo de David Lynch, numa mistura de sonoridades epilépticas em orgasmos de cultura anti-Mtv e pastilhas com sabor a tutti-frutti.

E quanto mais os ‘Molokocresciam e evoluíam com o passar da década a acompanhar as novas tendências, melhor produziam a sua música, que culminou com ‘Statues, um incompreendido dance disco que fez sair a voz de Róisín dos headphones de alguns para as pistas de dança de todo o mundo com ‘Forever More’. Quanto mais nos deixamos levar pela luxúria dos ritmos do dance-pop, cada vez mais achamos que é o dia de sorte da música pop. São exemplos ‘You Know Me Better’ e ‘Movie Star’, cujas batidas sensuais e efervescentes nos levam à gloriosa penitência de não estarmos sozinhos no fim do mundo.

A balada final ‘Scarlet Ribbons’ finaliza o caminho feliz que Róisín tem vindo a traçar (já está no fim?) e pomo-nos a pensar que, desde o ‘Ray of Light’ de Madonna, não tem havido qualquer outro disco dance-pop tão maduro. Sim, é mesmo bom!

Nota: samples podem ser ouvidas
aqui

5/5

"Juno OST"

Uma compilação arrebatadora, seja banda sonora de um filme ou não, tem de seguir um protocolo estrito: deve ser feita com especial cuidado, música a música, de maneira a revelar algo novo e maravilhoso. ‘Juno’ – a banda sonora – tanto acompanha o filme nas suas peripécias e estados de espírito, nunca se tornando num acréscimo desnecessário ao desenrolar da história, como, individualmente, é um óptimo disco.

Temos uma colecção repleta de música indie que reúne os ‘Sonic Youth’ (‘Superstar’), ‘Belle & Sebastian’ (‘Expectations’ e ‘Piazza, New York Catcher’) e os ‘The Velvet Underground’ (‘I’m Sticking with You’) – que contém rimas como “I’m sticking with you/’Cos I’m made out of glue”.

No entanto, há duas músicas que se destacam: ‘Sea of Love’ (‘Cat Power’) e ‘Anyone Else But You’ (‘The Moldy Peaches’). A primeira surge num momento dramático do filme; a segunda, é o tema que o encerra e é cantado num cover pelas duas personagens principais.

Sem querer individualizar cada uma das músicas, pode-se gostar ou não de ‘Juno’, o filme. No entanto, esta banda sonora é uma compilação de músicas de amigos, para amigos, e é isso que mais importa.

Nota: samples podem ser ouvidas em
aqui

5/5

Pedro Xavier