quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Tropa de Elite

Missão dada é missão cumprida” – Capitão Nascimento

A cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, é há muito tempo conhecida como uma cidade num precário equilíbrio à beira do caos. Uma cidade vibrante de música e de vida, é também uma das mais perigosas do mundo. A maioria da sua população vive num dos seus cerca de 70 guetos, também conhecidos como favelas, que são dominados por violentos gangs de droga e tráfico de armas.

Esses grupos fortemente armados entram diariamente em conflito com as forças policiais, muitas vezes fazendo dos habitantes da cidade vítimas apanhadas em fogo cruzado. Tendo a polícia de lidar com um financiamento precário, com a falta de equipamento e com o combate à corrupção interna, há uma maior facilidade dos gangs se tornarem reis e senhores das favelas, impedindo que a polícia circule à vontade. Face a esta lamentável situação, foi criada uma força paramilitar, o BOPE – Batalhão de Operações Policiais Especiais - encarregado de fazer a “limpeza” que a polícia não consegue fazer.

Escrito por Rodrigo Pimentel – um veterano do BOPE – “Tropa de Elite” é por vezes selvagem e chocante mas, em última análise, sobressai a crítica ao ciclo de violência que envolve o Rio. O filme foca-se no Capitão Nascimento (Wagner Moura), um capitão honesto e respeitado do BOPE. Já a prever o nascimento do seu primeiro filho, todos os dias se depara com o dilema moral de endireitar a sua vida e arranjar um sucessor digno para o seu perigoso cargo, de maneira a poder sair da Tropa. Isto leva-nos a uma intriga paralela ao fio condutor principal relacionada com dois polícias acabados de sair da academia, Neto e Matias. O problema está em encontrar as qualidades que possui num destes dois novatos, algo que parecem possuir apenas parcialmente.

Tropa de Elite” é um filme rápido e envolvente. Pode ser comparado ao “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles), mas agora toda a problemática social das favelas é vista através dos olhos daqueles que defendem a lei e tentam impor a ordem. É empregada uma estrutura narrativa semelhante, capitulada por episódios, e uma narração aparentemente objectiva (mas não o é) que mantém o ritmo do filme elevado. E, como em “Cidade de Deus”, o realizador José Padilha não se inibe de mostrar a triste realidade que caracteriza e envolve polícias e criminosos: a cumplicidade.

Em “Tropa de Elite” é ilustrado um retrato da corrupção impregnada no sistema, que impede o bom funcionamento da justiça. Cada comandante de divisão tem o seu próprio esquema, seja por recolha de dinheiros ilícitos em bares de strip ou pela venda de armas confiscadas aos guerrilheiros das favelas. No entanto, apesar do BOPE apenas proclamar que só quer oficiais incorruptos nas suas fileiras, o filme mostra-os a usar tácticas de tortura e homicídio para obter informações. Sendo as ruas controladas pelos gangs, a única maneira de combater a sua violência passará por empregar ainda mais violência. Mas o objectivo do filme não é esse, mas sim chamar a atenção para a situação impossível que a sociedade brasileira se depara diariamente.

“Tropa de Elite” ganhou recentemente o Urso de Ouro em Berlim mas tem, por outro lado, sofrido inúmeras críticas. A conceituada revista Variety chama-lhe uma “celebração de violência” para “delinquentes fascistas”. Críticas parecidas teve “A Clockwork Orange (Stanley Kubrick) na altura da sua estreia mas hoje é considerado uma obra-prima do cinema. Portanto, aparte qualquer capa de falsos moralismos, …

Missão cumprida?

8/10

Pedro Xavier

1 comentário:

Dennis Bergkamp disse...

É fantastico!

Sim é brutal, sim é chocante, sim é uma chapada bem estrondosa na cara, mas ao mesmo tempo é o mais verdadeiro possivel.

E o pior é que esse retrato acaba por não ser só das favelas do Rio, é um pouco por todo mundo, com as devidas proporções, adequando as realidades mas .. passa-se um pouco por todo mundo.

Forças da lei curruptas, forças da lei que tentam fazer o seu trabalho mas não o conseguem porque o "sistema" está sempre a por ca fora os lobos maus.

Muito muito bom. Obrigatório ver!

E estar no carnaval em Torres e começar a ouvir na rua "rapappapparpapapapa pa" é priceless!