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terça-feira, 15 de julho de 2008

Melinda and Melinda - Melinda e Melinda (2004)

Vamos esquecer que estamos em 2008, vamos esquecer que Vicky Cristina Barcelona é o mais recente filme de Woody Allen; esquecer que em 2005 nunca houve aquela obra-prima chamada Match Point; esquecer a trágica história dos dois irmãos em Cassandra’s Dream; esquecer todas as formas de simbolismo e iconografia das tragicomédias inerentes à filmografia mais recente do realizador nova-iorquino. Regressemos, pois, a 2004.

De todos os filmes que Woody Allen apresentou neste século (excluindo Vicky Cristina Barcelona) Melinda e Melinda era o único que ainda me faltava visionar e, em abono da verdade, vontade de ver o filme não era muita. O arranque no novo século não foi o mais auspicioso. Foi visível a falta de inspiração do realizador na elaboração de novas ideias, apesar de nos terem sido apresentadas histórias que, partindo de uma ideia original, rapidamente caíram como obsoletas: uma sobre hipnotismo (The Curse of the Jade Scorpion), outra sobre um realizador cego (Hollywood Ending) e outra sobre tudo - ou sobre nada (Anything Else). É claro, estamos a falar de Woody Allen. Nenhuma das suas obras é realmente má, tudo depende de onde se coloca a fasquia.


Dois encenadores (Larry Pine e Wallace Shawn) estão sentados à volta de uma mesa, com amigos, a debater a temática tragédia versus comédia. Alguém dá uma sugestão de uma situação hipotética e cada encenador conta a sua versão da história, uma comédia de um lado e uma tragédia de outro. Cada uma das versões gira em torno de Melinda (Radha Mitchell), uma mulher problemática que, recém-chegada a Nova Iorque, interrompe um jantar de amigos. Na versão trágica, fica no loft do actor Lee (Jonny Lee Miller) e da amiga de longa data Laurel (Chloe Sevigny), apaixona-se por um pianista e acaba por se tornar vítima de um triângulo amoroso. Na versão cómica, vive num apartamento, vizinho ao da realizadora egocêntrica Susan (Amanda Peet) e do actor desempregado Hobie (Will Ferrell). Hobe apaixona-se por Melinda, mas o timing não é o melhor.



A fotografia do filme é da responsabilidade de Vilmos Zsigmond, que dá às duas versões da história diferentes tonalidades: na trágica predomina uma coloração baseada no dourado; na cómica são tons de vermelho. Pela arte de Zsigmnond torna-se perfeitamente claro qual das histórias se está a observar e, pela maestria de Allen, as duas fundem-se por vezes baralhando o espectador, ou avisando-o de que a comédia e a tragédia não são universos indissociáveis. Outro ponto forte do filme reside na interpretação de Radha Mitchell (Phone Booth, Finding Neverland). Mitchell é um camaleão, sobretudo devido à roupa e à maquilhagem, mas afirma uma sólida dicotomia da personagem percorrendo todo um universo de emoções, do desespero suicida à alegria desmesurada.

Melinda e Melinda é, sem qualquer margem de dúvida, o ponto alto da filmografia do realizador neste século (até ao ano da sua estreia) e, também, o ponto de ruptura com a produção norte-americana. São claros os sinais que Woody Allen faz passar para o exterior, distribuindo pedaços da sua persona pelas várias personagens do filme. Will Ferrell interpreta a personagem cómica da personalidade de Allen, assim como já o tinha feito Kenneth Branagh em Celebrity. O pianista por quem Melinda se apaixona é Chiwetel Ejiofor e representa a insatisfação de Allen face à falta de compreensão do público americano pelo seu trabalho, propondo mesmo a ideia de emigrar para Barcelona. Coincidência?

O resto é mais de Woody Allen, como vimos em Hannah e as Suas Irmãs, Crimes e Escapadelas, Annie Hall e Manhattan. Um adeus à cidade que viu crescer para fazer de outras sua obra.





Pedro Xavier

terça-feira, 17 de junho de 2008

Vicky Cristina Barcelona

“This guy goes to a psychiatrist and says, 'Doc, my brother's crazy. He thinks he's a chicken.' And the doctor says, 'Well, why don't you turn him in?' And the guy says, 'I would, but I need the eggs.' Well, I guess that's pretty much now how I feel about relationships. You know, they're totally irrational and crazy and absurd, but I guess we keep going through it, because... most of us need the eggs.”

—Woody Allen, Annie Hall


Já anteriormente tínhamos aqui antecipado o trailer do mais recente filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona. Agora apresentamos o poster. Diz-se que será o melhor filme do realizador nova-iorquino desde Match Point e que poderá dar a Penélope Cruz a segunda nomeação para o Oscar. Depois de aqui termos analisado Annie Hall e Cassandra’s Dream, 2008 é bem capaz de ser novamente o ano de Woody Allen.


Pedro Xavier

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Annie Hall (1979)

A jeito de continuação do post anterior, estava na cara que o próximo filme a ser revisitado para a review da semana seria Annie Hall.

É usual pensar em Annie Hall e em Manhattan como dois filmes em tudo quase semelhantes. Ambos têm como pano de fundo a cidade de Nova Iorque e são ambos sustentados pelos alicerces de pequenas intrigas amorosas que giram à volta de neuróticas e agridoces peripécias românticas, incidindo na aparente impossibilidade de encontrar o amor derradeiro. Ambos estrearam na década de 70 do século passado, respectivamente 1977 e 1979. Muito discutivelmente, este é considerado o período em que Woody Allen teve o seu maior pico de criatividade e originalidade.


Contudo, enquanto Manhattan é nas suas vísceras um filme sensual e contemplativo, é muito mais romântico do que cómico. Por outro lado, Annie Hall é assumidamente hilariante, com um gosto adocicado dado pelo romance entre Alvy Singer (Woody Allen) e Annie Hall (Diane Keaton). Estruturalmente, Annie Hall – o filme - lembra-nos um de Federico Fellini (Amarcord, 8 1/2) na sua qualidade mais autobiográfica, em tons característicos de comédia camuflada. A narrativa tão simetricamente pouco linear de Annie Hall discorre de acordo com os caprichos do narrador. Alvy Singer não é mais do que uma personalidade homónima de Allen que, à medida que a narrativa se desenvolve em forma de auto-crítica, se dá a conhecer – os 15 anos que Alvy passou em terapia revelam que é, entre outras coisas, paranóico, neurótico, possessivo e xenófobo em relação a qualquer coisa que não é Nova Iorquina – e nos conduz simpaticamente à fábula do seu romance.

A obsessão de Alvy na gradual deterioração da sua tão queria Nova Iorque e a crescente aversão à cultura (ou falta dela) da Califórnia, fornecem a base psicológica em que assenta este moderno conto de amor. Annie, como objecto de desejo de Alvy Singer, é uma figura tão incerta e desorganizada tal como como uma mistura de amor genuíno com loucura (ninguém diz la di da) que, no meio deste ambiente neurótico, não admira que necessite de fumar erva antes de ter sexo com alguém.


À medida que Allen nos dá a conhecer os romances falhados de Alvy, permite que haja uma intromissão de Singer no filme para comentar, sarcasticamente, as fraquezas daqueles que o rodeiam. Irrita-se particularmente com o falso intelectualismo que o rodeia. No entanto, assim como é duro consigo e com os outros, o seu criticismo não é nada condescendente.

É admirável que Allen consiga misturar todos estes honestos ingredientes num único filme e, ainda assim, torná-lo divertido. Não é de admirar que Annie Hall tenha vencido a tão cobiçada estatueta dourada (Woody não apareceu para a receber), no ano em que Star Wars revolucionou todo o conceito de entretenimento cinematográfico.





Pedro Xavier

terça-feira, 3 de junho de 2008

La di da

O site de cinema rottentomatoes, conhecido por ter uma base de dados gigantesca de críticas a filmes, organizou um top para as "20 Most Iconic New York Women". De entre todas as nomeadas destaca-se a vencedora, Annie Hall, a personagem criada por Woody Allen para o filme homónimo de 1977, interpretada por Diane Keaton.

No ano de 78, Annie Hall levava para casa os principais prémios da Academia - Melhor Filme, Melhor Realizador (Woody Allen), Melhor Actriz Principal (Diane Keaton), Melhor Argumento Original (Woody Allen e Marshall Brickman) e ainda a nomeação de Melhor Actor (Woody Allen).

Em baixo encontra-se a descrição (do site rottentomatoes) para vencedora e ainda um vídeo que reúne os melhores momentos de Annie.

"Like Holly Golightly, she floats, sometimes unmoored. Like Katie Morosky she's strong willed. Annie Hall is the unattainable fantasy. Part of what her boyfriend, Alvy Singer (Woody Allen), loves about her is that she's never totally given to him, and we don't really gain complete access to her either. She trumps the intellectually vainglorious Alvy(and he can be a pill) but outside of that skill set she's just a girl trying to figure herself out in a city big enough to swallow you if you're not careful. She's hard to pin down, harder to figure out, and like our other enigmatic New Yorkers, easy to see yourself in."



Pedro Xavier

domingo, 1 de junho de 2008

Cassandra's Dream - O Sonho de Cassandra (DVD)

O filme estreado a 10 de Janeiro deste ano não me podia deixar indiferente. Apesar de não o ter ido ver ao cinema, foi com alguma ansiedade que esperei o seu lançamento em DVD para finalmente o poder ver. Para além do mais, era um Woody Allen, um dos últimos grandes cineastas vivos.

Ian (Ewan McGregor) e Terry (Colin Farrell) são dois irmãos que, oriundos de uma modesta família de Londres, sonham em ter uma vida melhor. Enquanto Terry vive sob o peso dos vícios (apostas e bebida), Ian tenta levar uma vida de luxo em alta sociedade a partir do momento em que conhece Angela (Hayley Atwell). De maneira a resolver os seus problemas financeiros – Ian não consegue sustentar a sua ostensiva vida e Terry endividou-se num jogo de poker - recorrem à ajuda financeira do tio Howard (Tom Wilkinson), o exemplo familiar de sucesso constantemente citado nas conversas da mãe (para ódio do pai). Howard acede ao pedido mas com uma condição: quer que os rapazes assassinem um ex-colega de trabalho que, de convicção inabalável, pretende testemunhar contra ele pela sua falta de ética no seu negócio (cirurgias plásticas). Estupefactos pela proposta, os dois irmãos terão agora de lidar com o quanto realmente precisam do dinheiro.


Uma das características de Woody Allen, enquanto cineasta, é a sua meticulosa maneira de escrever. No entanto, o guião de Cassandra’s Dream pode ser considerado como um caso extraconjugal do realizador . São páginas seguidas de diálogos, em que a escolha de algumas palavras seria o suficiente. O objectivo de Allen não é escolher palavras valorosas mas sim, através delas, reproduzir um ambiente vertiginoso de confusão e relutância, numa abordagem semi-teatral que põe Ian e Terry em permanente diálogo, a debater todos os seus pequenos impulsos. Ewan e Colin são os violinos desta orquestra. Pode-se dizer que Colin Farrell apresenta-se no seu melhor, conseguindo convencer uma profunda angústia simplesmente por uma nervosa expressão facial. Com Ewan McGregor, no papel de eterno optimista, há uma interacção familiar espantosa entre os dois irmãos, por vezes fazendo brilhar a prosa de Allen.


A brilhar, mas à sombra do triunfo de 2005, o mórbido e violento Match Point (a meu ver, a sua última obra-prima), Woody Allen continua fascinado com a fraqueza humana em nome da sobrevivência individual. Tal como em Scoop, não deixa de dar duplos sentidos e referências icónicas aos elementos da sua obra. Não é por acaso que Cassandra é o nome do barco dos irmãos. À parte a origem mitológica, ser Cassandra nos tempos modernos é ser considerado modelo referente à tragédia, o arquétipo de uma personagem profética aterrorizada por uma obscura insanidade. O recheio do filme – a discussão ética que levará ao homicídio – não é mais do que um cânone clássico de uma tragédia grega, reproduzido por Allen com o intuito de revelar os aspectos mais negros da natureza humana. A interpretação de Colin Farrell não é mais do que a representação amoral de uma consciência pesada. Os pontos fortes do filme estão escondidos no processo de decisão do homicídio, no trauma psicológico e na escolha de uma saída de fuga à culpa.

Woody Allen é um génio na comédia, embora com uma ou outra costela com gosto pelo escuro e pelo macabro. Cassandra’s Dream não é o seu trabalho mais forte, mas oferece ao espectador uma atitude paranóica recheada de suspense.





Pedro Xavier

domingo, 18 de maio de 2008

Os filmes bons

Ainda relativamente a trailers, por outro lado chegam-nos as primeiras imagens do mais recente filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, que teve ontem a estreia mundial no Festival de Cannes. Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) são duas jovens americanas de férias na capital da Catalunha, com diferentes atitudes relativamente ao amor, que se vêm envolvidas num turbilhão de aventuras sexuais com o artista plástico Juan Antonio, interpretado por Javier Bardem, ainda sentimentalmente ligado à sua ex-mulher Maria Elena (Penélope Cruz).

Vicky Cristina Barcelona parece ser, pelas primeiras imagens, uma fusão do ambiente “cultural” de Woody Allen que vimos durante tanto tempo em Nova Iorque e, mais recentemente, em Londres, com a caracterização típica da vida citadina espanhola apresentada por Pedro Almodóvar. Apesar de Cassandra’s Dream não ter sido muito bem recebido, só por esta conjunção de factores, é de dar o benefício da dúvida. Para além do mais, é Woody Allen.




Pedro Xavier