segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Doomsday

Este filme de Neil Marshall (realizador e guionista do mesmo) assenta no pressuposto “a humanidade tem a sua data de validade”. Para um filme que não é mais que tudo aquilo que já toda a gente viu, Doomsday não cansa, nem é uma perda de tempo: pelo contrário, dentro de toda aquela “impossibilidade” em termos de argumento ou género, consegue prender-nos à cadeira, levando-nos a revisitar universos que tão bem conhecemos de toda a nossa cultura visual, sem que nunca os tenhamos imaginado juntos, num mesmo espaço e tempo fílmicos. A ideia do vírus letal que infecta milhões de pessoas e mata centenas, já está muito vista; no entanto, “in the land of the infected, the immune man is king” é um conceito poderoso. E Rhona Mitra é perfeita para o papel.

Doomsday é muito bom ao levar as personagens (especialmente Eden Sinclair e Sol) ao seu limite, explorando muito bem as forças antagónicas que os impedem, incessantemente, de atingir os seus objectivos.
O arco da história (negativo – positivo – negativo) está muitíssimo bem conseguido, demonstrando uma grande evolução na personagem principal (Eden) que, enquanto no início do filme é levada para fora da zona de quarentena (e para longe da sua mãe), no final opta por permanecer lá, como numa tentativa de alterar o rumo que a história dela levou.

Pontuado com um humor deliciosamente negro, a apresentação da personagem de Eden, muito visual, funciona na perfeição, fornecendo todos os dados necessários à compreensão das motivações e consequentes atitudes que vai tendo, e das opções que toma, facilitando não necessariamente uma simpatia instantânea pela personagem, mas, definitivamente, uma grande empatia. A energia do argumento é inesgotável (ou assim parece), as referências a filmes como Os Salteadores da Arca Perdida tornam-no numa pequena delícia para os mais aficcionados do cinema; em termos técnicos não tem grandes falhas e o ritmo da montagem está em conformidade com a acção. A capacidade de surpreender o espectador é inesgotável, sendo considerado por muitos um “roçar no ridículo”. Talvez seja disso mesmo que o filme vive, de outra forma não se poria a questão “se não fosse daquela maneira, será que funcionava?”

De notar, no entanto, o fraco trabalho de personagens secundárias, que não chegavam a trazer nada de novo ao mundo ali idealizado (não digo todas, mas, por exemplo, afinal quem eram todos aqueles que acompanharam Eden à zona de quarentena? Por que foram lá? Porquê eles e não outros?); talvez também o clímax e a resolução deixem um pouco a desejar, no sentido em que toda a história é construída com vista àquela acção final que, podendo deixar as coisas em aberto, não deixa nunca dúvidas em como as coisas não poderiam terminar doutra maneira.

De um modo geral, e para quem falhou a estreia aquando do festival de terror (Motelx), Doomsday é uma obra que deve ser vista e apreciada, livre de preconceitos.






Sara Toscano

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