terça-feira, 25 de novembro de 2008

E se as Mulheres Governassem o Mundo...

...todos os problemas seriam resolvidos com um abraço de grupo, certo? A banda desenhada Y: The Last Man tende a discordar. Escrito por Brian K. Vaughan e ilustrado por Pia Guerra, esta série da editora Vertigo conta a história de Yorick Brow, único sobrevivente duma praga que dizima num só dia todos os organismos possuidores do cromossoma Y.


Acabei de comprar os primeiros 3 Volumes da série de 12 e fiquei rendido ao storytelling, à intriga ética e social com temáticas pós-apocalípticas. O escritor consegue, com génio, transformar uma comum fantasia masculina numa saga de terror e suspense: ser o único homem num mundo de mulheres. Porém como Yorick vai descobrir ao percorrer as ruas apinhadas de corpos em decomposição dos seus parceiros genéticos, o mundo está à beira da anarquia. Com várias facções a tentarem controlar a espécie em vias de extinção, diversos tipos de governos insurgem-se num esforço para agir civilizadamente. Mas a dura realidade traz sempre o pior do ser humano e as fanáticas Amazonas, um grupo de mulheres que acredita que os impuros homens foram mortos pela Terra Mãe, toma controla da população em histeria. Um excelente estudo sobre a dúbia condição humana, quer ela seja a busca incessante do poder ou a necessidade espiritual de encontrar consolo no irracional.


Muitos grupos feministas contudo não gostaram do modo como as mulheres são representadas nesta obra, na forma como enfrentam as circunstâncias dum mundo governado por elas. Mas creio que se a situação fosse inversa e todas as mulheres tivessem morrido, demoraria apenas dez minutos para que os homens dominantes lançassem bombas nucleares uns aos outros, num glorioso barbecue explosivo. E a banda desenhada acabaria em 20 páginas. Este é realmente o melhor cenário.


Sem dúvida das melhores bandas desenhas de tempos recentes, um trabalho de ficção-cientifica simples no conceito mas eficiente na forma de narrar e ilustrar uma história tão sinistra em termos éticos. É de afirmar que uma das melhores obras cinematográficas deste ano não é um filme.

Nuno Soler

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