quarta-feira, 26 de novembro de 2008

London

Quando vi o conjunto de posts sobre Londres no blog da Wasted Blues, fiquei roído de inveja. Amanhã, concretiza-se um sonho. Roubo desavergonhadamente a imagem que me fascinou em London Calling IV e que me fez recordar o quão maravilhoso é o filme da Disney Peter Pan. Até breve.


Pedro Xavier

terça-feira, 25 de novembro de 2008

E se as Mulheres Governassem o Mundo...

...todos os problemas seriam resolvidos com um abraço de grupo, certo? A banda desenhada Y: The Last Man tende a discordar. Escrito por Brian K. Vaughan e ilustrado por Pia Guerra, esta série da editora Vertigo conta a história de Yorick Brow, único sobrevivente duma praga que dizima num só dia todos os organismos possuidores do cromossoma Y.


Acabei de comprar os primeiros 3 Volumes da série de 12 e fiquei rendido ao storytelling, à intriga ética e social com temáticas pós-apocalípticas. O escritor consegue, com génio, transformar uma comum fantasia masculina numa saga de terror e suspense: ser o único homem num mundo de mulheres. Porém como Yorick vai descobrir ao percorrer as ruas apinhadas de corpos em decomposição dos seus parceiros genéticos, o mundo está à beira da anarquia. Com várias facções a tentarem controlar a espécie em vias de extinção, diversos tipos de governos insurgem-se num esforço para agir civilizadamente. Mas a dura realidade traz sempre o pior do ser humano e as fanáticas Amazonas, um grupo de mulheres que acredita que os impuros homens foram mortos pela Terra Mãe, toma controla da população em histeria. Um excelente estudo sobre a dúbia condição humana, quer ela seja a busca incessante do poder ou a necessidade espiritual de encontrar consolo no irracional.


Muitos grupos feministas contudo não gostaram do modo como as mulheres são representadas nesta obra, na forma como enfrentam as circunstâncias dum mundo governado por elas. Mas creio que se a situação fosse inversa e todas as mulheres tivessem morrido, demoraria apenas dez minutos para que os homens dominantes lançassem bombas nucleares uns aos outros, num glorioso barbecue explosivo. E a banda desenhada acabaria em 20 páginas. Este é realmente o melhor cenário.


Sem dúvida das melhores bandas desenhas de tempos recentes, um trabalho de ficção-cientifica simples no conceito mas eficiente na forma de narrar e ilustrar uma história tão sinistra em termos éticos. É de afirmar que uma das melhores obras cinematográficas deste ano não é um filme.

Nuno Soler

Saw



Uma vénia a Leigh Whannell, que me proporcionou, nos últimos dois dias, algumas horas de um muito bom entretenimento, que dá pelo nome de Saw.

Num panorama que se começa a tornar repetitivo (os clichés do terror e do thriller), esta saga está divinalmente bem engendrada, todas as peças do puzzle vão colando, dando a entender que nada nos é dado ao acaso (fazendo assim juz ao nome dado ao serial killer, Jigsaw).

A premissa é simples: o homem que, devastado pelas vicissitudes da vida, se perde dele mesmo, passando o seu tempo a observar os outros à sua volta, acabando por achar que os salva se os puser à prova em jogos verdadeiramente perigosos e complexos, que se baseiam no poder de escolha (live or die); aqueles que decidirem passar pelo teste, caso sejam bem sucedidos, passarão a dar mais valor à sua vida.

Como se costuma dizer, "não há amor como o primeiro". Aplica-se perfeitamente a Saw, que pela originalidade e genialidade do argumento, constituiu uma novidade estrondosa. Os outros não deixam de ser muito razoáveis, mas não lhe chegam aos calcanhares.

A trama prende-nos de uma forma que, mesmo em cenas de extrema violência (tanto visual como psicológica), não conseguimos desligar de nada, com medo de perder algum elemento fundamental para a compreensão de tudo.

Todos os beats e turning points são fortíssimos, todos justificáveis e o factor-surpresa tem efeitos devastadores, servindo de turning point para o filme que se lhe segue (Saw II).

Para quem gosta de puzzles mentais e puxar pela cabeça, passem dois dias como eu passei: um cobertor, um sofá confortável e os Saw.




Sara Toscano

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Somewhere Over The Rainbow



Vejo algo sobre o Arco-Íris. Uma estrada de tijolos amarelos. Uma estrada que serpenteia com deliciosas oportunidades e visões. Vejo parceiros aventureiros, apaixonados pela mesma amante que me consume.

E tal como um cobarde sem cérebro e coração sou incapaz de balbuciar o mais simples dos obrigados.

Espero fazer-vos justiça e que demorem a ver o erro que foi ao convidar-me.

Enquanto isso desfrutarei da vista sobre o arco-íris.

Nuno Soler

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira Pelos Olhos de Fernando Meirelles



O recente Ensaio Sobre a Cegueira de Fernando Meirelles, baseado na obra homónima de José Saramago, é, ironicamente, um filme com uma visão diferente, fria, dura, quase cruel.
Quando digo "visão", refiro-me precisamente à forma do realizador desconstruir todo um código visual de planos aos quais estamos tão habituados.

Na verdade, faz todo o sentido. Quando um realizador faz um filme, coloca a câmara tendo em conta o olhar das personagens, as linhas de força, os eixos. Num diálogo, todos estamos habituados ao famoso campo/contracampo. Mas nada disto poderia ser feito num filme onde os personagens são cegos. Este seria, aparentemente, o maior dilema de Fernando Meirelles.

A fuga à escala clássica de planos, o desfoque e a saturação das cores frias foi, sem sombra de dúvida, a solução ideal para o problema dos pontos-de-vista. Para além do mais, enchem de significado o desenrolar do enredo e imprimem uma marca muito pessoal ao filme.

É um filme que vive da força das imagens. E é isso mesmo que faz de Fernando Meirelles um realizador fora de série (a capacidade extenuante de encher de sentimento todos aqueles planos, contando-nos uma história que vive essencialmente daquelas imagens tão fortes, tão vivas).

O Ensaio Sobre a Cegueira é uma obra de arte.




Sara Toscano

domingo, 16 de novembro de 2008

Quantum of Solace

Desenganem-se todos os que se acham estar perante mais um Jason Bourne ou qualquer outro super agente secreto do século XXI. James Bond é Daniel Craig e nunca uma outra pele lhe assentou tão bem. Acabaram-se os vilões megalómanos, sustentados por uma ambição impossível ou pelo mais requintado plano de dominação mundial. Os gadjets high-tech ficaram na gaveta e as miúdas do herói não são nada ocas de pensamentos ou vazias de personalidade. Brosnan deixou, não por culpa dele, a imagem de Bond em queda livre para o campo da fantasia, onde o famoso herói só poderia morrer noutro dia. Esse dia chegou em boa hora com Casino Royale (2006). Martin Campbell arrumou de vez com o de fogo-de-artifício ultimamente associado à imagem do famoso agente secreto e devolveu-lhe parte da mortalidade e carácter que se julgavam esquecidos nos romances. Fleming deve sorrir de contentamento, pois este Bond que agora surge novamente em Quantum of Solace é a adaptação mais fiel da personagem ao grande ecrã.

Bruto, duro, implacável e vingativo, é assim que Marc Forster nos apresenta James Bond no 22º filme da saga mas que, apesar deste facto, poderia muito bem ser o segundo. O realizador de Monster’s Ball – Depois do Ódio, Contado Ninguém Acredita e À Procura da Terra do Nunca, pegou na introdução à personagem feita em Casino Royale e, pela primeira vez na história do herói britânico, deu-lhe uma continuidade explicitamente evolutiva de um filme para o outro, não só no que toca ao tema deixado em aberto, mas também no que diz respeito à persona em conflito. As feridas demasiado profundas que Vesper (Eva Green) deixou marcaram o herói - lembremos “The job's done and the bitch is dead” – e, apesar de uma aparente busca de vingança, Bond procura na realidade uma paz interior, um estado de espírito mais descontraído e relaxado, o estado de Quantum of Solace. No romance, a teoria que Fleming pôs da boca do governador de Nassau não está explicitamente visível, mas é sempre traduzida nas cenas mais pausadas, quer por imagens, quer em diálogos chave.

É no argumento que também se sente alguma continuidade. Neal Purvis (Morre Noutro Dia, Casino Royale), Robert Wade (Morre Noutro Dia, Casino Royale) e Paul Haggis (Casino Royale, No Vale de Elah) juntaram-se novamente e do romance do escritor inglês adaptaram Quantum como sendo a organização encabeçada por Dominic Greene, o vilão interpretado por Mathieu Almalric (O Escafandro e a Borboleta). Quantum é uma entidade criminal infiltrada em todos os ramos económicos e sociais que bem faz lembrar a SPECTRE dos filmes de Connery e Moore (tal como M diz em Casino Royale, digo também: “I miss the Cold War”). Apesar da falta de charme, postura ou ambição maquiavélica que o vilão possa apresentar, Dominic Greene é um dos vilões contemporâneos mais humanizados (a frieza e a arrogância sobressaem e de que maneira!) desde que Brosnan aceitou o desafio de dar cara e corpo à personagem.

Se Bond vive, desde Casino Royale, em permanente conflito interno de sentimentos, então Dominic Greene é o arqui-inimigo perfeito para complementar o herói: não só trabalha a um nível emocional como é um vilão que suja as mãos, que não se limita a comandar de um posto mais elevado. A acompanhá-lo está Olga Kurylenko (Camille), uma mulher destroçada por um trauma de infância que procura uma sangrenta vingança pessoal e irá concretizá-la com ou sem a ajuda de Bond.

Apesar de Eva Green ter deixado o lugar de Bond girl disponível, deixou também uma impossível mas desafiante missão à próxima actriz a ocupar a sua posição. O legado de Martin Campbell era pesado e a solução da equipa de argumentistas (da qual Craig também fez parte mas não foi creditado) passou não por mostrar uma Bond girl em busca de aventuras nocturnas, mas uma tão traumatizada quanto Bond, apesar de estarem a níveis diferentes: ela a nível físico, ele a nível emocional. Por estar assim destroçado, Bond não entra em jogos de sedução muito elaborados com a agente Fields (Gemma Arterton) e na suite do hotel vai directamente ao assunto.

As consequentes cenas entre lençóis são completamente frias de emoção ou mesmo anti-românticas, no entanto, a introdução de mais uma personagem no enredo, apesar de secundária, é fundamental para a caracterização do estado psicológico do agente secreto. Tal como a agente Fields, as restantes personagens têm um papel fundamental. As caras conhecidas de Casino Royale estão de regresso mas de maneira mais dúbia e subtil: Felix Leiter (Jeffrey Wright), da CIA, tem de seguir ordens superiores, mesmo que essas vão contra aquilo que Bond pretende; Mathis (Giancarlo Giannini), sempre com classe, regressa para auxiliar Bond, após ter sido detido injustamente no final de Casino Royale; M (Judi Dench) é a chefe severa, austera e intransigente, no entanto desempenha o papel da figura materna que Bond nunca teve; e claro, para acabar, Mr. White (Jesper Christensen) a cara, até agora, mais importante da organização criminal.

Todas as personagens movem-se num pano de fundo actual e contemporâneo que dá forma ao enredo: a escassez do petróleo, o valor da água e a associação de governos a entidades criminosas são os principais focos de interesse.

Uma explosão de som num túnel em Itália remete-nos para a primeira perseguição do filme, sufocante e alucinante. Quando acaba vemos sair Daniel Craig, de olhar cansado (há quantos dias não dorme?) mas de missão cumprida. No porta-bagagem está Mr. White. Se até este ponto pensámos estar perante o James Bond numa vertente mais clássica, desenganem-se mais uma vez. Estão ausentes as cenas clássicas no casino, as engenhocas do Q (à excepção de Casino Royale, nunca antes tínhamos visto um Bond tão físico), a solteirona Miss Moneypenny, os temas de John Barry passam despercebidos (mas estão lá!) e quando Bond bebe não é de maneira suave, é para se embebedar.

O “novo” James Bond tortura adversários e mata-os sem piedade nem misericórdia e tem humor, apesar de não ser apagado pela violência extremamente visceral que o Craig impõe nas cenas. O seu olhar azul não podia ser mais frio do que alguma vez Fleming imaginou. Por ser assim, o argumento é conduzido por um caminho inteligente no que diz respeito à gestão pessoal da personagem. A morte de Mathis é uma metáfora para a quebra da única coisa que ainda o ligava a Vesper (ouve-se o seu tema) e se no início de Casino Royale Bond ganhou o duplo zero – ordem para matar – Daniel Craig leva a personagem, ao contrário de Kurylenko, a não seguir por essa via para conseguir vingança.

Só no final azedo e amargurado de Quantum of Solace temos realmente o James Bond que conhecemos primeiramente em Dr. No (1962). No entanto, Marc Forster não descurou os pequenos pormenores. Há piscadelas de olho aos fãs dos anteriores filmes: perseguições de barco, saltos de avião e uma homenagem explícita a Goldfinger (1964). Mais curto que o anterior, a duração do filme não se torna um problema e é mostrado tudo o que importa.

O realizador aprendeu bem as lições de Martin Campbell, conseguindo assim dosear de forma eficaz os momentos mais pausados e contemplativos e as frenéticas sequências de acção: a corrida pelos subterrâneos de Siena enquanto decorre uma corrida de cavalos à superfície e a fuga/perseguição durante a encenação da Tosca (Puccini) são das sequências mais belas do filme, numa montagem irrepreensível. O facilitismo de se comparar Bond a Bourne apenas pode ser justificado pelas corridas de Craig nos telhados de Siena. Também poderíamos ir buscar outros filmes para comparação, como por exemplo, Miami Vice (Michael Mann).


Quantum of Solace não é um filme tão forte como Casino Royale. Tenta dar continuidade ao seu sucesso (é o mais curto de todos os filmes da saga) e, muito resumidamente, é um filme sobre a vingança. Tal como Kurylenko diz no filme, “There's something horribly efficient about you."




Pedro Xavier